Pelo menos oito pessoas, incluindo uma criança de três anos e uma missionária irlandesa, foram raptadas em Porto Príncipe, que tem sido atacada há vários meses por gangues armados que pretendem controlar a capital do Haiti.

Entre os sequestrados está a responsável pelo orfanato, uma cidadã irlandesa, que gere o abrigo que presta assistência, entre outro casos, a pessoas com deficiência de nacionalidade irlandesa, segundo os responsáveis da instituição.

As organizações Nos Petits Frères et Soeurs (NPFS) e Fundação Saint Luc (FSL) condenaram hoje veementemente o ataque ao Orfanato Santa Helena, localizado em Téte Bois-Pins, Kenscoff, na zona da parte alta de Porto Príncipe.

Perante esta violência "intolerável e inaceitável", todas as instituições da rede Nos Petits Frères et Soeurs-Haiti, incluindo o Hospital Saint-Damien, o Programa Vida e o Hospital da Família da Fundação Saint-Luc, anunciaram a "difícil, mas necessária" decisão de "fechar as suas portas a partir de ontem [domingo] até à libertação incondicional dos sequestrados", realçaram, em comunicado citado pela agência Efe.

"Dizemos não à impunidade, não à indiferença, não à banalização do terror", acrescentaram as organizações, afirmando que não desistirão e continuarão a trabalhar por um Haiti "justo, humano e digno".

Há vários meses que a comuna de Kenscoff tem sido palco de violentos confrontos entre as forças de segurança e os gangues armados, que continuam a intensificar os seus ataques.

Entre abril e junho, foram registados pelo menos 185 raptos no Haiti, de acordo com um relatório publicado pelo Escritório Integrado das Nações Unidas para o Haiti (Binhu, na sigla em francês).

"No total, entre 01 de abril e 30 de junho de 2025, pelo menos 1.520 pessoas morreram e 609 ficaram feridas em atos de violência armada, principalmente na área metropolitana de Porto Príncipe, seguida de Artibonite e Centro", referiu também o gabinete no comunicado.

O relatório descreveu a situação dos direitos humanos na ilha como "extremamente preocupante", uma vez que o país está imerso numa crise prolongada que deixou milhares de mortos e milhões de deslocados.

Em 2024, a ONU registou mais de 5.600 mortes relacionadas com a violência de gangues (mais 20% do que em 2023), 1.500 sequestros, quase 6.000 casos de violência de género (incluindo 69% de agressões sexuais) e um aumento de 70% no número de crianças recrutadas à força por grupos armados.

O Haiti, o país mais pobre das Américas e um dos mais carenciados do mundo, há muito que sofre com a violência de gangues criminosos, acusados de homicídio, violações, pilhagens e raptos, num contexto de grande instabilidade política.