Quem é o Hélder?

O Hélder é, de facto, um jovem com 60 anos — fez este mês 60 anos — mas tem um percurso profissional onde passou cerca de 22 anos como militar, como oficial do Exército, engenheiro, servindo em vários locais do país e do estrangeiro.

A partir de 2005, recebeu um convite para ser um dos elementos da lista candidata à sua Câmara Municipal, Mafra, como vereador. Na altura, ponderei seriamente, porque isso representava cortar com essa minha carreira. Questionei-me se fazia ou não sentido.

No entanto, durante o meu tempo como militar, sempre fiz outras coisas: fui professor na universidade, quer no Técnico, quer na Lusófona; estive também na Proteção Civil Nacional, enquanto diretor. Sempre gostei de desafios, e achei que este era mais um que eu devia aproveitar e aceitar.

Por isso, estive entre 2005 e 2011 como vereador na Câmara de Mafra. Aceitei o desafio e fui eleito vereador com várias áreas: urbanismo, proteção civil, trânsito, segurança. E criou-se aí o “bichinho” da política. Até então, não tinha ligação absolutamente nenhuma à política — até porque o meu estatuto militar não permitia.

Depois, em 2011, recebi um convite para integrar as listas à Assembleia da República, que aceitei. Estive durante dois anos no Parlamento Nacional. Foi uma experiência fantástica. Mas o meu objetivo era, em 2013, concorrer à Câmara de Mafra para presidente, já que o meu antecessor, que me tinha convidado para ser vereador, não podia voltar a ser candidato, devido à lei de limitação de mandatos.

Em 2013, concorri, ganhei e mantive-me entre 2013 e 2024 na Câmara como presidente, ganhando sempre com maiorias absolutas: 47%, 53% e 58%. Isso significa que quem votava em mim era muito mais do que o PSD — mesmo concorrendo sempre pelo PSD, sozinho, nunca em coligação. Tinha gente do PC, do PS, do Bloco e do CDS a votar em mim e nas minhas equipas. Isso queria dizer que gostavam do trabalho que era feito.

Portanto, em 2024, no início do meu último ano do terceiro mandato — ou seja, do 11.º para o 12.º ano — recebi o convite do PSD para integrar as listas ao Parlamento Europeu. Como já estava no último ano, com os projetos e obras bem encaminhados, decidi aceitar. Fui eleito deputado ao Parlamento Europeu, onde tenho estado no último ano — e tem sido uma experiência fantástica.

Não obstante, há cerca de um mês e meio, fui “desencaminhado” para ajudar Almada. Inicialmente, fiquei reticente: “Porquê eu? Porquê Almada?” O que me disseram foi: “Nós gostávamos muito de mudar o paradigma em Almada, de levar um autarca experiente — e o Hélder é o único autarca experiente que já serviu na Área Metropolitana de Lisboa. Já foi vice-presidente da AML durante os últimos 11 anos, enquanto presidente da Câmara de Mafra, e conhece também as realidades e necessidades de Almada, como um dos 18 municípios da área metropolitana.”

Além disso, Almada tem muitas afinidades com Mafra: frente atlântica, proximidade a Lisboa, os movimentos pendulares de muitos residentes que trabalham em Lisboa, os transportes, a segurança, a habitação. Uma série de pontos em comum, que foram resolvidos ou melhorados em Mafra, e que podem ser trazidos para Almada, produzindo bons resultados em pouco tempo.

Depois de muito ponderar e de visitar Almada — que eu conhecia, mas não em detalhe — vi claramente que havia uma oportunidade de ser útil e de trazer essa experiência. Abdiquei de um lugar simpático em Bruxelas, bem remunerado e não muito stressante, por um lugar desafiante: o de Presidente da Câmara de Almada, onde há muita coisa por fazer e onde, de facto, o desafio é grande.

E por isso aceitei. Porque gostei muito de ser autarca e, de facto, se há algo que me mobiliza a sair de Bruxelas, é ser autarca. E, além disso, ser autarca num local onde existe uma grande oportunidade de fazer acontecer, de mudar o paradigma, de ser útil a esta terra e a esta gente. Foi isso que me mobilizou.

No caso de ser eleito, está preparado para assumir essa responsabilidade?
Claro. Mais do que preparado. Aliás, olho para todos os outros candidatos — mesmo a atual Presidente — e considero que, em termos de experiência, não vejo nenhum que tenha sido vereador, presidente de Câmara durante tanto tempo, deputado e deputado europeu. Além disso, a minha experiência militar também é muito importante.

Portanto, salvo melhor opinião e com humildade, não vejo nenhum candidato com o saber e a experiência acumulada que eu trago para esta terra. Mas acima disso tudo há uma palavra que faz a diferença: vontade. Vontade de fazer acontecer em Almada, de mudar Almada, de demonstrar que o PSD, comigo, será o rasgar daquilo que aconteceu até agora neste território — para melhor, sem deixar ninguém para trás.

