A União Europeia (UE) está "muito preocupada" com o avançar da cooperação militar entre Pyongyang e Moscovo. Nesta quinta-feira, enquanto esteve em Bruxelas, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que os serviços secretos ucranianos obtiveram informações de que o regime de Pyongyang iria enviar 10.000 militares para apoiar a ofensiva militar da Federação Russa no território ucraniano.

Depois da informação partilhada por Zelensky, os serviços secretos sul-coreanos indicaram que a Coreia do Norte decidiu enviar até 12.000 soldados para ajudar a Rússia na sua guerra contra a Ucrânia e que 1500 soldados norte-coreanos já estão a treinar no Extremo Oriente russo, antes de serem enviados para a frente de batalha.

"A UE está muito preocupada com o aprofundamento da cooperação militar e das transferências de armas entre a República Popular da Coreia do Norte e a Rússia, que viola flagrantemente várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas", adiantou à Lusa o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.

“A Rússia não está interessada na paz", disse. Moscovo "procura desesperadamente qualquer ajuda para a sua agressão ilegal, incluindo de atores que estão a perturbar gravemente a paz e a segurança mundiais".


“Moscovo quer uma guerra maior e mais longa”, alerta Kiev

A mesma opinião é partilhada pela presidência ucraniana. Segundo a Lusa, um alto responsável da presidência ucraniana considerou que o alegado transporte de tropas norte-coreanas para a Rússia para serem enviadas para a Ucrânia mostra que Moscovo pretende uma "guerra maior e mais longa".

"Isso prova (...) que Moscovo quer uma guerra maior e mais longa e que está a tentar treinar os seus aliados para tal", declarou o responsável ucraniano, citado pela agência de notícias francesa, AFP, a coberto do anonimato.

A Coreia do Sul acredita "ser possível que a Coreia do Norte tenha disponibilizado pessoal [civil] em vez de forças militares" para apoiar a Rússia.

A diplomacia ucraniana exigiu uma reação dos seus aliados, e uma aceleração do apoio militar ocidental. "A Coreia do Norte apoia a agressão da Rússia à Ucrânia com armas e efetivos (...) Exigimos uma resposta imediata e forte da comunidade euro-atlântica e do mundo", escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andri Sybiga.

O chefe da diplomacia ucraniana aproveitou para insistir no apelo aos aliados ocidentais para levantarem as restrições à utilização de armas de longo alcance e de armamento para intercetar ataques de mísseis e 'drones' russos em território ucraniano.

NATO não confirma presença de militares norte-coreanos

Apesar da confirmação da presença de tropas norte-coreanas por parte de Seul, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Mark Rutte, disse que ainda não era possível confirmar a informação. "Neste momento não podemos confirmar as informações de que há militares da Coreia do Norte a combater ativamente na Rússia ou a caminho", disse Mark Rutte, em conferência de imprensa no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas.

Mark Rutte disse, ainda, que estava em contacto com Seul para confirmar essas alegações e que a NATO faria uma avaliação própria se se confirmassem as informações.

Além da posição da UE, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que, a confirmar-se a presença de tropas norte-coreanas na Rússia para reforçar o seu exército, isso demonstraria "o nível de desespero" de Moscovo na sua guerra contra a Ucrânia.

Outras notícias que marcaram o dia:

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apelou, durante uma visita a Berlim, para que o apoio à Ucrânia não esmoreça, mais de dois anos e meio depois do início da invasão russa. Para Biden, os aliados da NATO devem "manter o seu apoio" até que a Ucrânia obtenha "uma paz justa e duradoura", numa altura em que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se queixa de atrasos e hesitações na ajuda ocidental.

A Rússia repatriou os corpos de 501 soldados ucranianos mortos em combates com forças russas, sobretudo no leste da Ucrânia, anunciaram as autoridades de Kiev. "Graças às medidas de repatriamento, foram devolvidos à Ucrânia 501 corpos de defensores ucranianos caídos", declarou o Centro de Coordenação para o Tratamento dos Prisioneiros de Guerra, uma agência governamental, no Telegram.

O Ministério da Defesa russo informou no seu canal da plataforma digital Telegram que as tropas ucranianas retiraram da área em torno da localidade de Liubimovka, na região russa de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia. Segundo o relatório militar russo, os militares ucranianos abandonaram as suas posições perto da localidade de Liubimovka e retiraram em direção à fronteira ucraniana, perante a ameaça de serem cercados por fuzileiros navais do agrupamento de tropas russo "Norte".

O Governo britânico avisou a China que o fornecimento de material à Rússia para a produção de armamento arrisca prolongar a guerra com a Ucrânia e prejudicar as relações de Pequim com a Europa. A mensagem foi transmitida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, David Lammy, ao homólogo, Wang Yi, durante uma visita de dois dias à China que começou, esta sexta-feira, na capital.

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) alertou que os seus especialistas detetam "atividade militar diária com algumas explosões" nas imediações da central nuclear ucraniana de Zaporijia, a maior da Europa, controlada pela Rússia. Em comunicado, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, voltou a chamar a atenção para o risco de um acidente nuclear na central, situada no sudeste da Ucrânia, por se encontrar "no centro de uma guerra ativa".