
O problema é que, como qualquer festa popular em agosto, alguém tem de pagar a banda, as luzes e os foguetes. E aqui não falamos de minis e bifanas, mas de centenas de milhões de euros em servidores e GPUs, que consomem energia como se fossem a iluminação de Natal da Baixa de Lisboa. Entre OpenAI, Anthropic, xAI de Elon Musk, Mistral AI, Perplexity e companhia, já se contam investimentos de dezenas de milhares de milhões de dólares. Os investidores, naturalmente, querem o seu quinhão.
Só que a matemática é cruel: a maioria dos utilizadores não paga nada. Uma minoria paga subscrições premium, mas isso está longe de cobrir a conta. Resultado? Começa agora a verdadeira fase de monetização criativa.
O “Preço Certo” da IA
Se no programa de Fernando Mendes o objetivo é adivinhar o valor certo sem estourar o orçamento, no mundo da IA a lógica é parecida, mas ao contrário: as respostas vêm com publicidade embutida para aumentar a conta. Elon Musk já anunciou que o Grok, chatbot da xAI, vai integrar “respostas patrocinadas” diretamente nas conversas. Andy Jassy, da Amazon, quer fazer o mesmo com a Alexa+, apontando o utilizador para produtos na Amazon.
Ou seja, pergunta-se “qual é a melhor receita para bacalhau à Brás?” e a resposta pode vir com um empurrãozinho para comprar uma frigideira de 60 euros.
O regresso do “disco-pedido” pago
Nos anos 80 e 90, havia quem mandasse dedicatórias à rádio, mas hoje o “pedido” é mais subtil. A Perplexity AI tem acordos com jornais como Le Monde e Time. A OpenAI já fechou parcerias com mais de 30 grupos de media, incluindo The Atlantic e Wall Street Journal.
O resultado? Esses conteúdos aparecem com mais destaque nas respostas da IA — e o utilizador fica convencido que foi mérito puro, não contrato assinado.
Traduzindo para Portugal: é como se perguntasse “quais são os melhores restaurantes em Lisboa?” e aparecessem sempre os mesmos — não porque sejam objetivamente os melhores, mas porque são “parceiros” da plataforma.
O modelo “leve já e pague depois”
A OpenAI quer integrar compras diretas no ChatGPT, cobrando comissão por cada venda. É o equivalente digital de ir à farmácia comprar um analgésico e sair de lá também com um pack de vitaminas “porque faz bem à saúde”.
Há cada vez mais relatos de que as versões gratuitas estão a perder qualidade: respostas mais curtas, menos profundidade, e acesso limitado aos modelos mais avançados. Os upgrades pagos, esses, continuam afinadinhos — como os camarotes VIP no Altice Arena.
No fim, a equação é simples: subscrições, APIs, publicidade, afiliações, licenciamento, consultoria… e tudo o que a imaginação de Silicon Valley permitir. Porque a IA é cara. Muito cara.
Com informação Computerworld