
Bruno Lage entrou numa discussão que não tem fim. Assim como não é erudito filosofar sobre a data de nascimento do ovo e da galinha, também o debate sobre se é mais importante ganhar ou mostrar jogar bem tem um nível rasteiro. O brilhantismo devia guiar constantemente qualquer técnico, mas, por vezes, é notável como ao treinador do Benfica isso pouco importa.
O Benfica tem soluções variadas e de um patamar inalcançável pelo Tondela. Por mais que os encarnados entrem em modo de gestão, têm plantel para vencer qualquer equipa do campeonato. No entanto, há sempre o risco de algo correr mal, o que até não aconteceu, de todo. Rafael Obrador (estreia na equipa principal), Tomás Araújo (a regressar de lesão) e Samuel Soares foram incluídos num onze que olha o Tondela de cima para baixo, com alguma presunção. Curioso que Trubin tenha sido um dos poupados. Certamente, estará a precisar de pôr as mãos de molho a meio do playoff da Liga dos Campeões, contra o Fenerbahçe.
O gabarito dos encarnados serviria sempre para, mesmo em piloto automático, fazer com que os recém-promovidos passassem dificuldades. Foi o que aconteceu. Bernardo Fontes é um membro da cada vez mais prestigiada escola de guarda-redes da formação do SC Braga e foi graças a ele que o Tondela não se afundou mais. Os remates dos avançados do Benfica pareciam pouco esforçados em desviarem-se da ampla figura do brasileiro.
Amar Dedic vai-se afirmando como o reforço mais consistente da equipa da Luz. Define bem, conduz bem, passa bem e, quando calha, faz tudo isso num só ato como o que encontrou Ivanović. O espaço em que o croata apareceu, entre Maviram e Christian Marques, já antes tinha sido alvo das movimentações de Pavlidis, estando identificado como o sweet spot.
Rafael Obrador parecia aqueles tipos que entram numa sala cheia de desconhecidos e é capaz de manter conversa com todos. O espanhol foi estabelecendo ganchos com colegas que não são seus há muito tempo a um nível que rivaliza com Dahl. Tomás Araújo também aparenta estar bem de saúde pelo que fica a promessa de que Lage voltará a ter dilemas sobre quem utilizar no centro da defesa.
A associação entre Schjelderup e Pavlidis levou a bola ao lado de Aursnes. Além do regalo da jogada, regista-se o afetuoso beijo na careca do norueguês mais novo ao seu mestre. Para o Benfica, a cereja no topo do bolo foi uma vantagem mais ampla para poder entrar na toada de gestão sobranceira do ritmo que inferiu com o interesse dos acontecimentos.
As dúvidas sobre Obrador podem ser as técnicas de autodefesa. Não foi exposto ao ponto de se retirarem conclusões. De qualquer modo, ao derrubar Yarlen, ia dando à equipa que usa o símbolo de campeão da Segunda Liga a oportunidade de se estrear a marcar no regresso ao principal escalão, onde ainda não somou pontos. O árbitro equivocou-se e reverteu o penálti inicialmente assinalado.
Pavlidis, por mais desejoso que parecesse estar, não se saciou com aquilo de que os avançados vivem. Nos minutos finais, a resistência do Tondela esvaiu-se ao ponto de deixar de existir. Ainda com pilhas, o Benfica aproximou-se da grande área como poucas vezes na segunda parte. Gianluca Prestianni apreciou vaguear entre adversários rendidos e marcou num ressalto.
O perigo de um treinador dar os sinais que Bruno Lage deu à sua equipa com as opções que tomou é o défice competitivo que a impede de imaginar que pode vencer o adversário por uma diferença de dois dígitos. Por cá, não há problema. Lá fora, é que as carências se notam.