Os diretores financeiros (CFO) estão a reconfigurar de forma significativa a sua abordagem à inteligência artificial (IA). De acordo com um estudo global da Salesforce, 70% dos CFO seguiam em 2020 uma estratégia conservadora de IA, mas esse número caiu para apenas 4% em 2025. Em contrapartida, um terço já adota uma estratégia considerada arrojada, o que evidencia uma mudança profunda no perfil destes decisores.

A transição deve-se sobretudo a uma nova forma de avaliar o retorno do investimento (ROI). Se antes os CFO se focavam em métricas imediatas e mensuráveis, agora o valor da IA é encarado a longo prazo, incluindo ganhos de produtividade, novas fontes de receita e melhorias na tomada de decisão. Mais de metade dos inquiridos (61%) considera que os agentes de IA — sistemas capazes de executar tarefas de forma autónoma — estão a alterar de forma estrutural a análise do ROI.

Os agentes de IA estão a assumir um papel central no orçamento tecnológico das empresas. Em média, os CFO destinam já 25% do investimento total em IA a estas soluções, uma mudança face à hesitação que ainda se verificava no início de 2025. Quase dois terços (64%) reconhecem que os agentes digitais influenciam a forma como encaram os gastos da organização e 61% acreditam que serão críticos para competir no atual contexto económico.

O impacto esperado não se limita à redução de custos. Setenta e quatro por cento dos CFO defendem que os agentes de IA contribuem simultaneamente para cortar despesas e gerar receitas. Os que já os implementaram antecipam um crescimento de quase 20% nas receitas da empresa. Além disso, 72% consideram que estas ferramentas vão transformar os modelos de negócio e 55% acreditam que desempenharão mais funções estratégicas do que tarefas rotineiras.

A redefinição do ROI implica também uma maior tolerância ao risco. Trinta e cinco por cento dos CFO afirmam que a adoção da IA exige uma postura mais arrojada nos investimentos, e as principais preocupações continuam a ser a segurança e a privacidade dos dados (66%), bem como o tempo prolongado até ao retorno do investimento (56%). O risco reputacional associado a falhas nos modelos de IA e a necessidade de requalificação e monitorização contínua são igualmente apontados como fatores de incerteza.

No entanto, a perceção do valor é clara. Os CFO destacam que a IA permite acompanhar em tempo real os orçamentos, melhorar a precisão das previsões e proteger o ROI contra gastos excessivos. A avaliação dos investimentos tecnológicos passa, assim, a incluir não apenas poupança de custos, mas também melhorias em compliance, eficiência operacional e crescimento das receitas.

Esta mudança revela que os diretores financeiros deixaram de encarar a inteligência artificial apenas como um recurso para otimizar processos e reduzir despesas. A função do CFO está a evoluir de guardião financeiro para arquiteto de valor empresarial, com a IA no centro das decisões estratégicas.