
O instituto Património Cultural abriu um procedimento de classificação de um troço de 500 metros de uma estrada romana em Torres Novas, parte integrante da Via XVI do Itinerário de Antonino, que ligava Lisboa e Braga.
"Nós estamos a falar de uma estrada de extrema importância para o país, a estrada romana que ligava Lisboa à Braga, ou seja, era o principal itinerário que cruzava o nosso país", disse ontem à Lusa o vereador responsável pelo Departamento de Intervenção Territorial do município de Torres Novas, no distrito de Santarém.
Segundo João Trindade, este caminho "é de extrema importância patrimonial, arqueológica e histórica, e demonstra também a importância que Torres Novas sempre teve" ao longo dos tempos, tendo feito notar que esta via romana "passava pelas principais localidades" do país.
"Havendo um troço especial no nosso território e com características de conservação muito interessantes, decidimos realmente passar para esta parte de conservação, identificação e de classificação para melhor preservar um dos maiores legados que a engenharia da época romana nos deixou e por isso achámos preponderante classificar este troço do designado itinerário Antonino, que era a 16.ª estrada romana na Península Ibérica, antiga Hispânia", declarou.
Segundo João Trindade, o troço em vias de classificação está "bem preservado", em "três segmentos em aproximadamente 500 metros", e "apresenta a distância que era típica dos caminhos romanos, com a divisória central e com os cinco metros de largura" de estrada.
O troço da via Romana do Casal da Quebrada/Bom Amor enquadra-se hoje numa paisagem rural, correspondendo atualmente a um caminho utilizado principalmente pelos agricultores da região para passagem de tratores e de jipes.
O anúncio publicado na terça-feira em Diário da República (DR) determina a abertura do procedimento de classificação de âmbito nacional do troço do Casal da Quebrada da Via Romana XVI do Itinerário Antonino ('ab Olisipone Bracaram Augustam'), na União das Freguesias de Torres Novas (Santa Maria, Salvador e Santiago), distrito de Santarém.
O sítio em vias de classificação e os imóveis localizados na zona geral de proteção (50 metros contados a partir dos seus limites externos) são abrangidos pelo anúncio que visa a sua proteção e salvaguarda.
João Trindade, que se congratulou com a publicação do anúncio em DR, disse ainda que, no âmbito deste processo, o município de Torres Novas pretende, "a curto e a médio prazo, implementar um projeto de valorização" deste património arqueológico.
"Para além do corte da via ao trânsito de veículos e à criação de um caminho alternativo, prevê-se proceder a ações de limpeza, conservação e restauro da via, bem como à valorização do local com a colocação de painéis informativos, a par de ações de divulgação do sítio, com visitas guiadas e criação de percursos pedestres relacionados com o património cultural e natural", declarou.
Ao mesmo tempo, é ainda objetivo da autarquia efetuar uma "sondagem arqueológica" por forma a "caracterizar e documentar o tipo de construção" desta estrutura viária e "recolher elementos que permitam datar" o momento da sua construção.
"O estudo das vias romanas no concelho de Torres Novas e da sua articulação com o povoamento romano do território enquadra-se também no projeto "Villa Cardílio e a romanização da bacia hidrográfica do Almonda", explicou, processo que decorre desde 2021 e no qual este troço desempenha um "papel central".