
O primeiro episódio do podcast “Por Mares Navegados” trouxe ao debate a relação entre tecnologia e profissões do mar, com a participação de Ricardo Póvoa, coordenador do curso de Engenharia Informática da Escola Náutica Infante D. Henrique. O docente destacou que a Organização Marítima Internacional (OMI) considera a cibersegurança uma prioridade desde 2017, após uma vaga de ataques informáticos ao setor.
Segundo explicou, ainda em 2016, a OMI publicou orientações sobre gestão de risco cibernético, que serviram de base para documentos posteriores, hoje aplicados a certificações internacionais. A cibersegurança está agora integrada no Código Internacional de Gestão e Segurança (ISM), tornando-se obrigatória para armadores e operadores.
Ao mesmo tempo, a digitalização avança a um ritmo acelerado. Plataformas como a Janela Única Logística em Portugal já centralizam processos que vão da navegação ao transporte terrestre, estando em curso esforços para integração com a futura Janela Única Europeia. Esta modernização é vista como essencial para garantir eficiência, segurança e competitividade no comércio global.
Outro ponto abordado foi a necessidade de talento. Criada em 2022, a licenciatura em Engenharia Informática e de Computadores da Escola Náutica registou uma procura quatro vezes superior à oferta logo no primeiro ano. A taxa de desistência é praticamente nula e muitas empresas procuram estudantes ainda antes de concluírem o curso.
Ricardo Póvoa salientou que o setor marítimo acompanha os mesmos desafios tecnológicos de outros setores económicos, embora adaptados ao seu contexto específico. A segurança digital, os sistemas de informação portuária, a navegação autónoma e a gestão logística intermodal são áreas com forte procura. As oportunidades de carreira são descritas como aliciantes, com remunerações elevadas e perspetivas de progressão rápida.
O responsável destacou ainda a importância de uma formação sólida, assente em conhecimento validado academicamente, antes de recorrer a ferramentas como a inteligência artificial. Para o professor, as empresas não procuram apenas operadores de sistemas, mas profissionais capazes de aplicar sentido crítico e contribuir para decisões estratégicas.
A Escola Náutica, única instituição de ensino superior náutico em Portugal, mantém protocolos com administrações portuárias e empresas do setor para estágios e projetos aplicados à digitalização marítima. Num país onde 5% do PIB depende do mar, a preparação de profissionais especializados é vista como essencial para manter Portugal competitivo e seguro neste novo ciclo tecnológico.