O aroma a grelhados domina a atmosfera da rua. Sobretudo durante o verão, a grelha não dá descanso aos homens experientes que transformam com mestria peixe e marisco em saborosos grelhados. Mas há mais para provar nesta terra junto ao mar pródiga em variados espaços de restauração.
Das tasquinhas aos restaurantes de fine dining, passando por cervejarias e espaços tradicionais, saiba onde comer no concelho, da cidade de Matosinhos até Angeiras.
Da lota ao mercado
Há muito que o animado Mercado de Matosinhos se tornou também um local para desfrutar dos sabores do mar. Dos vários espaços onde é possível escolher os ingredientes e pedir para serem confecionados no restaurante destaca-se a cozinha de autor com assinatura de Arnaldo Azevedo, chef do Vila Foz, localizado na Foz do Douro, que inaugurou na primavera de 2024 o Bistrô by Vila Foz. Centrada nos sabores do mar, a ementa do foca-se em propostas como “Escabeche de carapau”, “Lula frita com maionese de tinta de choco”, “Tira de atum rabilho com teriyaki”, “Arroz caldoso de peixe” ou “Carabineiro flamejado com batata fósforo e ovo frito”. É possível escolher os produtos favoritos nas bancas do Mercado e levá-los para o restaurante, onde serão confecionados. Com 12 lugares, o Bistrô by Vila Foz (Mercado de Matosinhos, Rua França Junior, Matosinhos. Tel. 222449750) tem ainda 28 lugares na esplanada do mercado. Preço médio: €30.
Naquela que é conhecida como a “rua dos restaurantes”, contígua à lota de Matosinhos, ergue-se, em nova localização, um dos clássicos da cidade. “Já estou nesta rua há 32 anos”, assinala Valentim Santos. O restaurante S. Valentim (Rua Heróis de França, 347, Matosinhos. Tel. 229379204), aberto há 18 anos, mudou de morada para algumas portas abaixo, se apresentar totalmente remodelado e decorado em sóbrios tons neutros, como o betão que assinala a modernidade do espaço, dotado de ampla esplanada. A ementa permanece dedicada aos frutos do mar, com o peixe e o marisco a completarem a oferta. Assente na qualidade da matéria-prima e da mestria na hora de grelhar, a carta varia consoante os peixes abundantes em cada temporada. “Na época da sardinha, é o que mais sai”, garante Valentim Santos. Noutras temporadas, Peixe galo, garoupa, cherne, pargo, rodovalho, vendidos ao kg, causam indicções perante a simplicidade da dose de lulas, do Polvo ou do Bacalhau à lagareiro. Do tacho chegam a Açorda de camarão ou o Arroz de camarão ou tamboril. Antes, inaugure com Pataniscas, Ameijoas à Bulhão Pato, Mexilhões ao vapor, Sapateira, Camarão jumbo, Percebes ou Lavagante. Preço médio: €35.
A curta distância, no Toupeirinho (Rua do Godinho, 27, Matosinhos Tel. 229387016), a garrafeira disposta nas paredes em precário equilíbrio e a sedutora montra de mariscos são imagens de marca deste pequeno restaurante, que há mais de duas décadas se mantém fiel às confeções simples do que chega do mar. Nunca faltam a sapateira e a santola recheadas nem a apetitosa “Salada de lavagante”, também servida em arroz caldoso, e o marisco a guarnecer arroz e açorda. Nos peixes, registe-se que goraz, linguado, robalo, dourada e corvina servem grelhados ou ao sal. Preço médio: €35.
Para uma viagem ao outro lado do globo, no restaurante japonês Rino (Rua Dr. Manuel Rodrigues de Sousa, 53, Matosinhos Tel. 932885718), respeito pelos ingredientes, pela técnica e pelo tempo são parte da identidade do restaurante de Masaki Onishi, um mestre da culinária japonesa. Mostra as suas habilidades num pequeno espaço familiar e minimalista, ao lado da mulher, responsável pela sala. Há sushi, sashimi e sugestões diárias, que mudam conforme a disponibilidade dos produtos. A “Língua de vaca com miso” e a “Cabeça de buri grelhada” são obrigatórias.
Mesas com história
Churrasqueira e casa de petiscos, junta na mesma morada o melhor de dois mundos. É assim que se apresenta a Casa Festas (Rua Mouzinho de Albuquerque, 263, Matosinhos. Tel. 229382331), em Matosinhos, conhecida pelo Frango no churrasco, mas também por petiscos em que Moelas, Bifanas, ou Rojões são alguns dos mais procurados. Todos os dias há outros pratos portugueses, anunciados nas redes sociais, para ir abrindo o apetite, como o Pernil assado no forno, os Filetes de polvo, o Rancho ou as Marmotinhas de rabo na boca com arroz de ervilhas. Preço médio: €15.
