É apenas por uma questão de meses que a sua primeira passagem pela Luz não chegou à maioridade. O presidente que mais tempo ocupou o cargo voltou a ser um benfiquista praticante e quer agora iniciar uma nova era, em formato 2.0, no clube encarnado.

Foram várias as entrevistas que deu para sentir o pulso à possibilidade de ir a votos. Quase não lhe restava outra possibilidade que não a de ir a sufrágio, como anunciou esta noite na TVI: Luís Filipe Vieira é candidato à presidência dos encarnados. “Acho que deixei um legado muito importante no Benfica, um legado que nunca ninguém conseguiu. Ao longo destes quatro anos, tudo foi destruído”, justificou.

Os quase 18 anos no clube não apagaram a amizade que manteve com funcionários que o consideram “como um pai e vão dizendo aquilo que sentem”. Foi por essa via que ouviu dizer que a “casa” que construiu estava a vir abaixo. “A situação não é brilhante, como se quer passar. Há uma nítida proteção a determinadas pessoas dentro do Benfica. Sou das poucas pessoas que tem o direito de falar e dizer a verdade. O Benfica está há muitos anos sem liderança. O Benfica deixou de ter estratégia, o Benfica nunca mais inovou em lado nenhum, o Benfica perdeu a corrida da centralização dos direitos televisivos.”

A moerem a tranquilidade de LFV estão os problemas financeiros de um clube, acredita, falsamente abastado. “O Benfica está-se a portar como um clube rico. O investimento é eleitoral”, aponta relativamente aos valores recorde que têm sido gastos em reforços. “Financeiramente, o Benfica vai passar por problemas gravíssimos.”

Houve tempo em que, entre Vieira e Rui Costa, existia cumplicidade. Desde que o antigo vice lhe rendeu que a relação se deteriorou. “Rui Costa não teve caráter comigo. Parecia que eu metia medo. Não me candidato contra o Rui Costa. Candidato-me pelo Benfica.” Porém, não será só com o antigo jogador que se terá de preocupar.

Adversários diretos são cinco: Rui Costa, João Noronha Lopes, Martim Mayer, João Diogo Manteigas e Cristóvão Carvalho. Indiretos, podem ser mais. O dirigente de 76 anos joga contra a memória de que foi o envolvimento na Operação Cartão Vermelho a afastá-lo da presidência, em 2021, e contra as conclusões que vão sair da Operção Lex e Saco Azul.

Luís Filipe Vieira nega ter problemas com a justiça, respondendo apenas ao que lhe pedem. Declara-se “inocente” em todas as acusações que lhe fazem e decidiu candidatar-se “como qualquer outro cidadão” sem acreditar que as idas ao tribunal perturbem o desempenho na gestão do clube. “Não prejudico o clube. Não vou fugir da justiça em momento algum. Tenho confiança plena na justiça.” No passado, jura nunca ter beneficiado do estatuto de presidente para obter benefícios. “Quando entrei no Benfica, entrei com milhões depositados. Quando saí, vim com muito menos.”

Dia 25 de outubro, data das eleições, o julgamento será feito pelos sócios.