Não há almadenses de primeira e de segunda. E eu bato-me contra a ideia de que Almada é um município de segunda dentro da AML. Isso é inaceitável. “Ah, Lisboa é a capital, e Almada é de segunda…” Porquê? Porque sempre foi um município de gente menos abastada, trabalhadora?

Eu também sou filho de gente pobre. Sou filho de carpinteiro e de trabalhadores. E não foi por isso que não consegui mudar Mafra — que hoje é um dos melhores locais de Portugal para viver. E acho que posso ajudar Almada a ser exatamente isso: um dos melhores locais do país para viver.

Que balanço faz destes anos do PS à frente da Câmara de Almada?

Comigo e com a minha equipa, nós iremos ter uma nova Almada. Uma Almada aberta ao mundo, uma Almada onde todos os almadenses contem. Uma Almada limpa, uma Almada segura, uma Almada que crie emprego dentro da cidade e que não obrigue todos os almadenses — ou grande parte deles — a fazer um movimento pendular diário para Lisboa, aproveitando o que de bom existe, o que a natureza nos deu, mas também o que o homem trouxe para esta terra.

As universidades são bons exemplos do que acontece aqui e que pode ser potenciado, podendo tornar-se motor de desenvolvimento. O turismo, a costa, o interior do concelho, a zona estuarina — que está completamente desaproveitada. Como é que temos, há décadas, a Lisnave parada, à espera de melhores dias? Como é que temos tido o Cais do Ginjal, que é dos sítios mais bonitos de Almada, cheio de coisas velhas? Agora começaram a correr, a fazer demolições das barracas… Mas nós queremos muito mais. Queremos devolver aquilo à população, queremos criar economia, criar zonas de lazer, zonas pedonais onde toda a gente se sinta bem e onde seja um local de orgulho — mas não só para os almadenses.

Primeiro, os almadenses. Mas, a seguir, os lisboetas e toda a área metropolitana. Eu tenho que atrair gente. Temos 2,5 milhões de habitantes na área metropolitana que vão ver monumentos a Lisboa. O que vêm ver a Almada? Alguns poucos vêm ver o Cristo Rei, e outros vão, ao fim de semana, para a praia, para a costa. Isso é pouco. Temos de atrair mais investimento e, se quisermos, mais turistas e visitantes para Almada. Porque Almada há de ter infraestruturas únicas na área metropolitana, que nos distinguem do resto — não só culturais, mas também desportivas.

O espaço da Lisnave é um espaço com potencial brutal. Pode acolher, por exemplo, um grande parque temático — algo que Lisboa já não tem, pois o projeto da antiga Feira Popular foi condicionado. Onde há, hoje, um parque temático para a área metropolitana? Não existe. Lisboa já perdeu essa oportunidade. Almada deve potenciá-lo, porque todas as grandes capitais têm parques temáticos que atraem não só os residentes da metrópole, mas também quem vem de fora. Porque é que todos nós vamos à Disneyland Paris? Porque tem uma atração. Vamos daqui, vai gente do resto da Europa. Outros vão para Orlando, nos Estados Unidos.

Portanto, temos de trazer coisas distintivas e positivas para Almada — coisa que não tem acontecido. Tem sido mais do mesmo. Uma Almada suja, cheia de grafites de ponta a ponta. Uma Almada onde o espaço verde não acontece. Uma Almada onde os transeuntes e os peões não têm espaço para circular, porque os passeios não estão cuidados. Uma Almada onde as ciclovias começaram, mas ainda são insignificantes.

Enfim, na questão do desporto, do recreio, do lazer, da educação, da cultura… Eu diria que a agenda cultural de Almada é das poucas coisas boas que vejo e tem de ser valorizada, porque, de facto, é para manter. Eu sou um homem de cultura e gosto da agenda cultural de Almada. Mas Almada tem de ser mais cultura — e não apenas o teatro ou algumas iniciativas pontuais. Tem de ser muito mais: música, por exemplo. Fui aos Capuchos, fui à Casa da Cerca, vou a outros locais e vejo que temos uma enorme capacidade de fazer coisas de nível metropolitano. Precisamos de estar inseridos numa programação cultural metropolitana em várias áreas — e não estamos. Não estamos naquilo que é a cultura.

O que gostariam de mudar no concelho nos próximos quatro anos?

A minha primeira ação será limpar Almada. Limpar, pintar, requalificar todo o espaço público da cidade. Vamos mobilizar todas as instituições: públicas, privadas, cooperativas, religiosas, associativas, desportivas… Toda a gente vai ter de ajudar a limpar Almada. A cidade está imunda, está suja, e nós queremos limpá-la.

