Na sua segunda presidência, Donald Trump está a concretizar uma das mais ambiciosas e agressivas estratégias protecionistas da história moderna dos EUA. A imposição de “tarifas globais recíprocas”, que já cobre praticamente todas as economias do mundo, visa, segundo a administração americana, relançar a competitividade dos EUA.

Mas esta política tem efeitos colaterais que já estão à vista. Desde logo, um aumento da inflação nos EUA. Este fenómeno, se isolado, até poderia favorecer as exportações americanas ao provocar a desvalorização do dólar. Contudo, os principais parceiros comerciais - da União Europeia à China - responderam com medidas de retaliação. O efeito líquido é um aumento da inflação global, numa altura em que as principais economias ainda lidam com os resquícios da crise energética e dos constrangimentos logísticos pós-pandemia.

A resposta dos mercados financeiros foi imediata. As bolsas caíram, a volatilidade aumentou e os investidores procuraram refúgio em ativos mais seguros. Nos EUA, a curva de taxa de juro antecipa subidas no curto prazo, seguidas de cortes agressivos, um sinal de que os investidores começam a antecipar uma travagem da economia. Já na Zona Euro, prevê-se uma estabilização das taxas de juro, mas a exposição à desaceleração global poderá obrigar o BCE a rever a sua posição.

A União Europeia, ciente da necessidade de se reposicionar, anunciou recentemente um plano de investimento de 12 mil milhões de euros para a Ásia Central, procurando responder aos novos blocos de influência geoeconómica. Em paralelo, países como Portugal estão a lançar programas internos de apoio às empresas, como o ‘Programa Reforçar’, com mais de 10 mil milhões de euros, cuja eficácia dependerá sobretudo da sua rápida execução.

O impacto em Portugal será diferenciado. Embora os EUA representem cerca de 5% das exportações nacionais, há sectores altamente expostos, e o impacto variará consoante a tarifa final. Uma tarifa de 10% é, em muitos casos, absorvível. Já uma tarifa de 30%, tal como Donald Trump anunciou no passado dia 12 de julho, terá efeitos significativos, levando muitas empresas a procurar mercados alternativos, a reforçar a sua presença nos EUA ou, inevitavelmente, a incorporar os custos adicionais nas margens.

Mas há também oportunidades. Se produtos da União Europeia enfrentarem tarifas mais moderadas do que os da China (30%) ou do Vietname (20%), sectores como o calçado português podem ganhar competitividade relativa. A chave estará não só na capacidade de adaptação e resposta rápida das empresas, mas também no apoio institucional para facilitar essa transição.

O impacto pode também alastrar-se à educação. A incerteza internacional e o risco de retração no investimento externo podem afetar a internacionalização do ensino superior, em particular nas escolas de gestão, que dependem de programas e parcerias internacionais. O desafio da competitividade não se joga apenas nas empresas: joga-se também na capacidade de formar talento, atrair estudantes e manter centros de excelência científica e tecnológica conectados ao mundo.

Em suma, o novo paradigma tarifário imposto pelos EUA representa um choque estrutural ao modelo de globalização vigente. Portugal e a Europa enfrentam um duplo desafio: mitigar os impactos de curto prazo e redesenhar as suas políticas industriais, comerciais e educativas para um mundo em transição.

O equilíbrio entre proteção e abertura será, mais do que nunca, uma questão de sobrevivência económica e estratégica.