
Em três dias, dois protocandidatos a Belém no espaço de centro-direita. Depois de o eurodeputado e ex-presidente da Iniciativa Liberal (IL) ter revelado que está a equacionar uma candidatura presidencial, no sábado, na Convenção da Iniciativa Liberal, foi avançado, na segunda-feira, pela CNN que o autarca portuense também está a ponderar entrar na corrida. Rui Moreira prepara-se para anunciar a sua decisão esta noite na estação de Queluz. Já João Cotrim de Figueiredo mantém-se em reflexão e recusa pronunciar-se para já sobre eventuais adversários.
“Não tenho neste momento qualquer comentário a fazer”, diz ao Expresso, rejeitando explicar se um passo em frente de Moreira o fará pensar duas vezes sobre uma eventual candidatura presidencial apoiada pela IL.
O timing previsto para o anúncio do antigo presidente dos liberais é setembro, como avançou ao Expresso, mas a antecipação de Rui Moreira – que contou há quatro anos com o apoio dos liberais na sua recandidatura à autarquia do Porto – poderá levar à aceleração do calendário. “A minha decisão será suficientemente longe das autárquicas, mas antes das autárquicas”, garante.
Sem a sua disponibilidade ter sido tornada pública, na reunião magna dos liberais, argumenta, não poderia fazer "alguns contactos" com várias entidades para aferir se consegue apoios financeiros, e políticos para fazer uma campanha "diferente". O objetivo é ser mais "abrangente" no sentido daquilo que chama "grande espaço liberal" e ir ao encontro dos jovens e de outras camadas da população não satisfeitas com o leque de candidatos pouco "entusiasmantes" e "mobilizadores".
Se o presidente da Câmara do Porto defendia, em abril, em entrevista à Antena 1, não estar "talhado" para uma eleição presidencial esta mudança de posição vem, assim, baralhar as contas da direita – que já conta com Luís Marques Mendes e Henrique Gouveia e Melo como candidatos e Cotrim como possível concorrente. Ao Expresso, o conselheiro nacional Bernardo Blanco admite, contudo, que o liberal avance para Belém mesmo se Rui Moreira entrar na corrida e abre “exceção” para voltar à política ativa e se juntar à equipa de campanha do eurodeputado.
Dispersão de votos à direita
“Independentemente disso [de Moreira avançar], não me parece que seja assim que as eleições presidenciais funcionem. Não é por haver X pessoas que estejam mais ou menos no mesmo espaço político, que as pessoas interessadas deixem de se candidatar por isso”, defende o ex-deputado e vice-presidente da IL, ainda que reconheça que levará à dispersão de votos à direita.
As eleições, frisa, são isso “mesmo”, opõem candidatos que concorrem uns contra as outras, sendo do mesmo “espectro político ou não: ”depois, os portugueses é que decidem. Ainda por cima, estando em primeiro plano a primeira volta das presidenciais, acho que é bastante saudável que haja várias candidatos e depois, na segunda volta, que fiquem os dois melhores".
Questionado sobre se está disponível para se juntar a uma eventual campanha de Cotrim, Blanco responde prontamente que sim, caso o antigo presidente da IL decida ir em frente com uma candidatura presidencial e o convide para a sua equipa. "Estando agora fora da política haverá poucas pessoas por quem eu posso fazer uma pausa, mas o João é obviamente uma delas, por quem admitia dar um salto breve, digamos assim, para ajudar na campanha", sublinha, garantindo "lealdade" a quem assessorou e foi um dos responsáveis por integrar a lista de deputados há três anos.
Durante a campanha das legislativas de 2022 e das europeias em 2024, Blanco foi um dos braços direitos de Cotrim Figueiredo, ajudando-o na preparação dos debates e dos discursos na estrada. E agora acredita que o eurodeputado poderá voltar a fazer uma "boa campanha", embora note que é preciso ter em conta que há uma panóplia de candidatos e a expectativa quanto a resultados é "bastante imprevisível". Até porque há mais variáveis, nomeadamente se Ventura recua e volta a entrar na corrida eleitoral – enquanto as candidaturas não estiverem completamente definidas será mais difícil antecipar metas, porque ainda não se sabe quem vai a jogo.
Campanha "abrangente" com 10% como meta
Para já, o ex-vice-presidente da IL defende que não sendo a Presidência da República um cargo executivo, Cotrim poderá ter uma candidatura ainda "muito mais pessoal" e "institucional", sem estar preso a ideologias: “O João concorrente está bastante ciente de que não há o João da IL numas eleições presidenciais, há o João Cotrim Figueiredo, que é uma pessoa bastante competente e com um ótimo CV, que saberá representar os portugueses de uma forma séria e competente e será apoiado, certamente, por pessoas de diferentes visões políticas”, conclui.
Esse foi precisamente o tom de Cotrim Figueiredo, com um discurso que já parecia de candidato durante a Convenção. Disse que esse é um "serviço que presta à causa liberal" e também à "causa de todos aqueles que olham para a escolha dos candidatos perante os quais estão confrontados e não detetam ninguém que os entusiasma ou que os represente, especialmente os mais jovens e os que camadas mais dinâmicas na sociedade portuguesa".
A meta já está definida e é ambiciosa: tocar nos dois dígitos. Mesmo sem ser o "candidato favorito" e saber ainda quem são todos os candidatos, "se tivesse uma percentagem inferior à que a IL teve nas europeias ficaria insatisfeito", confessou ao Expresso, sem descartar chegar aos 10%, mesmo num cenário em que houvesse "15 candidatos".
Quem desvalorizou hoje a possível entrada de mais dois adversários foi Gouveia e Melo, que surge a descer nas sondagens: Rui Moreira é "um candidato como todos os outros, dentro do jogo democrático e será bem-vindo", já Cotrim Figueiredo será um candidato a "part-time", atirou o almirante à margem da apresentação do livro "Abominável Mundo Novo", de Nuno Rogeiro. Em causa está o facto de o eurodeputado garantir que manterá o lugar no Parlamento Europeu caso avance para a corrida a Belém. Mas a resposta já tinha sido dada na reunião magna dos liberais: "E o que aconteceu com Marisa Matias, do Bloco, ou João Ferreira, do PCP? Não vejo diferença", disse Cotrim.