É um mega evento que faz parar o mundo e está de regresso já no próximo ano. O Mundial de 2026 vai ser organizado por três países norte-americanos: os Estados Unidos, o Canadá e o México. Mas os preparativos para o mesmo podem vir a causar mais danos do que vantagens às populações que vivem junto ao estádio nacional na capital mexicana.

Em causa está o Estádio Azteca, na Cidade do México, o maior do país, que vai acolher o jogo de abertura do Mundial, em junho do próximo ano, e que se encontra a ser alvo de obras por causa da competição. O estádio será renovado e o perímetro do mesmo alargado para incluir novas áreas de lojas e centros de lazer.

A população que vive à volta do estádio - cerca de 200 mil pessoas, entre elas indígenasteme, contudo, que a intervenção ponha em causa o abastecimento de água a quem ali mora e ameace os espaços verdes da zona.

Em declarações ao jornal The Guardian, que investigou o caso, Rubén Ramírez, membro da comunidade de Santa Úrsula Coapa, no sul da Cidade do México, tece críticas ao projeto de expansão do estádio. Acusa os responsáveis de negligenciarem os direitos da comunidade, que fica numa povoação com um antigo e rico património histórico.

A Constituição do país estipula que as comunidades devem ser ouvidas, a haver construção em terra dos indígenas. Mas Ruben Ramírez garante que não foram consultados.

O estádio está no território da comunidade. Mas s ó os donos, os homens de negócios , é que vão beneficiar com o Campeonato do Mundo. O que é que a comunidade vai ver? Nada”

Falta de água preocupa populações

Muita da população local, alega, já vive em condições de pobreza. E agora será ainda mais afetada pelo empreendimento do Estádio Azteca. Desde logo no que diz respeito ao fornecimento de água, uma vez que as fontes de água potável são escassas. O fornecimento (a cargo de uma empresa privada que também é, em parte, dona do estádio) sofre interrupções frequentes e antevê-se que se intensifiquem, com o aumento da procura para as obras no estádio.

“Acreditamos que o Campeonato do Mundo vai aumentar os problemas, incluindo o abastecimento de água”, sublinha a ambientalista Natalia Lara, em citada pelo The Guardian.

Os problemas foram admitidos pela própria autarca da Cidade do México, Clara Brugada, em maio deste ano, após vários protestos, de acordo com os meios de comunicação locais. Os ativistas queixam-se, contudo, de que nenhuma ação tenha sido tomada.

Evento move milhares de milhões de dólares

O país, fã acérrimo do desporto, está, apesar de tudo, coletivamente entusiasmo com o acolhimento de um campeonato do mundo de futebol

Nós não somos contra o Mundial”, sublinha Natalia Lara , para quem o problema está no “impacto ambiental e social” do evento . “O que pedi mos é que a gestão dos espaços públicos não vise apenas gerar lucros para empresas privadas .

O Governo mexicano estima que o Mundial 2026 atraia até 7 mil milhões de dólares para o país.

A Cidade do México tenciona a fazer um investimento de 250 milhões de dólares em infraestruturas, prometendo criação de emprego.

Historial negro

Especialistas em sociologia do desporto apontam, contudo, que a realização de grandes eventos, como o Mundial de futebol, acarretam habitualmente prejuízos para as populações - que, geralmente, não gozam dos grandes benefícios económicos que os mesmos trazem.

As consequências estendem-se, além dos moradores locais, aos trabalhadores que erguem as infraestruturas para os eventos. A FIFA já foi acusada de bloquear inspeções às condições de trabalho nas obras do estádio mexicano para o Mundial de 2026.

na preparação do último campeonato do mundo, no Qatar, em 2022, foi confirmada a morte de centenas de trabalhadores durante as obras de construção para o evento.