O Millennium BCP reportou um lucro de 502,3 milhões de euros neste primeiro semestre. Este resultado equivale a um aumento de 3,5% face ao mesmo período de 2024. O CEO do BCP, Miguel Maya, reforça que o período entre janeiro e junho ficou marcado por incerteza, especialmente do lado geopolítico, mas sublinha os dados positivos revelados pelo INE sobre a economia portuguesa.

Miguel Maya sublinha a evolução das ações do Millennium BCP, que valorizaram 96,3% entre junho de 2024 e junho de 2025.

A nível nacional, a atividade teve um resultado líquido de 411 milhões no semestre, mais 3,2% do que no ano de 2024. Já as operações internacionais contaram com um crescimento de 11,8%, subindo de 131,1 milhões para 146,6 milhões.

O Bank Millennium, na Polónia, conseguiu alcançar um lucro de 121,1 milhões, apesar dos custos associados à carteira hipotecária em francos suíços, que já ascendem a 276,5 milhões. Ainda assim, o banco já conseguiu reduzir em 31% os créditos hipotecários nesta moeda.

No entanto, sobressai a disparidade entre os dois países onde o BCP marca presença além de Portugal. Se na Polónia o banco conseguiu crescer 43,1% ao longo dos primeiros seis meses do ano, em Moçambique houve uma queda de 48,8%, com um resultado líquido de 23,7 milhões. Este resultado negativo é justificado pelo contexto do país africano, que teve, em consequência dos conflitos políticos, uma descida do ‘rating’ da república, levando à necessidade de aumentar as provisões.

Apesar da queda das taxas de juro, o BCP conseguiu manter a margem financeira estável, tendo inclusive crescido em 3,5% para 1,8 mil milhões. O CEO do BCP justifica que estes números vêm da atividade internacional, tendo a atividade doméstica observado uma quebra neste parâmetro. Mais especificamente, a margem cai 2,2% para 658,8 milhões entre janeiro e junho em Portugal. Por oposição, sobe 8,4% no estrangeiro para 785,3 milhões.

Ainda ao nível das receitas, o grupo conseguiu aumentar o rendimento de comissões em 4%, totalizando 413,8 milhões. Também aqui houve comportamentos diferentes entre o mercado doméstico e o mercado internacional, com Portugal a ver mais 6,7% de comissões e a atividade estrangeira a cair 3,1% nesta rubrica.

Os custos operacionais do Millennium BCP ascenderam a 683,5 milhões, mais 10,5% do que em 2024. Miguel Maya refere que o efeito da inflação se está a notar agora com a renegociação de contratos com fornecedores. Maiores custos em Portugal refletem disparidade temporal de aplicação de acordos salariais em 2024 e 2025.

O rácio de eficiência do banco fixou-se em 37%, contra 35% um ano antes. Este indicador ficou em 35% no contexto nacional e 39% na atividade estrangeira.

Em relação ao malparado, o CEO do BCP realça que os NPE continuam em queda, tanto em Portugal como no estrangeiro, com um rácio NPL superior a 90 dias de 1,3% no grupo todo, igual ao período homólogo.

Os recursos de clientes subiram 5,5%, totalizando 106,2 mil milhões. Já a carteira de crédito teve um aumento de 3,4%, fixando-se em 60,3 mil milhões. O maior crescimento deu-se em Portugal, onde os empréstimos tiveram um incremento de 4,6%.

No que diz respeito à capitalização, o rácio CET1 mantém-se em 16,2%, igual a 2024, e o rácio de capital total em 20,2%, menos 0,4 pontos percentuais do que no semestre homólogo.

Questionado sobre a escolha do novo governador do Banco de Portugal, Miguel Maya reitera apenas que o currículo de Álvaro Santos Pereira “fala por si”. Sobre a questão da sede do supervisor, diz-se “cabalmente esclarecido” pelas explicações de Mário Centeno.

Sobre as contribuições para o Fundo de Resolução, Miguel Maya volta a criticar a injustiça de alguns ‘players’ do mercado não terem de arcar com este custo. Questionado sobre a esperança de alterações deste quadro com o novo governador, Maya salienta que as alterações vão acontecer, só não sabe quando, e relembra que não depende apenas do regulador, mas também do setor político. Mais ainda, reforça que a Autoridade da Concorrência devia atentar neste ponto.

Em relação à comercialização de criptoativos, é peremptório: não está nas prioridades, nem sequer na agenda. Alerta que é um ativo difícil de compreender e o banco tem o “cuidado” de aconselhar os clientes e alertar sobre os riscos associados a cada produto. Também a Caixa Geral de Depósitos revelou nesta quarta-feira que não vai comercializar estes ativos digitais.

Numa atualização sobre a garantia pública, os jovens são mais de 60% do crédito concedido e a garantia pública corresponde a cerca de um terço do mesmo.

Sobre a entrada de um novo grupo no mercado português, com a compra do Novo Banco pelo BPCE, Miguel Maya aponta apenas que este é um “grupo de prestígio” e força o BCP a ser mais inovador, a ser mais rápido e que “vai dificultar a vida” ao banco. O BPCE tem uma colaboração com o BCP em França, no qual o banco português detém 20%. Miguel Maya esclarece que estão numa “fase de reflexão” sobre esta questão, agora que existe concorrência no terreno nacional. Contudo, reforça que não existe urgência nesta matéria.