Na Golegã, terra de tradições ribatejanas, está a germinar um projeto que se quer transformador — não só para o concelho, mas para a região e para o país. A Fundação Mendes Gonçalves, criada por iniciativa do empresário Carlos Mendes Gonçalves, fundador da empresa de molhos e condimentos proprietária da marca “Paladin” nasce com o desígnio de prolongar um legado e construir um futuro baseado em três pilares fundamentais: “Educar, Nutrir e Regenerar”.

“Comecei esta empresa com o meu pai quando tinha 15 anos”, relembra, acrescentando que herdou dele uma preocupação: o que acontece às empresas familiares quando os fundadores desaparecem? – “A maioria desaparece. A fundação é a garantia de que o nosso trabalho continua. É a única decisão que tomei sozinho em 43 anos — doar as minhas ações à fundação”, vincou. 

Mas a missão da fundação não se esgota na perenidade da empresa. Vai muito além da continuidade empresarial: visa o desenvolvimento sustentado de um território frequentemente esquecido — o interior. “Queremos provar que é possível construir, no chamado interior, um modelo de desenvolvimento que sirva verdadeiramente as pessoas”, afirmou o fundador. “O nosso objetivo é criar aqui condições para que cada criança, cada jovem e cada adulto possa realizar os seus projetos de vida.”

Esse desígnio está materializado num dos projetos-âncora da fundação: o Centro Educativo, que ambiciona transformar a forma como se faz educação em Portugal. “Eu só queria construir uma escola”, admite Carlos Mendes Gonçalves, mas percebeu que podia fazer mais.

A liderança do projeto educativo está a cargo de Tiago Pereira, CEO da Fundação Mendes Gonçalves. Segundo ele, o centro será “um modelo educativo disruptivo” que começa por apostar na educação dos zero aos três anos — uma faixa etária muitas vezes negligenciada no país. “A qualidade da educação nos primeiros anos de vida é determinante. Em Portugal, os dados mostram níveis de qualidade muito baixos nesta fase. Queremos mudar isso”, explicou.

O Centro Educativo integrará a rede pública de ensino, mas será desenhado com base em novas metodologias, ambientes de aprendizagem flexíveis e uma forte ligação à comunidade. “Queremos inspirar políticas públicas através de bons exemplos práticos”, disse Tiago Pereira. “Não se trata de competir com a escola pública, mas de inovar dentro dela, para que todos possam beneficiar.”

A par do Centro Educativo, a Fundação Mendes Gonçalves está também a lançar o projeto de capacitação e acompanhamento de amas, uma resposta inovadora para colmatar a falta de oferta de creches no concelho da Golegã e nos municípios vizinhos. Este projeto-piloto, desenvolvido em articulação com a Segurança Social e parceiros como a Fundação Aga Khan e a Fundação Jerónimo Martins, visa formar e apoiar amas em contexto domiciliário, assegurando elevados padrões de qualidade no cuidado de crianças dos zero aos três anos. “Queremos transformar esta resposta numa referência nacional e demonstrar que, com o devido acompanhamento, é possível garantir um ambiente seguro, estimulante e afetivo fora das creches convencionais”, explicou Tiago Pereira. O modelo prevê a criação de mecanismos de supervisão contínua, formação especializada e avaliação de impacto, com vista à sua replicação noutros territórios e eventual integração como política pública.

No que diz respeito ao pilar Regenerar, a Fundação Mendes Gonçalves aposta na agricultura regenerativa como uma ferramenta de transformação do território e de resposta aos desafios ambientais. Através da implementação de hortas-floresta em escolas da Golegã e concelhos vizinhos, com atividades de enriquecimento curricular orientadas por monitores especializados, a fundação pretende fomentar a consciência ecológica desde cedo e criar uma nova geração de cidadãos com uma relação mais equilibrada com a natureza. 

O projeto foi já implantado nos terrenos da própria empresa: os pimentos usados para os picantes “Sacana” são cultivados numa autêntica floresta. Entre eucaliptos, carvalhos, e solo fertilizado com recurso a animais que passeiam pelas parcelas da plantação. Este método livrou a empresa do uso de fertilizantes e pesticidas químicos utilizando apenas a Natureza.

Conceição Zagalo, presidente do Conselho Executivo da Fundação, sintetiza o espírito da missão nos “três F’s”: fundamento, fertilidade e futuro. “Fundamento, porque partimos de uma base sólida de valores. Fertilidade, porque queremos multiplicar impacto. Futuro, porque temos a obrigação de garantir que o sonho que nos foi confiado não se esgota em nós.”

Um dos exemplos mais simbólicos do que está a ser feito na prática é a integração de refugiados afegãos na empresa Mendes Gonçalves, em parceria com a Fundação Aga Khan. “Hoje já não são refugiados, são nossos colegas. Têm casa, trabalho, filhos na escola. Reconstruíram aqui a sua vida”, contou Carlos Mendes Gonçalves.

Com um modelo de gestão inspirado em experiências do norte da Europa — onde as fundações asseguram a propriedade e visão de longo prazo de empresas —, a Fundação Mendes Gonçalves quer ser também um exemplo para o país. “Gostava que daqui a 10 ou 15 anos houvesse outras empresas portuguesas a seguir este caminho. A fundação é uma ferramenta poderosa de transformação”, afirmou Tiago Pereira.

A mensagem é clara: pensar grande, agir com proximidade e nunca esquecer o lugar onde tudo começou. “A Golegã não é interior. É o centro de uma nova forma de estar no mundo”, disse Conceição Zagalo. “Queremos ser o motor de uma sociedade melhor”, conclui.