A Smiledog nasceu em 2020, fruto da paixão de Nuno Santos pelos cães e da convicção no seu potencial para promover o bem-estar e o desenvolvimento humano. Tudo começou com a sua cadela, a primeira certificada como cão terapeuta por uma faculdade em Portugal, o ISEC. A experiência levou à apresentação de um projeto-piloto à Câmara Municipal de Santarém, que foi de imediato aceite, iniciando-se com cinco crianças num agrupamento de escolas local.

O que era para durar três meses prolongou-se até ao final do ano letivo e expandiu-se. Hoje, a Smiledog está presente em 16 escolas, abrangendo concelhos como Santarém, Aveiras, Porto de Mós e Alcobaça, e acompanha mais de 60 crianças por semana. Segundo Nuno Santos, o impacto tem superado as expectativas iniciais, com resultados expressivos, incluindo casos de mutismo seletivo e de crianças com perturbações do espetro do autismo que passaram a comunicar e a desenvolver competências académicas e sociais com o apoio dos cães terapeutas.

Intervenção inovadora

A metodologia da Smiledog assenta nas Intervenções Assistidas por Cães, um modelo não convencional em Portugal, mas amplamente reconhecido e recomendado em vários países europeus. Os cães são treinados para identificar cores, figuras geométricas, letras e números, permitindo que as sessões se tornem interativas e motivadoras. «Temos crianças que, no primeiro dia com os cães, falaram pela primeira vez na escola», refere Nuno Santos.

O trabalho é desenvolvido por uma equipa multidisciplinar que integra psicólogos, pedopsiquiatras, psicomotricistas e terapeutas da fala, apoiados por cães treinados especificamente para este fim. As sessões decorrem tanto em escolas como no Centro de Desenvolvimento da Smiledog, inaugurado em abril de 2024 em Santarém. Este espaço está equipado para terapias e atividades inclusivas, integrando áreas como psicologia, pedopsiquiatria, psicomotricidade, terapia da fala e nutrição.

Reconhecimento e parcerias

O projeto tem vindo a ganhar visibilidade e reconhecimento, nomeadamente através do primeiro prémio no Concurso de Empreendedorismo Social da Fundação Eugénio de Almeida. Desde 2024, a Smiledog está incubada no Centro de Inovação Social da Fundação, beneficiando de apoio na divulgação, no acesso a redes e a fundos comunitários. Nuno Santos destaca que, embora não exista apoio monetário direto, estas parcerias têm sido determinantes para o crescimento e sustentabilidade do projeto.

Apesar dos avanços, o financiamento continua a ser um desafio. A maioria das escolas participantes depende do apoio das câmaras municipais para manter as sessões, sendo que apenas uma das 16 escolas se autofinancia. Ainda assim, a procura aumenta e, segundo o responsável, no próximo ano letivo o número de crianças acompanhadas poderá chegar às 100 por semana.

Perspetivas de futuro

Com uma abordagem centrada na empatia, no desenvolvimento e na inclusão, a Smiledog quer continuar a crescer e a levar os benefícios das Intervenções Assistidas por Cães a mais comunidades. «Cada interação entre um cão e um humano pode mudar uma vida», afirma Nuno Santos, sublinhando que, mais do que uma terapia, o projeto é um instrumento de transformação social.