Os grafiteiros são importantes. Vamos arranjar espaços para eles fazerem os seus grafites, as suas obras culturais — porque têm valor —, mas não é em todas as paredes de Almada. Os almadenses têm de ter orgulho na sua cidade.

Segunda questão: mobilidade. Queremos que o Governo fale do túnel Algés-Trafaria, da terceira ponte — que também queremos que aconteça, ligando ao Barreiro. Isso ajudaria muito. Mas, a curto prazo, temos de ter mais transportes públicos dentro de Almada e de Almada para Lisboa. Não apenas os autocarros da Carris, mas também a Transtejo e a Fertagus. Esses três vetores têm de ser reforçados.

É inaceitável que os barcos da Transtejo, por exemplo no caso da Trafaria, estejam uma semana sem funcionar. Não há ferries porque estão avariados. Isto é terceiro-mundista. A Transtejo não pode continuar a tratar os almadenses como cidadãos de segunda. Os almadenses são cidadãos de primeira. Têm de ser bem servidos. Não é só o valor do passe — é também a qualidade do serviço. E a Câmara tem de intervir claramente neste ponto. Se isso não acontecer, não vamos resolver o problema da mobilidade no nosso concelho.

Terceira questão: habitação. A habitação tem três pilares. O primeiro pilar é o dos proprietários almadenses. Esses devem ser ajudados a pintar e manter as suas casas. Por isso, vamos ter um programa chamado “Almada Requalifica”, para apoiar todos os proprietários — de moradias unifamiliares ou multifamiliares — a pintar as casas, arranjar telhados, muros, paredes. Tudo bonito.

Segundo: um programa em parceria com privados para a construção de habitação a custos acessíveis — para jovens, casais jovens, famílias da classe média e média-baixa. Essa gente precisa de casa — para arrendamento ou para compra. Vamos colocar terrenos e infraestruturas municipais ao serviço desses projetos, em parceria com construtores, para reduzir o preço da habitação.

Terceiro: a questão das barracas. Almada tem sido, recentemente, destino de muitas pessoas que viviam em barracas em Lisboa, Loures e noutros municípios. Têm sido corridas desses lugares e encaminhadas para Almada. No último ano e meio, surgiram mais de 500 novas barracas em bairros informais. Isto é completamente inaceitável.

Essas pessoas precisam de ajuda. Não podem ser deixadas a viver ao relento. Mas Almada não pode ser o depósito da área metropolitana. O poder local tem falhado na fiscalização da construção de novas barracas ilegais no concelho. É inaceitável. Não se pode dizer que é um problema do Estado Central, só porque os terrenos pertencem a A, B ou C.

A Câmara — e o Presidente da Câmara — é responsável por tudo o que é construído no concelho. A não ser que o Estado Central queira construir habitação em terrenos do próprio Estado, o que é outro caso. Mesmo assim, deve informar o município do que pretende fazer. Quando privados ocupam terrenos — sejam do Estado Central, do Estado Local ou de privados — a Câmara tem obrigação de intervir. Não pode desresponsabilizar-se como tem feito até agora.

Portanto, na questão das barracas, temos de ter um pacote global, em parceria com o Estado Central, para criar habitação e resolver esse problema. Almada não pode ser o bairro social nem o bairro de barracas da área metropolitana de Lisboa.

Eu quero uma Almada de primeira. Não quero uma Almada de segunda. E o que tem acontecido é reforçar a imagem de uma Almada suburbana, a Almada dos “coitadinhos”. Em Almada não há “coitadinhos”. Em Almada há cidadãos portugueses, e eu quero que sejam todos iguais — com os mesmos direitos e obrigações, mas todos cidadãos de primeira.

Como esperam encontrar soluções para resolver o problema de quem vive em barracas ou em bairros degradados?

Sim, já disse os três vetores. Vou repetir: o primeiro vetor, que não está diretamente ligado à habitação social, é para quem já tem habitação. Eu vou fazer a devolução do IMI — ou, dito de outra forma, quem paga o IMI e recuperar as suas casas consegue ter a devolução do imposto. É um incentivo à recuperação.

O segundo é a construção de habitação para famílias jovens, ou jovens em geral, e famílias de classe média e média baixa.

Terceira, a questão das barracas. Eu, como engenheiro, tenho perspectivado — em parceria com o Estado Central — que, da forma como as coisas estão neste momento, é necessário um plano de erradicação de barracas. Eu direi para os oito anos que tenho previsto estar em Almada — porque o meu projeto para Almada são dois mandatos de quatro anos — que é possível erradicar as barracas no concelho, com o apoio do Estado Central.

