A polícia invadiu ontemlivrarias na Caxemira administrada pela Índia, depois de as autoridades terem proibido 25 livros, incluindo um da escritora indiana Arundhati Roy, alegando que as obras alimentam o secessionismo na região predominantemente muçulmana.

O Governo, que proibiu os livros na terça-feira, acusou os seus autores de divulgarem "narrativas falsas" sobre Caxemira, "ao mesmo tempo que desempenham um papel crucial na desinformação dos jovens" sobre o Estado indiano.

"A operação teve como alvo" livros "que promoviam ideologias secessionistas ou glorificavam o terrorismo", adiantou a polícia nas redes sociais.

A proibição destes livros na Caxemira controlada pela Índia coincidiu com o sexto aniversário da imposição de Nova Deli do controlo direto sobre o território, cuja autonomia foi revogada.

O governo local, eleito em novembro de 2024, tem poderes limitados, e a parte indiana de Caxemira continua sob a liderança de um administrador nomeado pelo governo central.

A proibição abrange 25 livros que foram "identificados como propagadores de narrativas falsas e de separatismo", segundo o governo.

A lista inclui o livro de Arundhati Roy "Azadi: Liberdade, Fascismo, Ficção", publicado em 2020.

Arundhati Roy, de 63 anos, vencedora do Prémio Booker de 1997 pelo seu romance "O Deus das Pequenas Coisas", é uma das mais famosas escritoras indianas contemporâneas, mas o seu ativismo e críticas ao governo do primeiro-ministro nacionalista hindu Narendra Modi fizeram dela uma figura polarizadora no seu país.

O líder religioso e separatista Mirwaiz Umar Farooq considerou na rede social X que proibir "obras de académicos e historiadores de renome" não "apagaria os factos históricos e a memória viva do povo de Caxemira".

A lista inclui ainda ensaios de especialistas, incluindo A.G. Noorani, um dos maiores especialistas da Índia em Constituição, e Sumantra Bose, que leciona Ciência Política na London School of Economics.

O historiador Siddiq Wahid defendeu que a proibição é contrária à Constituição, que "autoriza a liberdade de expressão".

Entre as obras proibidas estão "vários livros escritos e publicados por autores e instituições cuja reputação se baseia em fornecer provas, lógica e argumentação antes de se chegar a conclusões", destacou o historiador à agência France-Presse (AFP).