Têm vindo em crescendo os alertas para a situação trágico vivida pelas crianças em Gaza. O diretor executivo adjunto da UNICEF, Ted Chaiban, depois da sua recente viagem aos Territórios Palestinianos Ocupados e a Israel, veio acrescentar mais informação, denunciando que na Faixa de Gaza as crianças "estão a morrer a um ritmo sem precedentes". Alertando ainda para o facto de a falta de água e as temperaturas altas criarem "um risco iminente" de difusão de surtos de doenças "em toda a parte".

Em declarações a jornalistas, acentuou: "Estamos numa encruzilhada. As decisões que agora se tomem vão determinar se dezenas de milhares de crianças vão viver ou morrer. Sabemos o que se tem de fazer e o que se pode fazer. A ONU e as organizações não governamentais que integram a comunidade humanitária podem enfrentar isto", avisou Chaiban.

A mostrar preocupação com a situação está também o Governo alemão, que afirma este sábado, que houve avanços na ajuda humanitária na Faixa de Gaza, mas que são insuficientes, manifestando preocupação com a retenção de apoio humanitário pelo Hamas e por outras organizações criminosas. "O Governo regista os primeiros progressos, ainda que modestos, na ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza, que, no entanto, estão longe de ser suficientes para aliviar a situação de emergência", pode ler-se no comunicado.

O Governo do chanceler Friedrich Merz manifestou também "preocupação com as informações segundo as quais o Hamas e as organizações criminosas estão a reter grandes quantidades de ajuda humanitária" e recordou que Israel tem "a obrigação de assegurar um abastecimento completo, também com o apoio da ONU e de outras organizações humanitárias".

Marcas de fome e um sofrimento profundo

Ted Chaiban assinalou também que durante a sua viagem às zonas afetadas - a quarta desde outubro de 2023 - pode comprovar que "as marcas do sofrimento profundo e a fome" são visíveis "nos rostos das famílias e das crianças", tal como constatou "o grave risco de fome" com que se enfrenta a população da Faixa de Gaza.

"Agora temos dois indicadores que superaram o limiar da fome. Uma em cada três pessoas em Gaza passa dias sem comer e o indicador de desnutrição superou o liminar, com uma desnutrição aguda global de mais de 16,5% na cidade de Gaza. Hoje, há mais de 320 mil crianças pequenas que estão em risco de sofrer desnutrição aguda", assegurou.

O dirigente da UNICEF explicou que conheceu “as famílias dos 10 meninos assassinados e os 19 feridos por um ataque aéreo israelita, enquanto estavam na fila com as mães e os pais em uma clínica nutricional em Deir el-Balah”. Como insistiu: "As crianças que conheci não são vítimas de um desastre natural. Estão a ser deslocadas e bombardeadas".

Chaiban fez questão de sublinhar a importância do trabalho humanitário da UNICEF na Faixa de Gaza e recordou que está a fornecer 2,4 milhões de litros de água por dia no norte do território, reconstruiu a cadeia de frio para as vacinas, está a dar assistência psicossocial a crianças, a manter vivos recém-nascidos e a distribuir leite a bebes mais vulneráveis.

"Há muito que fazer. Nós pedimos que entre mais ajuda humanitária e comércio para estabilizar a situação e reduzir o desespero da população", considerou, denunciando que "as crianças não deveriam morrer enquanto fazem fila em um centro nutricional ou recolhem água, e as pessoas não deveriam estar tão desesperadas que tivessem de assaltar colunas com ajuda".

Acentuou, por fim, que as pausas humanitárias "não são um cessar-fogo" pelo que a UNICEF espera que "as partes possam acordar um cessar-fogo e a libertação de todos os reféns. Isto já durou demasiado", lamentou.

Esta semana, Donald Trump, presidente dos EUA; utilizou a palavra "terrível" para se referir à situação que se está a viver em Gaza, onde há fome.

Embaixador nega fome e diz que é propaganda do Hamas

Na sexta-feira, em entrevista à SIC Notícias, o embaixador de israel em Portugal, negou a ideia de que as crianças estejam a morrer à fome na Faixa Gaza devido ao conflito. Oren Rozenblat defendeu ainda que a notícia de que há fome na Faixa de Gaza e de que o Estado israelita está a levar a cabo um genocídio não passa de propaganda do Hamas.

“São crianças que têm doenças. Antes da guerra, centenas eram tratadas em hospitais israelitas. Não são magras por razão de fome ou de guerra.”, assegurou. “O nosso primeiro-ministro já disse que não há fome em Gaza. Nós sabemos exatamente quanta comida entra para a Faixa de Gaza. (...) A situação da guerra é grave, mas há comida”, alega.

Sublinhou ainda que o reconhecimento do Estado da Palestina por Portugal em setembro será um “prémio” para os terroristas.

O embaixador afirmou que Israel está a acompanhar a situação humanitária em Gaza e que quem está a “sofrer especialmente” são os reféns israelitas, não os palestinianos.