Sem que qualquer uma das oito finalistas dos 200 costas tenha abdicado da prova, que acabou por ser ganha pela australiana Kaylee McKeown (2.03,33m) com recorde dos campeonatos, e tendo as americanas Regan Smith (2.04,29) e Claire Curzan (2.06,04) ocupado os restantes lugares do pódio, não houve necessidade de chamar a portuguesa Camila Rebelo, primeira reserva, para a final de ontem. Assim, a Seleção de natação pura encerrou, definitivamente, a participação no 22.º Mundial de Singapura, viajando já hoje, último dia do evento, para Portugal.

O 4.º lugar, com recorde nacional (22,77s), de Diogo Ribeiro nos 50 mariposa, onde defendia o título conquistado em Doha-2024, foi a única final e melhor classificação nacional, que em 20 participações passou a registar sete finais, uma em estafetas de 4x50 livres, mas onde nas individuais Ribeiro esteve em quatro, tendo ganho três medalhas e dois títulos.

Na véspera, Diogo disputou os 50 livres e 100 mariposa provas nas quais, ainda há um mês, havia sido prata e ouro (recorde nacional) no Europeu sub-23 de Samorin. Em nenhuma repetiu o top 8. Se aos 50 livres terminou em 26.º (22,82s) entre os 116 nadadores, nos 100 mariposa, onde também havia arrebatado o título em Doha-2024, foi 9.º (51.34) nas eliminatórias, face a 74 adversários. E 12.º (51,21) nas meias-finais.

O nadador do Benfica falou a A BOLA sobre a prova onde havia maior expectativa e fez um balanço geral. «Claro que fiquei chateado, o normal quando se ambiciona mais… Mas, até estou tranquilo. Mesmo assim, foi uma prova muito bem conseguida, em cima do meu tempo», começa por afirmar realçando o facto de ter obtido a sua segunda melhor marca aos 100 mariposa. Só superada pelo recorde nacional (51,17s) com que, há ano e meio, garantiu o título de campeão do mundo, mas que agora nem lhe daria acesso à final. Esta fechou com os 50,88s do austríaco Simon Bucher».

«No entanto, estou contente com o campeonato, não podemos controlar o que os outros fazem. Foi uma época de altos e baixos, com lesões, e mesmo assim consegui chegar aqui e ficar em quarto do Mundo. Acho que ninguém tem noção do quão bom isso é e do quão confiante e motivado me deixa para o futuro. Estou mesmo muito satisfeito com os resultados desta temporada. Foi muito dura a nível psicológico, mas consegui passar por cima disso, o que é sempre um bom sinal», acrescentou.

Questionado se havia sido um dia em que o corpo não respondeu à velocidade que desejava, sobretudo na semifinal dos 100 mariposa, o múltiplo campeão português, garantiu que não. E explicou. «Acho que não foi o corpo que não respondeu, creio que foi mesmo o não ter acreditado no meu corpo porque pensei que não iria conseguir voltar [para os segundos 50 metros] sem me doer o corpo. Só no final é que me apercebi que podia ter dado mais, que aguentava. Mas, lá está, depois de todas as lesões que tive esta época, fiquei com receio de não aguentar a volta dos 50 metros. Acabei por me aperceber que era possível já só no final. Foi uma boa lição para o próximo ano», diz.

A final foi, ontem, ganha pelo francês Maxime Grousset (49,62), com recorde europeu, com o suíço Noe Ponti (49,83) e o canadiano Ilya Kharun (50,07) a ficarem com a prata e bronze, respectivamente.

«Ainda não sei quantos dias irei estar de férias, quando regresso aos treinos e com que principais competições planeadas, mas, com certeza mantendo os 100 mariposa como objetivo», concluiu Diogo, que tem as distâncias de velocidade a crawl e mariposa como normais apostas.

Camila Rebelo: «Esta época foi também um grande desafio fora das piscinas»

Quem esperou até à última para ver se nadava a final dos 200 costas e juntar-se a Ana Barros (8.ª aos 50 costas, Perth-1991), única portuguesa finalista num Mundial, foi Camila Rebelo. Cumpriu toda a habitual rotina de aquecimento e preparação e depois esperou… «Sim, estive à porta da câmara de chamada até entrar a última nadadora e dizerem-me que não estava a faltar nenhuma. É o que se faz normalmente…», declarou, rindo-se, a olímpica do Lozan. E custou muito estar a contá-las a entrar e depois voltar para trás? «Claro que sim, mas a esperança é sempre a última a morrer.»

