O relatório estatístico do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado esta quinta-feira, revela que o Alentejo continua a apresentar alguns dos rácios mais baixos do país em termos de profissionais de saúde por 1 000 habitantes, especialmente nas áreas da medicina dentária e da farmácia. Apesar disso, a região regista sinais positivos no número de enfermeiros, com destaque para os concelhos de Beja, Évora e Portalegre.

Em 2024, estavam inscritos na Ordem dos Médicos 63 965 profissionais residentes em Portugal, equivalendo a um rácio de 6,0 médicos por 1 000 habitantes. No Alentejo, apenas Évora se destaca, com um rácio de 9,3 médicos por 1 000 habitantes, situando-se entre os 29 municípios do país que superam a média nacional.

A nível nacional, os rácios mais elevados registaram-se em Coimbra (34,7), Porto (22,0), Lisboa (17,7) e Faro (10,8). No Alentejo, os restantes municípios não figuram entre os que apresentam cobertura superior à média, reforçando o padrão de concentração dos profissionais de saúde nas zonas urbanas e nas áreas metropolitanas.

O número de médicos dentistas em 2024 ascendia a 12 490 profissionais em atividade, com um rácio nacional de 1,2 por 1 000 habitantes. As regiões do Alentejo Litoral, Baixo Alentejo e Lezíria do Tejo registaram os rácios mais baixos do país, todos fixados em 0,5 dentistas por 1 000 habitantes, de acordo com a Figura 7 do relatório.

Em contraste, a Área Metropolitana do Porto (1,7) e Viseu Dão Lafões (1,6) lideravam o indicador, seguidas pelo Alto Tâmega e Barroso e pela Região de Coimbra (ambas com 1,4), refletindo uma clara disparidade regional.

No que diz respeito à enfermagem, o cenário alentejano revela-se mais favorável. Com 85 499 enfermeiros registados em Portugal em 2024, o rácio nacional era de 8,0 profissionais por 1 000 habitantes. No entanto, Beja (15,8), Évora (14,3) e, sobretudo, Portalegre (20,3), posicionam-se entre os concelhos com os rácios mais elevados do país.

Coimbra continua a liderar o indicador com 25,5 enfermeiros por mil habitantes, mas os dados indicam uma presença significativa de profissionais em vários municípios alentejanos. Este indicador poderá refletir a existência de unidades hospitalares com forte componente regional, como os hospitais distritais e unidades de cuidados continuados.

Com 17 101 profissionais registados, o rácio nacional de farmacêuticos em 2024 era de 1,6 por 1 000 habitantes. A Região de Coimbra e a Grande Lisboa apresentavam os rácios mais elevados (2,4). No Alentejo, as regiões de atividade registaram os seguintes valores:

  • Alentejo Central: 1,3
  • Alto Alentejo: 1,1
  • Baixo Alentejo: 1,1
  • Alentejo Litoral: 1,0

A média nacional foi ultrapassada apenas em Viseu Dão Lafões (1,6), enquanto regiões como o Ave, Tâmega e Sousa e Terras de Trás-os-Montes acompanharam os valores mais baixos observados no Alentejo. A Figura 12 do relatório destaca o Alentejo Litoral como a região com menor dotação de farmacêuticos por habitante.

O relatório também revela dados sobre a distribuição etária e especializações dos profissionais. Entre os médicos, 26,6% têm mais de 65 anos, enquanto 15,8% têm menos de 31. A especialidade mais comum entre os médicos é a de Medicina Geral e Familiar, representando 23,3% dos especialistas.

Entre os enfermeiros, 29,4% possuem especialização, destacando-se as áreas de Enfermagem Médico-Cirúrgica e de Reabilitação. A esmagadora maioria dos enfermeiros (83%) são mulheres, com uma concentração relevante no grupo etário dos 31 aos 45 anos.

Os dados revelam que, apesar do crescimento do número de profissionais de saúde nas últimas duas décadas, persistem desigualdades na sua distribuição territorial. O Alentejo, à semelhança de outras regiões de baixa densidade populacional, mantém défices estruturais em diversas categorias, especialmente na medicina dentária e na farmácia.

Esta realidade pode ter implicações significativas na acessibilidade aos cuidados de saúde, numa região marcada pelo envelhecimento populacional e dispersão territorial, exigindo medidas específicas de planeamento e reforço de recursos humanos nos serviços de saúde locais.