
O movimento islamita palestiniano Hamas aceitou hoje uma nova proposta dos mediadores para uma trégua com Israel na Faixa de Gaza, associada à libertação dos reféns mantidos naquele território palestiniano, segundo um responsável do grupo, citado pela agência francesa AFP.
Os esforços feitos ao longo dos últimos meses pelos mediadores - Egito, Qatar e Estados Unidos - não conseguiram, até agora, alcançar um cessar-fogo duradouro para a guerra israelita que assola a Faixa de Gaza há 22 meses, e onde, segundo a Defesa Civil, mais 19 palestinianos foram hoje mortos em bombardeamentos e tiroteios israelitas.
Até ao momento, nenhum responsável israelita tinha ainda comentado esta proposta de cessar-fogo apresentada ao Hamas no Cairo.
"O Hamas apresentou a sua resposta aos mediadores e confirmou" aceitar "a nova proposta de cessar-fogo sem pedir qualquer alteração", declarou um responsável do movimento palestiniano.
Este relançamento diplomático surge numa altura em que o Exército israelita se prepara para conquistar a cidade de Gaza e os campos de refugiados vizinhos que até agora escapavam ao seu controlo, no âmbito de um novo plano adotado pelo Governo israelita com o objetivo declarado de acabar com o Hamas e libertar todos os reféns.
A proposta aceite pelo Hamas retoma as linhas gerais de um plano norte-americano anterior.
"Ela assenta no plano do enviado norte-americano [Steve] Witkoff, que prevê uma trégua de 60 dias e a libertação dos prisioneiros israelitas em duas fases", indicou uma fonte palestiniana próxima do processo.
"A proposta é um acordo-quadro para lançar negociações sobre um cessar-fogo permanente", acrescentou a mesma fonte, antes de o Hamas anunciar a sua aceitação do acordo.
Segundo uma fonte da Jihad Islâmica, aliada do Hamas, o plano prevê um cessar-fogo de 60 dias em troca da libertação de 10 reféns israelitas e da devolução dos cadáveres de alguns deles.
"Os restantes reféns serão libertados numa segunda fase, seguindo-se negociações imediatas para um acordo mais alargado" para pôr fim à guerra, com garantias internacionais.
Na semana passada, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, advertiu de que Israel só aceitaria um acordo "em que todos os reféns fossem libertados de uma só vez e nas suas condições para acabar com a guerra" em Gaza, cuja população está ameaçada de "fome generalizada", segundo a ONU.
Na sua rede social, Truth Social, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comentou hoje: "Não assistiremos ao regresso dos restantes reféns enquanto o Hamas não for confrontado e destruído! Quanto mais cedo isso acontecer, melhores serão as hipóteses de êxito".
Netanyahu está sob forte pressão tanto da opinião pública, como da comunidade internacional, onde se multiplicam os apelos para que se ponha fim ao sofrimento dos habitantes de Gaza.
Dezenas de milhares de israelitas manifestaram-se em Telavive no domingo para exigir o fim da guerra e o regresso dos reféns, sequestrados a 07 de outubro de 2023, durante o ataque sem precedentes do Hamas a Israel, que fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e desencadeou a guerra na Faixa de Gaza para "erradicar o Hamas".
A guerra no enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos 62.004 mortos, na maioria civis, e 154.906 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária durante mais de dois meses, seguido da proibição israelita de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não-governamentais (ONG).
Alguns mantimentos estão desde então a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos famintos, tendo até agora matado 1.908 e ferido pelo menos 13.863.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelitas de defesa dos direitos humanos.
Hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Badr Abdelatty, afirmou, na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, que o seu país está pronto "a contribuir para qualquer força internacional que possa ser enviada para Gaza", desde que com base "numa resolução do Conselho de Segurança, num mandato claro que se inscreva numa perspetiva política".