Na véspera, Camila ficara à porta da final ao ser 9.ª nas meias-finais, com 2.09,40m. Sua terceira marca de sempre, mas a 31 centésimos do 8.º lugar. Caso tivesse repetido o máximo de Portugal (2.08,95) com que se sagrou campeã da Europa em Belgrado-2024, teria ocupado a 7.ª posição.

«Depois de um ciclo olímpico intenso, consegui alcançar resultados que me deixam muito orgulhosa: dois 4.º lugares no Campeonato do Mundo Universitário e um 9.º lugar no Mundial absoluto. Este último, apesar de ter ficado à porta da final, foi a minha melhor classificação até hoje, o que me dá confiança de que estou no caminho certo», salienta a única nadadora nacional, em ambos os sexos, a ter sido 9.ª classificada num Mundial.

«Obviamente, quando ficamos tão perto de uma final num Mundial e de um pódio no Mundial Universitário, fica sempre aquele sabor agridoce mas, ao mesmo tempo, é um sinal de evolução e motivação para continuar a trabalhar», vai contando. «Além disso, esta época foi também um grande desafio fora das piscinas. Consegui conciliar treinos e competições internacionais com o curso de Medicina, e já completei três dos seis anos, com muito esforço organização e apoio incondicional dos treinadores [Vítor Ferreira e Gonçalo Neves], que adaptaram os treinos consoante as necessitadas que tinha. Umas vezes a prioridade e foco era o estudo, outras a natação. Assim, realizei ambos desafios. Sinto que só tenho motivos para estar orgulhosa. Conquistei muito, aprendi ainda mais e continuo com a mesma ambição e vontade de ir mais longe», rematou Camila que, na próxima época, apostará nos Europeus de piscina curta e longa e nos Jogos Mediterrânicos.

Katie Ledecky heptacampeã

800 livres femininos. Apelidaram-na de Prova do Século. Talvez não seja tanto, mas, pelo menos, terá sido a Prova dos 22.º Mundial de Singapura. Depois de já ter ganho os 400 livres, 200 mariposa, 200 estilos, a canadiana Summer McIntosh, de 18 anos, tinha de ganhar para manter o sonho de sair com cinco ouros (400 estilos de hoje), e concretizar o feito de cinco títulos apenas alcançado por Michael Phelps e Katie Ledecky.

Ledecky, de 28, que já vencera os 1500 livres, e foi bronze nos 400 livres, procurava tornar-se na primeira heptacampeã aos 800 (2013, 2015, 2017, 2019, 2022, 2023). Assim foi. Com a surpresa da australiana Lani Palliister (8.05,98) a meter-se pelo meio e levar a prata com recorde da Oceania, doze anos após o seu primeiro título, Katie liderou desde o principio para bater o recorde dos campeonatos com 8.05,62m. McIntosh, única mulher a já a ter derrotado numa final da distância desde 2010, em Orlando em 2024, levou bronze (8.07,29).

Nos 100 mariposa masculinos, o francês Maxime Grousset, bateu o recorde europeu para juntar o ouro aos dos 50 mariposa e tornar-se apenas no terceiro homem a consegui-lo na mesma edição depois do americano Caeleb Dressel em Gwangju-2019 e… Diogo Ribeiro em Doha-2024.

Moedas deu seminário em Singapura

Além dos três nadadores de águas abertas (Mafalda Rosa, Diogo Cardoso, Tiago Campos) e dos quatro na natação pura (Diogo Ribeiro, Camila Revelo, Diana Durães, Francisca Martins), Portugal teve, no sábado, outro elemento em ação no 22.º Mundial de natação: o fisioterapeuta Daniel Moedas. O qual acompanha sempre a equipa de piscina e trabalha diariamente com a equipa de Samie Elias no CAR Jamor há vários anos. Moedas foi convidado pelo Comité Técnico da World Aquatics para dar e organizar as palestras do seminário clinico, um dos quatro efetuados, destinado a médicos, fisioterapeutas, treinadores ou outros elementos técnicos das 200 seleções.

«Convidei três colegas, dos Estados Unidos, Irlanda e Singapura, para também participarem e a minha apresentação foi essencialmente sobre o processo de avaliação que realizamos aos atletas nacionais e que já fiz com alguns nadadores internacionais, onde o objetivo foi explicar o primeiro passo para definir as diferentes estratégias de minimização do risco de lesão, criação de planos especificiais individuais e/ou colectivos de reabilitação, recuperação ativa e passiva e de como podem ser feita a ponte para a equipa técnica», explicou a A BOLA.