
O combate ao tráfico de droga em Portugal registou resultados mistos em 2024, revela o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI). Por um lado, houve menos crimes participados, menos detenções e menos apreensões em termos gerais. Por outro, cresceram significativamente as apreensões de drogas duras, nomeadamente heroína e ecstasy, reforçando os alertas das autoridades sobre a adaptação das redes de tráfico e a diversificação das substâncias em circulação.
Segundo os dados oficiais, os crimes de tráfico de estupefacientes diminuíram 28,3% e as apreensões caíram 24,7%, refletindo maior eficácia na dissuasão e repressão policial, mas também possível mudança de rotas ou métodos por parte dos traficantes. As detenções associadas ao tráfico recuaram 36,3%, resultado de uma combinação de operações mais cirúrgicas e do desmantelamento de redes locais nos últimos anos.
No entanto, o cenário é agravado pelo aumento preocupante nas apreensões de heroína (+127,7%) e de ecstasy (+138,3%), revelando uma nova vaga de introdução dessas substâncias no mercado português, com foco sobretudo em ambientes urbanos e contextos recreativos. O haxixe e a cocaína continuam a ser as drogas mais traficadas internamente, mas os dados apontam para uma estratégia mais agressiva por parte das redes transnacionais para reintroduzir substâncias pesadas no país.
O relatório identifica os portos portugueses como pontos estratégicos usados para entrada de droga, com destaque para Lisboa, Sines e Leixões, onde os grupos criminosos infiltraram trabalhadores e criaram “vias verdes” logísticas para grandes carregamentos, especialmente de cocaína vinda da América do Sul e haxixe proveniente do norte de África.
Durante 2024, foram desmantelados quatro laboratórios de produção de cocaína em território nacional, evidenciando a tentativa de instalar estruturas permanentes de transformação e distribuição da substância em solo português. Esta prática permite ocultar importações e reduzir riscos logísticos para as redes de tráfico.
A costa portuguesa manteve-se também como via preferencial para a entrada de grandes quantidades de droga mediante lanchas rápidas oriundas de Espanha, fenómeno que preocupa as forças de segurança e obriga a patrulhamento reforçado da faixa costeira, recorrendo a meios navais e aéreos.
O RASI refere que o tráfico de droga é uma das maiores ameaças à segurança interna, não apenas pelos impactos na saúde pública, mas também pela violência associada, lavagem de dinheiro e infiltração criminosa em sectores legítimos da economia. Os grupos que operam em Portugal estão muitas vezes articulados com redes internacionais, usando métodos sofisticados de dissimulação, criptomoedas e documentos falsos.
Em resposta, Portugal intensificou a cooperação com forças de segurança estrangeiras e estruturas como a Europol, Interpol e CPLP, tendo participado em operações conjuntas de interceção, vigilância aérea e infiltração em redes de abastecimento.
Apesar da redução numérica dos crimes registados, o relatório conclui que a ameaça permanece altamente ativa, com forte capacidade de adaptação por parte dos traficantes. Em 2025, o foco será reforçar a cooperação internacional e reforçar os sistemas de rastreabilidade logística, em especial nos portos e fronteiras aéreas.