O Museu Victoria and Albert (V&A), em Londres, apresenta até 16 de novembro de 2025 a exposição Cartier, a maior dedicada à icónica maison francesa no Reino Unido em quase três décadas. Reunindo mais de 350 peças, a mostra traça a história da marca desde a sua fundação por Louis-François Cartier, em 1847, até se tornar um símbolo global de elegância e prestígio.

A exposição destaca a história de Louis, Pierre e Jacques, os três netos de Louis-François Cartier, que, no início do século XX, expandiram a pequena oficina parisiense a marca que hoje é internacionalmente reconhecida. Cada um dos irmãos assumiu a liderança em cidades estratégicas: Louis em Paris, Pierre em Nova Iorque e Jacques em Londres, onde a boutique na New Burlington Street, inaugurada em 1902, rapidamente se tornou um ponto de encontro da elite britânica.

Os três irmãos Cartier e o seu pai, Alfred. Da esquerda: Pierre, Louis, Alfred e Jacques. Alfred tinha uma pequena joalharia em Paris, e os irmãos, ainda jovens, dividiram-se por territórios estratégicos na Europa, Estados Unidos e Reino Unido. Fonte: Cartier Family Archives

Foi em Londres que o rei Eduardo VII proclamou Cartier como “o joalheiro dos reis e o rei dos joalheiros”, consolidando a reputação da marca na corte britânica. Esta expansão internacional, aliada à visão criativa e ao rigor técnico dos irmãos, permitiu à Cartier estabelecer uma identidade única que transcendeu fronteiras culturais e sociais.

Algumas das tiaras da Cartier, em exposição. Fonte: V&A, Londres

Entre as peças em exibição estão obras emblemáticas, como a tiara em turquesa e diamantes célebre por ter pertencido a Nancy Astor, a primeira mulher a assumir um lugar na Câmara dos Comuns do Reino Unido, e a tiara de opala negra usada pela Duquesa de Devonshire.

A Tiara Manchester, criada por Harnichard para a Cartier em Paris, em 1903. Fonte: Cartier.

O relógio Crash, concebido por Wright & Davies para a Cartier em Londres, em 1967. Fonte: Cartier V&A

A influência da Cartier no universo da relojoaria também é destacada na exposição. Foi Louis Cartier que criou o primeiro relógio de pulso moderno, em 1904, concebido para o aviador Alberto Santos-Dumont, permitindo-lhe consultar as horas durante o voo.

O aviador Alberto Santos-Dumont e o primeiro relógio de pulso moderno, de 1904. Fonte: Cartier.

A curadoria, a cargo de Helen Molesworth e Rachel Garrahan, propõe um percurso envolvente que revela não apenas a evolução do design e da técnica joalheira, mas também o impacto cultural da marca ao longo de mais de um século. A mostra inclui desenhos originais, documentos familiares e objetos de clientes reais e celebridades, oferecendo uma visão abrangente da adaptação da Cartier a diferentes influências e contextos históricos.

A exposição privilegia a simplicidade, permitindo que a beleza, a qualidade e o engenho das peças se destaquem por si próprias. Entre os objetos, surgem ocasionalmente desenhos dos arquivos da Cartier, que ajudam a ilustrar a evolução criativa da maison, todos maioritariamente iluminados por focos de luz sobre fundos negros. A mostra evidencia também a visão comercial da marca, pioneira na prática de emprestar peças a celebridades, e reflete a rápida expansão do seu comércio a nível internacional.

Desde a influência do Egito Antigo e da Índia Mughal até à estética Art Deco e ao estilo russo, as peças exibidas refletem a capacidade da Cartier de integrar elementos culturais diversos nas suas criações. A exposição também destaca a evolução da Maison Cartier, desde as encomendas exclusivas para a aristocracia até à democratização do luxo com linhas como a Must de Cartier nos anos 1970. Além disso, a mostra aborda contextos históricos complexos, como o diamante Star of the South, associado ao Brasil colonial, oferecendo uma reflexão crítica sobre o legado da marca.

Parte da exposição da Cartier no V&A, em Londres. Fonte: V&A

Cartier no V&A é uma oportunidade única para mergulhar na história de uma das mais prestigiadas casas de joalharia do mundo, celebrando a criatividade, o legado e a influência contínua de uma marca que, desde o século XIX, continua a encantar gerações com a sua arte e inovação.