Há mais de 20 anos que trabalho ao lado dos media. Agosto, para quem está no meu lado, a assessoria, é sempre um mês peculiar. As redações estão mais pequenas, os contactos mais dispersos, e o ritmo parece abrandar. Mas isso não significa que a atualidade adormeça.

A história mostra que agosto gosta de apanhar todos desprevenidos: em 1974, Nixon renunciou à presidência dos Estados Unidos; em 1998, a crise russa abalou os mercados globais; em 2007, soaram os primeiros alarmes da crise financeira mundial; e, em Portugal, agosto de 2014 assistiu à resolução do BES, um momento que paralisou o país e que encheu páginas e horas de emissão.

Do lado de cá, sabemos que em agosto o jornalismo reinventa-se. Com menos fontes disponíveis e menos agenda oficial, há mais espaço para a reportagem, para a história que precisa de tempo, para dar palco a temas que no resto do ano ficam no fim da pilha. E, sim, também há lugar para a leveza, porque os leitores assim o pedem.

O público muda em agosto. Quer informação que acompanhe o seu ritmo, mas não abdica de estar informado sobre o que realmente importa. Agosto não é um mês de intervalo. É apenas um mês com outro tom. E para quem, como eu, vive há duas décadas na ponte entre organizações e media, é também um lembrete de que a relação com a imprensa se constrói todos os dias. Tanto no calor de agosto quanto no ritmo frenético de janeiro.

E nunca é demais lembrar: o jornalismo de qualidade precisa de leitores que o sustentem. Comprar jornais, em papel ou digital, é garantir que, mesmo em agosto, há equipas no terreno, prontas a contar o que se passa. Sem esse compromisso, a informação perde força e a sociedade perde um dos seus pilares.

Porque a atualidade não tira férias. E o dever de a apoiar também não. Em agosto, como em qualquer mês, o jornalismo é a primeira linha da memória coletiva e o antídoto contra o esquecimento. Sem ele, a verdade perde voz, a sociedade perde rumo e a democracia perde chão.

Consultora de comunicação