Em 400 a.C., quando o filósofo grego Sócrates trouxe para cima da mesa do pensamento o "só sei que nada sei", estávamos longe de imaginar que a sua premissa abalaria o regime democrático português 24 séculos mais tarde.

Foi em 2009 que, nós portugueses, produzimos o nosso próprio Sócrates — também ele um grande pensador das grandes questões que inquietavam e continuam a desassossegar a condição humana. Especialmente a de ser português, numa altura em que era mais patriótico clamar que Portugal não era a Grécia do que entoar o hino nacional.

O nosso Sócrates meteu o Sócrates deles no bolso, sacando da manga uma nova verdade: "Só sei que nada sei. Mas o que eu não souber, falem com o meu amigo — ele talvez saiba."

Já se passaram 14 anos desde a queda de Sócrates em 2011. E, nós, portugueses, ainda não superámos este trauma porque nos recusamos a lidar com ele. A melhor forma que encontrámos foi varrer o lixo para debaixo do tapete, animados por um mantra que vestimos como um manto para cobrir a nossa culpa: "À justiça o que é da justiça, à política o que é da política."

Rui Rio ainda tentou colocar Portugal no sofá, propondo a António Costa um pacto para a Justiça. Debalde.

Agora, chegamos à conclusão de que as coisas não funcionam sem estarem entrelaçadas, agora desconfiamos de tudo e de todos.

Já passaram 11 anos desde o início da Operação Marquês – José Sócrates — e, contudo, nada.

Já passaram 16 meses desde o início da Operação Influencer – António Costa — e, com pouco, nada.

Ainda não começou uma Operação Spinumviva – Luís Montenegro — e, com pouco mais que nada, tudo.

Antes éramos ingénuos e tolos porque deixávamos passar qualquer um. Agora somos tão espertos que não deixamos passar ninguém. Ninguém brinca connosco, nunca mais.

A não ser nós próprios.

Consultor em comunicação