Vivemos uma revolução silenciosa e, desta vez, o epicentro está nos nossos bolsos. Segundo um estudo da Bain & Company, mais de 80% dos bancos europeus planeiam reformular as suas arquiteturas de dados nos próximos anos, impulsionados por um aliado improvável: a Inteligência Artificial (IA).

Graças a ela, os serviços financeiros estão a tornar-se mais intuitivos, personalizados e humanos através de conselhos hiperpersonalizados, antecipação de necessidades e interações tão naturais como uma conversa entre amigos ou familiares. O cliente do futuro não quer preencher formulários, mas sim que o banco o compreenda com a mesma naturalidade com que o Spotify sugere uma música ou uma plataforma de streaming recomenda uma série.

Mas como é que esta realidade se materializa no dia a dia dos bancos? E, sobretudo, estaremos preparados para confiar numa banca que conhece os nossos hábitos e tendências quase melhor do que nós próprios?

O “fim” da burocracia no crédito à habitação

Imagine pedir um crédito à habitação e, em vez de reunir perto de 20 documentos e esperar semanas por uma resposta, apenas precisar de enviar os dados uma única vez para obter uma aprovação em minutos. Este já não é um cenário futurista. A IA está a eliminar barreiras, cruzando informações de forma segura e acelerando processos que antes testavam a paciência dos clientes. A verdadeira revolução não está na velocidade, mas na capacidade de devolver algo precioso: tempo.

O assistente que nunca dorme

Os chatbots evoluíram de respostas robóticas para conversas fluidas. Um assistente virtual integrado na aplicação do banco compreende pedidos como “Transfere 100 euros para a Maria” ou “Mostra as minhas despesas em restaurantes no mês passado” – e executa-as instantaneamente. Já não é necessário percorrer menus intermináveis, porque a IA interpreta a linguagem natural, tornando a tecnologia invisível. Um exemplo? Um cliente que, à meia-noite, bloqueia um cartão perdido com uma simples mensagem de voz. Esta é a comodidade que transforma verdadeiramente o significado de “atendimento ao cliente”.

Da wishlist à realidade

Poupar para uma viagem ou para um eletrodoméstico novo deixou de ser um exercício solitário. Agora, podem-se criar listas de desejos dentro da aplicação do banco e a IA assume o papel de consultor financeiro. Se o objetivo é uma viagem à Europa, a tecnologia analisa o histórico de preços, identifica promoções sazonais, sugere cartões com milhas ou cashback e até divide o valor total em poupanças mensais realistas. Quando os preços dos voos baixam, o cliente recebe um alerta. Mais do que uma ferramenta, é um assistente que funciona quase como um agente de viagens.

Orçamentos que se gerem sozinhos (e alertas que valem dinheiro)
A gestão financeira familiar ganhou um aliado que era impensável há umas décadas. Os sistemas de IA analisam padrões de gastos, reservam automaticamente valores para despesas fixas e enviam alertas úteis. Exemplos: “A mensalidade da escola do seu filho será debitada daqui a cinco dias” ou “Os seus gastos em delivery subiram 30% este mês”. Para os pais, há avisos sobre compras inesperadas das crianças em jogos online. A longo prazo, estas plataformas darão poupanças significativas.

Promoções na hora certa

Os programas de benefícios dos bancos tornaram-se inteligentes. A IA identifica onde o cliente costuma comprar e sugere, no momento exato, o maior cashback ou desconto. Se frequentar um certo restaurante, o sistema notifica: “Ative hoje 10% de desconto aqui”. Para compras maiores, prevê quedas de preços – “Espere duas semanas para comprar o portátil porque o preço vai baixar”.

A IA não substitui o toque humano – antes o amplifica. Quando bem aplicada, pode devolver aos clientes bancários três pilares essenciais nos dias de hoje: proximidade, rapidez e confiança.

Paulo Noormahomed,
Head of Innovation, na ITSector