A consistência da cozinha e do serviço fazem deste restaurante familiar, inaugurado em 1984 por Manuel Pinheiro, uma referência gastronómica. Quando abriu, O Gaveto (Rua Roberto Ivens, 824, Matosinhos Tel. 229378796) rebentava pelas costuras ao lanche e à ceia. Hoje, a frescura do peixe e do marisco da nossa costa justificam a procura de fiéis e curiosos nas principais refeições. “Amêijoas à Bulhão Pato”, “Sapateira recheada”, “Camarão gigante”, “Filetes de pescada com salada russa”, “Arroz de marisco” e peixes para grelhar, do linguado ao rodovalho, são alguns dos emblemas do menu, a que se juntam várias receitas de bacalhau e pratos de época, como a “Lampreia à bordalesa”. Ao sábado e ao domingo, dias de “Tripas à moda do Porto” e “Cabrito assado”, respetivamente, há quem nem precise de consultar a ementa. Nas mãos de João Carlos Silva e José Manuel Silva, filhos dos fundadores, este templo gastronómico é também um santuário vínico, com uma garrafeira ímpar, recheada de clássicos, novidades e tesouros. A ela junta-se o Gaveto Tasting Club, um clube privado de experiências. Preço médio: €40.
Na mais antiga marisqueira da cidade, logo à chegada, a banca de peixe e marisco arregala o apetite. É montra do que se passa nos bastidores: nas traseiras da Esplanada Marisqueira A Antiga (Rua Roberto Ivens, 628, Matosinhos. Tel. 229380660) conservam-se em tanques lavagantes, lagostas, caranguejos, navalheiras e santolas, que hão de enfeitar vistosas travessas. Também alimentam as especialidades da casa, fundada em 1957, como a “Salada ou o arroz caldoso de lavagante”, o “Arroz e a açorda de marisco à Antiga” ou a “Paella de lagosta nacional”. Preço médio: €50.
No capítulo das tascas, esta destaca-se pela oferta e pela decoração: presuntos pendurados no teto, que também se vendem inteiros, uma montra recheada de petiscos e o andamento típico de uma verdadeira tasca marcam a identidade da Badalhoca do Fredo (Rua São Pedro, 81, Matosinhos. Tel. 223218654), cuja casa-mãe, a Tasca da Badalhoca, em Ramalde, já conta com décadas de história e reconhecimento. Iscas de bacalhau, a famosa Sandes de presunto, Ovos estrelados no pão, Papas de sarrabulho, Rissóis, Chamuças e Panados abrem o apetite para a refeição. Em dias bons, aproveite para desfrutar nas mesas redondas, na esplanada. Preço médio: €10.
A história de Matosinhos está intimamente ligada à indústria conserveira. O que já foi alimento de tropas é hoje um ícone da gastronomia nacional, que pode ser experimentado no bistrô instalado na fábrica Conservas Portugal Norte, a Companhia das Conservas (Rua Sousa Aroso, 610, Matosinhos. Tel. 223263282). Caldeirada à conserveira e Gratinado de batata com filetes de cavala e tomilho-limão podem ser algumas das propostas do menu que varia todas as semanas. Também está sempre disponível um menu fixo, onde constam Bao de sardinha teriyaki, Croquetes de biqueirão, Boxes e Tábuas de conservas. Se tiver “lata para escolher”, pode ir à prateleira da loja, optar pela conserva de que mais gostar e conjugá-la com um acompanhamento. Preço médio: €15.
Cozinha com assinatura em Leça
O cenário é incomparável, frente ao mar, no interior de uma obra de arte, Monumento Nacional que Siza Vieira traçou sobre as rochas. A experiência na Casa de Chá da Boa Nova (Avenida da Liberdade, 1681, Leça da Palmeira Tel. 229940066 ) que começa com fogo e cinzas, como um renascimento, acompanha a grandiosa panorâmica, numa aventura que navega exclusivamente por mar 6, 12 ou 21 cantos, numa viagem lúdica e prazerosa onde também o comensal se sente um explorador. Com “Os Lusíadas” e os Des-cobrimentos como pano de fundo, joga-se num mapa-múndi de snacks e alargam-se horizontes gastronómicos na “Ostra, atum”, no “Caril de polvo” ou no exímio “Robalo no seu habitat”, um mergulho na envolvente. “Lagostim, sopa coreana” e “Peixe-galo, lingueirão, quinoa” prosseguem em bom equilíbrio. Calorosa e fardada a rigor, a equipa de sala conduz a epopeia que tem em Rui Paula principal timoneiro. Ainda com os sentidos embevecidos, visita-se a cozinha num momento em que a raiz tradicional do chef e a equipa de bastidores ganham protagonismo. A harmonização vínica avança, segura, com destino às sobremesas, até ao “Chocolate, milho, batata-doce”. Preço médio: €175.
