Representantes tailandeses e cambojanos iniciaram esta segunda-feira na Malásia a primeira ronda de conversações desde o cessar-fogo da semana passada, após cinco dias de confrontos armados fronteiriços que causaram dezenas de mortos e 260.000 deslocados.

As reuniões do Comité Geral de Fronteiras, com a duração de quatro dias, deveriam ter sido organizadas pelo Camboja, mas ambas as partes concordaram posteriormente com um local neutro.

A Malásia exerce atualmente a presidência rotativa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), de que fazem parte a Tailândia e o Camboja, e mediou a interrupção das hostilidades em julho.

O cessar-fogo de 28 de julho seguiu-se à pressão económica do Presidente norte-americano, Donald Trump, que avisou o Camboja e a Tailândia de que não celebraria acordos comerciais com os dois países se os combates persistissem.

Após a trégua, Washington reduziu as tarifas sobre os produtos tailandeses e cambojanos de 36% para 19% em 01 de agosto.

As conversações desta segunda-feira centraram-se na definição de pormenores para evitar novos confrontos, não tendo sido discutidas as reivindicações territoriais, segundo a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).

A Tailândia e o Camboja têm sido vizinhos rivais durante séculos, desde que ambos eram poderosos impérios.

Nos tempos modernos, uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), de 1962, que atribuiu ao Camboja as terras onde se situa o antigo templo de Preah Vihear, marcou um novo ponto baixo nas relações.

Outros territórios fronteiriços continuaram a ser reivindicados por ambos os países.

Em 2011, eclodiram combates em Preah Vihaer, após os quais o TIJ reafirmou a decisão anterior, deixando a Tailândia chocada.

As relações voltaram a deteriorar-se drasticamente em maio deste ano, quando um soldado cambojano foi morto a tiro durante uma discussão numa das zonas fronteiriças em disputa, incidente que desencadeou sanções diplomáticas e comerciais entre as duas partes.

Após dois incidentes em julho, em que soldados tailandeses foram feridos por minas terrestres em território disputado, pelos quais a Tailândia culpou o Camboja, as duas partes baixaram o nível das relações diplomáticas e eclodiram combates.

Cada uma das partes acusou a outra de ter iniciado os confrontos armados, que causaram pelo menos 35 mortos e mais de 200 feridos, de acordo com balanços divulgados pelas duas partes.

O exército tailandês declarou na segunda-feira que mantinha 18 soldados cambojanos como "prisioneiros de guerra", segundo a agência de notícias turca Anadolu.

Observadores da Malásia, dos Estados Unidos e da China participarão nas negociações, segundo as autoridades malaias.

Apesar das tréguas, as tensões persistiram, uma vez que ambos os países organizaram visitas às antigas zonas de combate para diplomatas estrangeiros e outros observadores, a fim de realçar os danos alegadamente causados pela outra parte.

Os dois países também continuam a acusar-se mutuamente de terem violado as leis humanitárias internacionais com ataques a civis e a utilização de armas ilegais.