O UniCredit continua a não ser bem-vindo em terras alemãs. Nesta quarta-feira, a CEO do Commerzbank, Bettina Orlopp, reforçou que o UniCredit não vai adquirir o banco. Contudo, notou que a decisão final compete aos investidores. A intervenção da líder da instituição foi numa conferência sobre a área, onde as suas declarações relativamente ao tema escalaram de tom.

Questionada sobre como responderia à pergunta se o UniCredit acabaria por adquirir o Commerzbank, Orlopp, citada pela agência Reuters, foi peremptória: “Claro que não”. Acrescentou ainda: “Os nossos acionistas vão decidir, e é a eles que a decisão pertence”.

Para Orlopp, qualquer negócio neste sentido tem várias nuances. “Vai depender do sentido da transação, sim ou não, se cria valor, sim ou não, e este será, em última instância, o fator decisivo”, reitera. A CEO do Commerzbank reforça ainda que a instituição tem sido capaz, nos últimos 12 meses, de alcançar “vários sucessos”. “E não temos intenções de abrandar. Estamos completamente focados em implementar a nossa estratégia”, garante.

O Commerzbank tem mantido uma frente de resistência aos avanços do UniCredit, apesar de este já ter atingido 26% do capital do concorrente alemão. O CEO do segundo maior banco de Itália, Andrea Orcel, já deixou claro o interesse e, tendo em conta a sua posição, defendeu que o Governo alemão, anteriormente o maior acionista, “vai ter de se sentar à mesa”. Orcel acredita que uma fusão pode criar um “novo campeão da banca nacional para a Alemanha” e ajudar na “revitalização da economia alemã”.

O Governo alemão já se opôs, por várias vezes, a este negócio. Mais recentemente, o Ministério das Finanças assegurou que não pretende vender as suas ações no banco. Antes do UniCredit ter aumentado a sua participação para 20%, o executivo era o maior acionista, fruto de um resgate financeiro ao Commerzbank, feito em 2017.

Entre comprados e compradores, algum há de escapar

Recorde-se que há uma vaga de consolidação bancária a decorrer na Europa. Itália está a protagonizar esta tendência, com várias Ofertas Públicas de Aquisição a terem sido anunciadas no último ano, a maior das quais vinda precisamente do UniCredit. O banco quis adquirir o rival Banco BPM, mas falhou, culpando os obstáculos impostos pelo executivo italiano. Ainda no sul da Europa, o UniCredit já alcançou o marco dos 26% no Alpha Bank, um banco grego que, por seu turno, comprou o Astrobank, sediado no Chipre.

O próprio BPM conseguiu comprar a Anima Holdings, uma gestora de ativos. Também o Banco Ifis e o BPER conseguiram levar as suas ofertas a bom porto, adquirindo o Illimity e o BP Sondrio, respetivamente. Ainda do lado dos derrotados aparece o Mediobanca, cujos acionistas chumbaram a proposta de comprar o Banca Generali. Por sua vez, o próprio Mediobanca está em risco de ser adquirido pelo Monte dei Paschi di Siena, numa Oferta Pública de Aquisição que está a decorrer até dia 8 de setembro.

Aqui ao lado, em Espanha, o BBVA está há mais de um ano numa demanda para conseguir comprar o Banco Sabadell. A aquisição foi aprovada pelo Governo, mas com condicionantes, o que, consequentemente, levou a Comissão Europeia a abrir um processo ao país.