Natural de Chaves, o chef Hugo Portela encontrou nesta localização uma morada com paredes em pedra e tetos em madeira ideal para apresentar sabores regionais e receitas de família de matriz transmontana no Cibû (Rua do Castelo, 15, Leça da Palmeira Tel. 222426929). A ligação é evidente no “Creme de castanhas” do couvert e nos “Bolos de arroz de cogumelos”, prolongando-se pela “Açorda de polvo”, que herdou da avó – “comíamos uma vez por ano, depois da Consoada” –, pelo “Cabrito”, servido com migas, em barro preto, e pela “Vitela mendinha”, numa ementa evolutiva, de partilha e a apelar à memória. Dois destinos unem-se na “Espetada de lulas e chouriço de Trás-os-Montes”. “Rabanada de croissant do Porto” finaliza. Preço médio: €40.
Mestre na arte de transformar ingredientes banais em pratos gulosos e surpreendentes na familiaridade com sabores familiares, Nuno Castro desenha ao sabor de cada época uma cozinha vegetariana que é matriz do Fava Tonka (Rua de Santa Catarina, 86, Leça da Palmeira Tel. 915343494). Diminui o desperdício e aproxima-se ao produtor, sem beliscar a intensidade da “Tosta de cogumelos marinados à Bairrada”, a “Raiz de aipo, cogumelos, mostarda e stout” e o “Topinanbo, praliné, parmesão e alcaparras” ou, nas sobremesas, o “Banoffee, amendoim e caril verde”. Preço médio: €25.
Também de olhos postos nos vegetais, o Seiva (Rua Sarmento Pimentel, 63, Leça da Palmeira Tel. 910546756) distingue-se pelo serviço, entusiasta da experiência exclusivamente dedicada à nobreza dos vegetais. Aconselham-se bem os favoritos trabalhados por David Jesus, desde que haja matéria-prima, como a “Couve-flor”, que vai variando em abordagens, ou a “Açorda de couves do avô”. Aceite as sugestões também na hora de harmonizar com vinhos ou sem álcool. Tradição e cosmopolitismo descobrem-se nas degustações de 8 ou 11 momentos. Preço médio: €40
Rumo ao norte e ao interior
Retratados em pinturas, António e Maria de Fátima Araújo são a alma desta casa familiar de bom trato. Nesta rua desde 1992 e nesta morada há 18 anos, O António (Rua Óscar da Silva, 2681, Perafita. Tel. 939116838) preserva um rol de receitas de tacho que justificam várias visitas. “Pataniscas” entretêm até ao “Bacalhau à António” ou à “Caldeirada de peixe”. Considere as sugestões diárias, como as “Tripas à moda do Porto” à terça e a “Vitela assada” à quinta. O “Cabritinho” é rei à sexta e sábado. Preço médio: €30
Em São Mamede de Infesta, mesmo em frente à estação, este é um local de culto com os vinhos, os presuntos e os queijos a funcionarem como os maiores chamarizes da casa. Ao almoço a Adega Braseira (Rua Estação de São Mamede, 100, São Mamede de Infesta. Tel. 229010135) serve pratos tipicamente portugueses, mas é ao lanche que a variedade de petiscos abre o apetite. Vinho verde branco, tinto ou espadal acompanha os pires de Paio e de Tripa enfarinhada, as Sandes de presunto, os Bolinhos de bacalhau e as Papas de sarrabulho. No final, Romeu e Julieta com um magnífico queijo, também disponível para venda. Preço médio: €20
Além do mercado, um dos mais típicos e requisitados da zona Norte, Angeiras é terra de alguns dos melhores restaurantes de peixe e marisco da região. É aqui que vive a Tasquinha das Marés (Travessa da Avenida, 8, Lavra. Tel. 224934607), um espaço modesto e informal onde o principal foco está no que sai da cozinha para a mesa. Experimente o Arroz de tamboril à Zélia, o Bacalhau à lagareiro, o peixe grelhado, os mariscos e os diversos petiscos, como as Pataniscas de bacalhau, as Petingas, e o Polvo com molho verde. A partir da esplanada consegue ter vista privilegiada para a praia. Preço médio: €30
Na pitoresca vila piscatória, a proximidade ao mercado dita que peixe e marisco brilhem na ementa desta casa virada ao mar. O antigo terraço da Casa da Guripa (Travessa de Angeiras, 20, Lavra Tel. 910609228) é agora sala para seis comensais. Acolhedor no serviço e à mesa, a simplicidade convive com abordagens mais cuidadas: “Cornetos de sapateira” ou lavagante são favoritos para iniciar, a par das amêijoas da ria de Aveiro, “à Bulhão Pato”, e do “Pica-pau de atum”. Prossiga com a “Paella”, “Arroz do mar” ou peixe fresco na grelha. Afamadas sangrias acompanham. Preço médio: €35