
Investigadores da Universidade da Califórnia analisaram os registos médicos de milhares de pessoas e identificaram padrões clínicos que antecedem o diagnóstico de Alzheimer. A descoberta pode ajudar a detetar a doença mais cedo e a prevenir a sua progressão.
Ao estudar o percurso clínico de quase 25 mil pessoas diagnosticadas com Alzheimer, uma equipa da UCLA Health identificou quatro tipos de evolução médica que parecem estar associados ao aparecimento da doença.
Em vez de se focarem em fatores de risco isolados, os investigadores analisaram como diferentes problemas de saúde se encadeiam ao longo do tempo e como essas combinações podem sinalizar um risco acrescido da doença de Alzheimer.
"Verificámos que as trajetórias compostas por várias etapas indicam riscos mais elevados para a doença de Alzheimer do que condições isoladas. Compreender estes percursos pode mudar radicalmente a forma como abordamos a deteção precoce e a prevenção da doença", explica Mingzhou Fu , autor principal do estudo e investigador de doutoramento em informática médica na Universidade da Califórnia.
Quatro trajetos clínicos distintos antes do diagnóstico
O estudo, publicado na revista eBioMedicine, examinou dados de saúde de de 24.473 pessoas com diagnóstico confirmado de Alzheimer. Através dessa análise, conseguiram identificar quatro percursos clínicos distintos que, frequentemente, antecedem o aparecimento da doença. Cada um destes caminhos apresenta características próprias e está associado a diferentes tipos de pacientes.
Os quatro grupos identificados:
- Saúde mental: condições como depressão e ansiedade que, com o tempo, evoluem para défice cognitivo.
- Encefalopatia: alterações cerebrais progressivas, como episódios de confusão ou desorientação, que se vão agravando.
- Défice cognitivo ligeiro: uma deterioração lenta mas contínua da função cognitiva.
- Doença vascular: problemas cardiovasculares, como hipertensão ou acidentes vasculares cerebrais, que aumentam o risco de demência.
Cada uma destas vias tem particularidades clínicas e demográficas, o que sugere que a vulnerabilidade à doença pode variar entre diferentes grupos da população.
A importância da ordem dos acontecimentos
Um dos principais avanços do estudo foi perceber que não é apenas a presença de determinadas doenças que importa, mas sim a forma como elas surgem ao longo do tempo.
Em cerca de um quarto dos casos analisados (26%), os investigadores encontraram uma sequência clínica coerente e repetida. Por exemplo, em muitos doentes, a hipertensão surgia primeiro, seguida por episódios depressivos, antes do aparecimento de sintomas cognitivos - uma cadeia de acontecimentos que parece aumentar o risco de Alzheimer.
"Reconhecer estes padrões sequenciais, em vez de se focar em diagnósticos isolados, pode ajudar os médicos a melhorar o diagnóstico da doença de Alzheimer", afirmou o autor principal, Dr. Timothy Chang, professor assistente de Neurologia na UCLA Health.
Diagnóstico mais preciso e prevenção mais eficaz
Para confirmar os resultados, os investigadores recorreram a uma base de dados independente: o Programa de Investigação All of Us, que reúne informação de uma amostra nacionalmente representativa da população dos Estados Unidos. Os padrões clínicos identificados revelaram-se válidos nesta nova amostra, o que reforça a sua utilidade na prática médica, afirmam os investigadores.
Com base nestes percursos clínicos, os profissionais de saúde poderão utilizar os padrões para:
- Identificar doentes em risco mais cedo, antes de surgirem sintomas irreversíveis;
- Interromper ou atrasar a progressão da doença, intervindo nas fases iniciais da sequência;
- Desenvolver estratégias de prevenção personalizadas, ajustadas à história clínica de cada pessoa.