
É uma espécie de Ponte de Øresund futebolística, uma ligação rápida Dinamarca-Suécia. O nome próprio emparelha-os, diferença de uma letrinha apenas. As características separa-os, muito, é certo, não se encontrarão sequer no tempo e no espaço, mas quais seriam as hipóteses de depois de um Viktor com kapa aparecer um Victor com cê capaz de entusiasmar os relvados portugueses?
A amostra é curta, claro que é, mas Victor Froholdt, tão dinamarquês quanto um smørrebrød, é já a grande figura da pré-temporada do FC Porto, um médio sem medo de cavalgar, decidido e agressivo, dir-se-ia até que é um jogador “à Porto”, mesmo sendo o primeiro futebolista do seu país a jogar no clube. Chegado já com a rodagem do início de época do Copenhaga, a locomotiva nórdica parece abraçar o mesmo coração do outro Viktor, passeante por outros metros quadrados de um relvado, mas com convicção análoga. O futebol português está, aparentemente, bem de vítores, no passado e no presente.
No 4-3-3 de Farioli, Froholdt, 19 aninhos ainda, não esquecer, será já uma certeza nessa dupla interior onde Gabri Viega dá o toque e a técnica e o dinamarquês a atitude. Parecem destinados a uma história bonita, sob a supervisão de Alan Varela, um pouco mais atrás.
Na apresentação aos sócios frente ao Atlético Madrid, que teve como momento inesperado a entrada de Luuk de Jong portões do Dragão adentro, uma nostálgica contratação-surpresa a fazer lembrar outros tempos menos fabrizioromanianos, Farioli apostou em cinco reforços no onze (Bednarek, Alberto Costa, Gabri Veiga, Froholdt e Borja Sainz). Froholdt foi o dono do tempo, da ação. São dele as primeiras arrancadas, quebras de linhas, os primeiros roubos, a pressão que Farioli não dispensa. E o primeiro e único golo, também, numa combinação com Pepê do lado direito, já perto do intervalo.
Um golo é um golo, claro, mas mais ainda na retina do sempre exigente público do Dragão, depois de vários meses de futebol molengão com Martín Anselmi, ficará, por exemplo, Froholdt a ganhar a segunda bola após primeiro remate perigoso de Borja Sainz, aos 13’. Ou a caminhada corredor central afora minutos depois e da boa abertura que Pepê desaproveitou - ajuda ao Atlético ter Oblak. Ou o lance aos 54’ em que ultrapassou quatro adversários desde o meio-campo. Faltará ao dinamarquês um ponta de lança menos trapalhão. Samu deu-se muito ao jogo, de costas, mas faltam-lhe atributos técnicos (vulgo pézinhos) para ser um verdadeiro avançado de ligação.
Na 2.ª parte, o jogo seguiria para o seu registo habitual destas peladas de pré-época, o Atlético Madrid mudou onze ao intervalo, o FC Porto foi mudando. Rodrigo Mora, uma das incógnitas da temporada - onde caberá o menino na ideia de Farioli? -, recreou-se um par de vezes com a bola, aos 77’ tem um lance individual delicioso que só poderá criar dúvidas na cabeça do seu treinador, que está a dar a este FC Porto uma variabilidade, intensidade e padrões de jogo que nunca se viram com Anselmi.
O centro nevrálgico já se percebeu qual será, aquele meio-campo que se complementa e que terá de ser alavancado pelos três da frente. O campeonato começa na próxima semana e o FC Porto parece preparado para ele.