A saída inesperada de Mary Ann Davidson, responsável máxima pela área de segurança da Oracle desde finais dos anos 80, tornou-se pública após informação divulgada por fonte interna à Bloomberg. Com 37 anos de ligação à empresa, a executiva era uma das poucas figuras da era inicial que ainda permaneciam em funções de topo.

O momento da sua saída levanta interrogações, sobretudo porque coincide com uma fase de transformação interna. Desde março, a Oracle tem realizado rondas de despedimentos que terão eliminado centenas de postos de trabalho, sobretudo em funções de gestão e na divisão de cloud. A interpretação mais comum é que estes cortes visam libertar recursos para financiar a aposta em inteligência artificial, incluindo o acordo para alojar cargas de trabalho da OpenAI no projeto Stargate.

Um percurso marcado por controvérsias

A carreira de Davidson na Oracle não esteve isenta de polémicas. Em 2004, enfrentou críticas públicas do especialista britânico David Litchfield devido à alegada lentidão da empresa em corrigir falhas de segurança detetadas nos seus produtos. A resposta inicial de Davidson foi de confronto, prolongando durante meses um diferendo público que acabou por ser abandonado.

Outro episódio marcante ocorreu em 2015, quando a executiva publicou um texto no blogue corporativo com o título “No, you really can’t”, em que censurava clientes por tentarem encontrar vulnerabilidades através de engenharia inversa. A publicação foi mal recebida pela comunidade de segurança, forçando a Oracle a remover o artigo e a admitir que o conteúdo não refletia a posição oficial da empresa.

Mais recentemente, a tecnológica voltou a ser criticada pela forma como lidou com uma alegada intrusão nos seus servidores. Inicialmente, a empresa comunicou aos clientes que não tinha ocorrido qualquer incidente, acabando por admitir posteriormente que dois sistemas obsoletos tinham sido comprometidos. A resposta foi considerada evasiva e pouco clara, levantando dúvidas sobre a transparência da Oracle em questões de cibersegurança.

Mudança geracional e foco na IA

Embora não exista qualquer ligação oficial entre a saída de Davidson e este incidente, analistas sublinham que a Oracle poderá estar a viver uma mudança geracional no seu quadro de liderança. A pressão da inteligência artificial está a obrigar a empresa a rever prioridades e a integrar perfis executivos mais alinhados com a nova realidade tecnológica.

Segundo Timothy J. Marley, da consultora norte-americana Prism One, citado pela Computerworld, a longa permanência de Davidson em funções é rara no setor da cibersegurança, o que poderá indicar apenas uma decisão pessoal de se retirar. No entanto, acrescenta que a adaptação rápida às transformações trazidas pela IA será fundamental para todas as empresas, incluindo a Oracle.

Na mesma linha, Brad Shimmin, analista da Futurum Group, considera que a inteligência artificial não representa apenas a entrada da Oracle num novo mercado, mas redefine a forma como a segurança deve ser entendida. A expansão da superfície de ataque associada à IA eleva os riscos e desafia práticas estabelecidas de proteção digital.

Sem anúncio oficial por parte da empresa, a saída de Mary Ann Davidson marca o fim de uma era na Oracle e surge num momento em que a cibersegurança e a inteligência artificial estão no centro das decisões estratégicas do setor tecnológico.

Com informação Computerworld