Jorge Costa morreu esta terça-feira, aos 53 anos, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória no centro de treinos e formação do FC Porto. Numa entrevista à Tribuna Expresso, em 2020, o antigo futebolista falou sobre a infância no Porto, o acidente que o afastou do voleibol, a transição para o FC Porto e a chegada à Seleção Nacional com apenas 16 anos.

Apesar de dizer que nasceu com a paixão pelo futebol e que passou a infância a brincar com uma bola, o desporto que marcou os seus primeiros anos de vida foi outro. "Cheguei a jogar voleibol no Fluvial e a minha sorte foi que, um mês antes de começar o campeonato, fui atropelado", disse Jorge Costa.

"Eu fui atropelado três vezes. (...) E essa foi a minha sorte porque como parti a clavícula, tinha de ser operado passado dez meses para retirar as placas e parafusos, e perdi também alguma mobilidade na clavícula esquerda, o que me obrigou a deixar o voleibol. Tinha 13/14 anos. Por isso é que digo que foi a minha sorte, porque me dediquei exclusivamente ao futebol", disse, na altura, à Tribuna Expresso.

Jorge Costa chegou ao FC Porto com apenas 16 anos, no segundo ano de juvenil, vindo do FC Foz, e de imediato percebeu que a realidade era outra e que teria de se adaptar para vingar no principal clube do Norte.

"Fui um dia treinar, no dia a seguir tinha coisas mais interessantes para fazer, era um puto de 15/16 anos, e disse: "hoje não vou". Habituado ao Foz, em que treinávamos duas vezes por semana e só íamos quando queríamos, não fui. Fui no dia a seguir e quando lá cheguei o treinador, o Costa Soares, chamou-me. Perguntou-me porque não tinha ido na véspera. (...) Menti, disse que tinha ido ao dentista. E ele: "Não estás no Foz, vê lá se te adaptas a isto, senão meto-te no 78 e mando-te para o Foz de volta definitivamente". Aí eu percebi que era a sério."

O mesmo treinador foi responsável por um episódio que o marcou. Jorge Costa, que usava um corte “tipo Elvis Presley”, teve de cortar o cabelo por ordem de Costa Soares. “Eu usava à rockabilly, completamente descontextualizado daquilo que era o futebol na altura”.

“Tremia por todos os lados”

O tempo passou e Jorge Costa foi crescendo no FC Porto até chegar aos seniores. No dia 25 de agosto de 1992, estreou-se na equipa principal durante uma vitória contra o Estoril. Não podia ter corrido melhor: o defesa central de 20 anos só precisou de 17 minutos para marcar o primeiro golo da carreira. Superou o nervosismo que admitiu ter sentido quando treinou pela primeira vez com os mais velhos.

"Acho que nem dormi nada na véspera. Fui muito bem recebido, mas tremia por todos os lados. Claro que víamos os seniores, porque era nas Antas, equipávamo-nos num balneário e os seniores noutro, havia um corredor e a distância era relativamente curta. E na altura havia o Pepe, o sapateiro que tratava das botas de toda a gente, e por isso íamos cruzando com os seniores e íamos falando. Mas entrar no balneário, equipar com eles, para treinar com eles, foi algo que marcou".