O Exército israelita afirmou hoje que cerca de 120 paletes de alimentos de Israel, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Egito, Alemanha, Bélgica e, pela primeira vez, Canadá, foram lançadas nas últimas horas por via aérea sobre Gaza.

As declarações do Exército israelita surgem no contexto da catástrofe humanitária em curso na Faixa de Gaza, devastada por quase dois anos de ofensiva de Israel e em resposta às acusações da comunidade internacional de genocídio da população palestiniana e de uso da fome como arma de guerra.

"Nas últimas horas, seis países, entre os quais o Canadá, que hoje se juntou às operações de lançamento aéreo pela primeira vez, lançaram do ar 120 volumes de ajuda alimentar para os habitantes da Faixa de Gaza", refere o comunicado militar.

Israel retomou a 26 de julho o envio de ajuda por via aérea para Gaza, sob a pressão da comunidade internacional, por entre acusações de grandes organizações de que está a "matar à fome" os habitantes daquele território palestiniano, devido às restrições que continua a impor à entrada de camiões da ONU e de organizações não-governamentais (ONG) com ajuda humanitária.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), só durante o mês de julho, pelo menos 63 pessoas, 24 das quais crianças com menos de cinco anos, morreram de fome.

Este sistema de distribuição por via aérea é, no entanto, rejeitado por organizações internacionais como a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) por ser "caro, ineficaz e insuficiente". Um avião não chega a transportar o conteúdo de um camião.

De acordo com as organizações humanitárias, deveriam entrar na Faixa de Gaza pelo menos 500 camiões por dia (com cerca de 25 toneladas de alimentos cada), mas, segundo dados oficiais israelitas, em junho, entraram entre 50 e 100 por dia e, desde que Israel anunciou as pausas, há alguns dias, entram cerca de 200 diários.

Desde o início da guerra israelita em Gaza, em retaliação pelo ataque do movimento islamita palestiniano Hamas a Israel a 07 de outubro de 2023 (que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns), foram mortos pelo menos 60.933 habitantes de Gaza, quase metade dos quais crianças e mulheres, e mais de 150.000 ficaram feridos, segundo os registos das autoridades sanitárias, considerados pela ONU fidedignos.

Destes, mais de 1.500 foram mortos quando tentavam obter ajuda alimentar, tanto nos pontos de entrega da controversa Fundação Humanitária para Gaza (FHG), como nas rotas percorridas pelos poucos camiões da ONU que conseguem entrar no enclave.

Pelo menos 180 pessoas morreram em Gaza de fome ou subnutrição desde o início da guerra, 93 delas crianças, segundo a mais recente contagem das autoridades sanitárias locais, hoje divulgada.

A maioria das mortes ocorreu nas últimas semanas, após meses de bloqueio à ajuda humanitária por parte de Israel, que controla todos os acessos ao território sitiado. Entre 02 de março e 19 de maio, o bloqueio foi total e o fluxo de ajuda é agora a conta-gotas, muito inferior ao considerado necessário pelas organizações internacionais.

As autoridades israelitas foram impelidas pela crescente pressão internacional a anunciar "pausas humanitárias" nos combates em algumas rotas, para permitir que poucos camiões com ajuda entrassem no enclave, logo saqueados pela população desesperada, e Israel não cumpriu as pausas prometidas que tornariam seguros esses corredores humanitários, assim impedindo a entrada de mais camiões com ajuda para os esfomeados e acossados habitantes de Gaza.

O Presidente israelita, Isaac Herzog, declarou hoje que há centenas de camiões à espera para entrar com ajuda na Faixa de Gaza e responsabilizou a ONU por não a ter ainda distribuído "de forma eficiente".

Numa comparência com o homólogo lituano, Gitanas Nauseda, durante uma visita à Lituânia, Herzog disse que Israel está a fazer "enormes esforços para resolver a situação humanitária, de acordo com o direito internacional", indicou o seu gabinete de imprensa num comunicado.

Há centenas de camiões com ajuda (milhares, segundo o Governo de Gaza, tutelado pelo Hamas) acumulados na fronteira de Gaza, e as organizações humanitárias responsabilizam por tal Israel, que não lhes garante rotas seguras para proceder à distribuição dos víveres.

O chefe de Estado israelita mostrou imagens divulgadas nos últimos dias pelas milícias palestinianas de dois reféns israelitas extremamente magros - um dos quais surge parecendo estar a cavar a sua própria sepultura - e disse ao mundo que não deve "permanecer em silêncio".

"Todos eles têm de ser trazidos para casa. Essa é a chave para resolver a grave crise em Gaza e em todo o Médio Oriente", sustentou, acrescentando que os reféns "são vítimas de horríveis crimes contra a humanidade".

As agências da ONU alertaram esta semana para o facto de a Faixa de Gaza enfrentar um grave risco de fome: mais de um em cada três habitantes passa dias sem comer, e os restantes indicadores de nutrição atingiram os piores níveis desde o início do conflito, há quase dois anos.