
Recostado na cadeira da esplanada, no coração da cidade – e com a testa ao sol – o moreno pede uma torrada e um café; o “vizinho” da frente, mais alto, alinha no café e opta pela água, enquanto leva o cigarro eletrónico à boca. São homónimos, nascidos em Santiago de Riba-Ul e Macinhata da Seixa no final do século passado, e estão filiados a forças partidárias contrastantes – até rivais. Em todo o caso, guardam mais elos do que muros.
Nesta mesa senta-se o João Costa – anterior presidente da Juventude Socialista (JS) de Azeméis e atual líder da juventude distrital – e o João Costa, presidente da Juventude Social Democrata (JSD) local. Oportunidade de luxo. Ao contrário da retórica das “caixas de ressonância dos partidos”, as amizades entre estes protagonistas não são mito. Vamos por partes.
O mais alto, de 28 anos, formou-se em Ensino no Porto e bebe da essência associativista para presidir à JSD local, ciclo iniciado em março e com término agendado para 2027. Integra a Banda de Música de Carregosa, as comissões de festas de Macinhata e Carregosa e é maestro na Banda Marcial de Bairros, em Castelo de Paiva.
Por sua vez, o moreno, de 25 anos, presidiu à JS oliveirense entre 2019 e 2021. Neste meio desde os 16 anos, sem “empurrões” e movido pela economia, estudou em Vila Real e especializou-se enquanto gestor logístico. Longe vão os anos em que atuava no meio-campo de Oliveirense, Cucujães e São Roque, além de “distribuir jogo” nas associações estudantis e no Parlamento de Jovens. Há quase dois anos deu o “salto” para a JS distrital.
Donos de rumos ímpares – desafiando a lógica das “jotas” – já espreitaram o «monopólio» político do nome João Costa.
– Há acasos muito engraçados. Quando ainda não estava na política, o João Costa (JS) enviou mensagem para me juntar à equipa. Mas, não permiti esse monopólio – recorda o maestro, entre risos.
– És uma pessoa importante na nossa filarmonia, seria interessante o hipotético contributo. E és importante na JSD, com trabalho interessante, o que acontece quando há vontade de agir. É possível haver amizades, a crispação não traz qualquer valia. Afinal, ambos procuramos valorizar o território – argumenta o socialista, enquanto devora a derradeira fatia da torrada.
Entre goles de café, a troca de elogios não cessa.

– O João é um excelente orador, tem uma capacidade brutal para se desenvencilhar e tem mais bagagem. Estuda muito os assuntos – acrescenta o social-democrata.
Não é por sermos jovens que não somos capazes
João Costa, JS
Na política há seletividade em excesso
João Costa, JSD
Além de partilharem o tom de eleição – o azul – estes políticos «por vocação» convergem no ideal de liderança.
– Não se deve esgotar na figura do presidente. Se não souberem quem é o presidente, ótimo, somos todos iguais. Mesmo quando não posso estar presente, tudo acontece e está alinhado, o que me deixa feliz. O futuro está assegurado – explica João Costa (JSD). O maestro está à porta dos 29 anos e, por isso, cessa o primeiro e único mandato dentro de um ano.
Assertivo e grato pelo embalo, o homónimo socialista também abre o livro.
– A missão passa por formar boas pessoas, para que outros tenham oportunidades. No fim do segundo e último mandato [na JS local] senti que era o momento para dar um passo ao lado. Precisamos desesperadamente de renovadas formas de fazer política. Os cumprimentos e discursos longos pertencem ao passado. Queremos fomentar o pensamento crítico e formar estruturas heterogéneas, com novas pessoas. Uma juventude não é uma empresa, nem a caixa de ressonância do partido – atira, exigindo um lugar de relevo para os jovens.
Nesta senda, o nome de Helga Correia salta para a mesa enquanto referência do PSD. A candidata à Assembleia Municipal – e deputada na Assembleia da República – é unânime, elogiada pela carreira edificada a pulso. Ora, nesta fase, João Costa – o social-democrata – tem um sorriso de orelha a orelha.
– A Helga é uma inspiração, tem uma capacidade brutal de agregar, gosta muito do que faz e adora Oliveira de Azeméis. Não é possível estar na política concelhia com uma perspetiva diferente, sem o seu humanismo, porque este é o nosso lugar, o nosso território.
E face ao desafio de eleger a referência do PS local, o maestro não hesita.
– Rui Luzes Cabral, vice-presidente e vereador, porque está na área da cultura, já privámos e é uma pessoa correta. Também trabalha com humanismo. Gostaria de o ter na minha equipa.
Agradado, João Costa aponta a Bruno Aragão, presidente da comissão política do PS de Azeméis: “Partilhamos ideais e ideias, foi presidente local quando eu presidia à juventude, aprendo muito com ele”.
Algures entre freguesias e esplanadas da cidade, estes homónimos misturam-se na multidão, sem cor, sem sobranceria e à distância de um cumprimento. De perspetivas distintas em inúmeras matérias, coincidem no essencial: o objetivo de contribuir.
– Uma mudança no concelho? A burocracia atrapalha imenso as associações. Gostaria de abrir a Câmara Municipal às coletividades, sei bem o quão difícil é lá chegar – sugere o social-democrata.
– Reforçaria a política de habitação social, Azeméis tem um patamar muito baixo face à dimensão do concelho, de quase 70 mil habitantes. O objetivo é elevar o mercado a um patamar aceitável, alinhado com o contexto, para também reter jovens – argumenta o antigo presidente da JS oliveirense.
Em todo o caso, ambos sabem que a aventura política haverá de terminar.
– Todos estamos a prazo. Podendo dar mais, farei por acrescentar valor. Estarei para ajudar – remata o socialista.
– O futuro passa, sobretudo, pela música. Se tiver de fazer um interregno para trabalhar em prol do meu concelho, fá-lo-ei com todo o gosto. Tenho um prazo para que aconteça. Em breve, quando sair da JSD, vou ajudar o partido noutros contextos, até porque integro a comissão política de Oliveira de Azeméis – termina o social-democrata.
A menos de dois meses das Autárquicas, com campanhas delineadas e a aquecerem motores, que esta carta sirva de mote para um futuro mais democrático, empreitada somente possível por via da união. Utópico? Depende do diâmetro dos egos. Quem vier, venha por bem.
Santiago de Riba-Ul, 18 de agosto de 2025