
A Organização das Nações Unidas (ONU) exigiu, esta sexta-feira, que o plano israelita de controlo militar da Faixa de Gaza seja "imediatamente suspenso".
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, defende num comunicado que o plano, aprovado, esta sexta-feira de madrugada por Israel, "vai contra a decisão do Tribunal Internacional de Justiça de que Israel deve pôr fim à sua ocupação o mais rapidamente possível, contra a concretização da solução de dois Estados acordada e contra o direito dos palestinianos à autodeterminação".
O Gabinete de Segurança do Governo de Israel aprovou um plano militar proposto pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, para ocupar a cidade de Gaza, no norte do enclave.
Volker Türk acredita que "esta nova escalada [no conflito israelo-palestiniano] provocará deslocações forçadas ainda mais massivas, mais mortes, mais sofrimento insuportável, destruições insensatas e crimes atrozes".
O Alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos pede ao governo israelita que permita a entrada "sem obstáculos" de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, "em vez de intensificar a guerra", para salvar a vida de civis.
Os reféns, sequestrados durante o ataque realizado em 7 de outubro de 2023 pelo Hamas em território israelita, "devem ser libertados imediatamente, e sem exigências, pelos grupos armados palestinianos", exigiu também Volker Türk.
"Os palestinianos detidos arbitrariamente por Israel também devem ser libertados imediatamente e sem exigências", acrescentou o responsável da ONU.
A fase mais recente do conflito israelo-palestiniano foi desencadeada pelos ataques liderados pelo movimento islamita palestiniano Hamas em 7 de outubro de 2023, no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Mais de 100 mortes provocadas pela fome
Desde então, morreram mais de 60 mil habitantes de Gaza, quase metade crianças e mulheres, e mais de 150 mil ficaram feridos, segundo os registos das autoridades sanitárias, considerados fidedignos pela ONU.
Pelo menos pelo menos 198 das mortes, incluindo das de 96 crianças, aconteceram devido a fome e desnutrição, de acordo com um registo das autoridades locais divulgado na quinta-feira.
A maioria das 198 mortes aconteceu nas últimas semanas, após meses de bloqueio à entrada de ajuda humanitária por Israel, que controla todos os acessos àquele território.
Entre 2 de março e 19 de maio o bloqueio foi total, sendo agora muito limitado.
Duas dezenas de peritos da ONU, incluindo a relatora para os Territórios Palestinianos Ocupados, Francesca Albanese, exigiram na quinta-feira que Israel restabeleça de imediato o acesso sem restrições de agências humanitárias da organização à Faixa de Gaza.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) e o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) estão entre as organizações referidas numa declaração conjunta divulgada em Genebra, Suíça.
Os peritos alertaram que mais de 500 mil pessoas, ou um quarto da população, enfrentam a fome e 320 mil crianças com menos de 5 anos estão em risco de subnutrição aguda.
"A fome foi utilizada como uma arma de guerra selvagem e constitui um crime de direito internacional", disseram.
Há muito que a ONU declarou o território mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
No final do ano passado, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.