
Olhando para a Margem Sul há um concelho que, tal como a aldeia de Astérix, resiste. Mas não contra os Romanos – resiste contra o século XXI.
Todos os concelhos desta geografia têm um parque industrial, todos menos um: Sesimbra.
Todos eles contam com acessibilidades razoáveis, e tirando Alcochete todos contam com acesso ferroviário, e mesmo nesse, caso o novo aeroporto avance, haverá essa acessibilidade. Mas claro que Sesimbra não tem. Também é o único concelho sem auto-estrada ou via rápida.
Quem acredita que a situação pode ser compensada por uma boa rede de transportes públicos constata que, também ai, Sesimbra se atrasou. As carreiras que existem são escassas e não cobrem todo o concelho.
Sesimbra ao arrepio dos seus moradores tenta ser um postal ilustrado, parado no tempo, ignorando as necessidades dos seus munícipes, tenta focar-se em ser tudo o que os turistas querem ver, ignorando a voz dos locais. As feiras medievais fazem mais sentido em Sesimbra do que nos concelhos vizinhos.
Existem planos de construção de acessos rodoviários feitos em 2004, novamente em 2011 e outros planos se seguirão, mas sem vontade política e visão não há planos que valham.
Quando me mudei para a Quinta do Conde, na altura a estação de Coina estava por construir, na altura disseram-me que, Sesimbra não tinha enviado ninguém à reunião da REFER sobre os acessos a esta estação. Apesar de ter questionado várias vezes pessoas ligadas à autarquia tal informação nunca foi desmentida. Segundo o que me disseram o presidente da altura disse que “não vou perder tempo com o campo”. Pode até ser rumor, mas infelizmente é algo bastante plausível, pode ser que agora que o escrevo que alguém o venha desmentir… ou confirmar.
A Quinta do Conde é uma vila central na Margem Sul, com uma localização excelente mas acessos aberrantes anulam esse potencial. O acesso à estação é apenas um dos problemas e, apesar da possibilidade de criar mais acessos tal nunca foi feito. Estranhamente, apesar de o município do Seixal ser do mesmo partido que Sesimbra, nunca houve uma procura de soluções para os habitantes da Quinta do Conde.
A questão dos acessos é transversal a todo o concelho, também o Castelo sofre com a falta de acessibilidades que em muito prejudicam o desenvolvimento da região.
Estacionar em Santiago é uma verdadeira aventura, sobretudo na época balnear. Bem podemos sempre deixar a viatura fora da localidade e ir de transportes… por exemplo um shuttle, só que não. O executivo reconhece o problema, o que já é um avanço, mas nada faz para o mitigar ou resolver.
Se calhar podia começar por descentralizar serviços como por exemplo criar uma loja do cidadão na Quinta do Conde e outra por exemplo na Carrasqueira, mas também ai estamos vinte anos atrasados.
Sesimbra parou no tempo, mas ao contrário da aldeia de Asterix não foi devido a uma ameaça externa ou à existência de uma poção mágica, mas sim devido à falta de visão e acomodamento de quem em vez de liderar apenas administra.