Juliana Marins tinha um sonho: viajar pelo mundo. E estava a concretizá-lo quando se deu o acidente que lhe viria ceifar a vida cedo demais.
A brasileira de 26 anos viajava pelo Sudeste Asiático desde fevereiro deste ano, de mochila às costas, em busca de novas experiências, paisagens arrebatadoras e autoconhecimento. A viagem estava a ser mostrada através das redes sociais, tal como fazem tantos outros jovens que exploram esta parte do globo conhecida por receber “backpackers”.
Até aqui nada de novo e Juliana seria “apenas” mais uma viajante. Porém, tudo mudou no fatídico dia 20 de junho, quando caiu num penhasco durante um trilho no vulcão Monte Rinjani, o segundo mais alto da Indonésia, localizado na ilha de Lombok.
Rapidamente, o caso ganhou mediatismo através das redes sociais por conta da demora do resgate que devido a uma sucessão de erros iniciais e condições climatéricas adversas só se concretizou no dia 24, sendo que a vítima foi retirada da montanha no dia 25.
Se a situação causou uma comoção coletiva na internet, a verdade é que também aí foi possível encontrar relatos de outros viajantes que já tinham realizado o mesmo percurso e passaram por grandes dificuldades, alertando que quando compraram o tour para o Monte Rinjani não foram avisados dos perigos e do nível de preparação física e mental exigidos por este trilho que é, muitas vezes, “vendido” como algo alcançável por qualquer pessoa.
Contudo, depois de horas de caminhada a subir, quando, de facto, se começa a pisar o terreno irregular e arenoso do vulcão, com penhascos e falésias altíssimas de ambos os lados, ventos fortes e temperaturas quase negativas, o cenário vivido pelos viajantes é descrito como um trilho muito perigoso e de dificuldade elevada.
Assim, seria mandatório que as autoridades do parque nacional, onde se localiza o vulcão de 3.700 metros de altitude, informassem melhor os visitantes sobre o grau de dificuldade do trilho, bem como tivessem um posto de regaste em prontidão para socorrer vítimas.
Em cinco anos, nove visitantes perderam a vida no Monte Rinjani, além de centenas de quedas não fatais registadas. Outro fator fundamental era controlar a formação dos guias, bem como os equipamentos fornecidos pelas empresas de turismo aos visitantes durante os tours.
Contudo, num país com poucas infraestruturas, em que muitas comunidades vivem dos lucros do turismo, é expectável que nem tudo funcione como deveria nestas situações, o que só aumenta o risco para os viajantes que decidam fazer este e outros trilhos pelas montanhas e vulcões da Indonésia.
Que um dos legados de Juliana seja contribuir para o reforço das medidas de segurança deste lugar (e talvez de outros semelhantes) que tem tanto de perigoso, como de belo e que, por isso mesmo, vai continuar a atrair visitantes, sendo da responsabilidade das autoridades indonésias a melhoria da segurança e do sistema de regaste no trilho. Caso não existam condições reunidas, o mesmo deveria ser encerrado, como já acontece durante a estação das chuvas.
Por outro lado, e talvez o legado mais bonito, é ver que muitos viajantes homenagearam Juliana e reforçaram a mensagem de que o medo não deve travar o sonho de conhecer o mundo e viajar. Muitas vezes é o medo do desconhecido que nos faz ficar e nos impede de conhecer novas realidades, culturas e pessoas. Felizmente, a maioria das viagens acaba bem e, mesmo quando todas as medidas de segurança funcionam “by the book”, os acidentes fatais também acontecem.
Afinal, para morrer, basta estar vivo.