Durante muito tempo, a comunicação empresarial foi dominada por e-mails intermináveis, reuniões redundantes e documentos densos. Agora, uma nova tendência está a transformar essa realidade — e vem diretamente do mundo do entretenimento digital: vídeos curtos ao estilo TikTok. Esta “TikTokificação” do ambiente corporativo não é um capricho geracional, mas uma mudança de paradigma na forma como empresas comunicam, treinam e gerem informação.

As empresas estão a render-se aos vídeos curtos como nova linguagem interna. Já não se trata apenas de passar informação — trata-se de captar atenção num instante. Para Forest Conner, analista sénior na Gartner, este formato não é só mais direto; é mais eficaz, mais apelativo e, sobretudo, mais inteligente em termos de tempo. A ideia de “mostrar em vez de dizer” ganhou peso real no dia a dia corporativo — e hoje, ninguém tem paciência para mais um PDF de 20 páginas.

De criadores de conteúdo a colaboradores criadores

Não são apenas os departamentos de marketing que estão a explorar este novo formato. Cada vez mais, os próprios colaboradores assumem o papel de criadores digitais, produzindo vídeos rápidos com ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA). Softwares como os da Atlassian, Google ou Synthesia estão a tornar isso possível, permitindo criar vídeos com avatares, gerar guiões instantaneamente e editar conteúdos sem necessidade de regravação.

Treino, integração e eficiência

No onboarding de novos colaboradores, os recursos humanos estão a descobrir o poder dos “Looms” — vídeos personalizados e automáticos que acolhem novos funcionários com o seu nome, função e contexto. “É uma forma mais rica e rápida de comunicar”, diz Sanchan Saxena, diretor de produto na Atlassian. Em declarações ao Computerworld. Em vez de enviar um manual seco, as empresas podem agora oferecer uma experiência de boas-vindas visual e envolvente.

O mesmo vale para formação e atualizações de projeto. Em ambientes técnicos, como equipas de desenvolvimento distribuídas, estas cápsulas de vídeo permitem manter todos informados sem paralisar a produtividade com chamadas e reuniões.

Riscos, regras e realismo

No entanto, nem tudo é simples. Ao contrário dos criadores casuais do TikTok, as empresas precisam de navegar com cuidado. A criação de conteúdo — especialmente quando gerada por IA — levanta questões legais, éticas e de branding. O conteúdo tem de ser preciso, representativo e alinhado com os valores da empresa. “As regras mudam quando se trata de comunicação corporativa”, alertam analistas.

Ainda assim, o movimento parece imparável. Ferramentas como a da Synthesia — que permite criar um vídeo em minutos com um avatar, um guião digitado e alguns visuais — estão a ganhar tração no mundo empresarial. Segundo Alexandru Voica, responsável de assuntos corporativos na empresa, a procura por soluções de vídeo inteligente está a crescer “não por ser moda, mas por necessidade”.

A transformação está em curso. E como qualquer revolução silenciosa, esta não se dá com estardalhaço, mas com eficiência. Vídeos curtos, personalizados, automatizados e estratégicos estão a redesenhar a forma como as empresas falam — e ouvem. O futuro da comunicação empresarial não se escreve apenas. Vê-se, ouve-se… e dura 90 segundos.