Como? Através da construção em terrenos municipais e/ou em terrenos do IHRU (do Estado Central), e/ou com o aproveitamento de instalações atualmente existentes. Instalações municipais requalificadas para habitação, instalações do Estado Central — como, por exemplo, antigas instalações militares ou edifícios sem uso, como as antigas instalações das baterias de costa junto à Trafaria — e outros imóveis que existem no concelho, atualmente abandonados, onde o município é um dos principais proprietários. Quer sejam pequenas, médias ou grandes, a utilização desses espaços é essencial.

Por último, a construção modular pré-fabricada de habitações rápidas e a menores custos, em territórios do município e/ou do Estado Central.

Portanto, é uma conjugação de dois vetores: o aproveitamento do edificado existente, municipal e nacional, e a construção de nova habitação — modular, rápida, pré-fabricada, montada tipo LEGO, mas com grande qualidade habitacional.

No caso da saúde e da educação, o que esperam melhorar no concelho?

A saúde tem duas vertentes. A primeira é o Hospital Garcia de Orta, que, devo dizer, tem funcionado e presta um serviço imprescindível — com técnicos, médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e auxiliares de primeira. Mas, fruto daquilo que tem sido a sangria e a concorrência entre o público e o privado, o hospital tem vindo a perder recursos.

Nesse sentido, das reuniões que já tive — ainda ontem — com a administração do Hospital Garcia de Orta, está a ser feito um esforço grande para reforçar as equipas e, de alguma forma, repensar também a distribuição com os outros hospitais de proximidade, particularmente o do Barreiro. Há especialidades que só devem existir no Garcia de Orta, porque é um hospital qualificado, distinto e central para a Península de Setúbal, articulando naturalmente também com o Hospital de Setúbal. Estes dois são os pilares essenciais, e devemos apoiar o Garcia de Orta a robustecer os seus quadros.

A segunda questão: há uma nova unidade — o novo edifício de ambulatório do hospital — que deve avançar. O Garcia de Orta está pronto e serve-nos na perfeição, se não tiver as falhas que têm acontecido, particularmente em tempos de fim de semana e férias, com encerramentos de urgências. Dito isto, não são apenas essas urgências que importam — existem também outras lacunas que devem ser acauteladas.

Deixo uma palavra de confiança e de agradecimento à atual Direção e Conselho de Administração do hospital, porque estão a fazer um trabalho fantástico. Estou crente de que vai acontecer o que é necessário.

Segundo ponto, que diz respeito diretamente ao município: os Centros de Saúde e as USFs. Nós temos cerca de 18 mil habitantes sem médico de família, o que significa que faltam entre 14 e 15 médicos no concelho. É uma luta que temos de travar com a Administração do hospital e com a ULS, para que todos os almadenses tenham médico de família e que as USFs funcionem na perfeição.

Aproveito para dizer que não percebo como, ao fim de um ano de descentralização de competências, a Câmara ainda não assumiu a parte que lhe compete — nomeadamente, a contratação dos assistentes operacionais, cuja lista ainda não foi publicada. Em paralelo, também não foi concretizada a criação de mais uma USF no concelho, apesar de haver médicos disponíveis. A USF seria instalada no edifício Rainha Dona Leonor, que carecia de obras que não foram feitas. Como resultado, os médicos já foram para outras USFs e essa unidade não aconteceu.

Empenhar-me-ei decisivamente para que todos os almadenses tenham médico de família e para que os profissionais estejam dentro das USFs. Vou, inclusivamente, repensar o modelo do edifício Rainha Dona Leonor — onde estão quatro USFs e a unidade de saúde pública — que tem acessibilidades deficientes. Acho que esse edifício deve ser devolvido a outro fim, talvez para habitação, pois tem perfil habitacional e poderia acolher muitas famílias. Em contrapartida, as USFs poderiam ser descentralizadas para edifícios com melhores acessos, próximos de parques de estacionamento, ou construídos de raiz pela Câmara.

Os profissionais de saúde valorizam muito estar em boas instalações. E quando lhes oferecemos estruturas caducas, vetustas, mal conservadas — como este edifício — a atratividade é menor. A Câmara deve empenhar-se decisivamente, juntamente com o Ministério da Saúde, para repensar o modelo infraestrutural das USFs. Almada merece uma distribuição diferente da que existe hoje.

Por último, a questão da literacia em saúde. Esta tem muito a ver com o que as pessoas esperam dos centros de saúde, com a forma como acedem às urgências, com o entupimento que causam, com a forma como utilizam a linha SNS 24. Muitas urgências estão entupidas por falta de informação. Se fizermos este trabalho em parceria com a ULS, ajudaremos os utentes a saberem onde podem ir, a utilizar as vagas diárias que existem nas USFs para doentes urgentes, e a descomprimir o Garcia de Orta.

E, ainda, o apoio à mobilidade dos técnicos de saúde. O que é isso? Da experiência que trago de Mafra, tínhamos cerca de 14 viaturas cedidas pela Câmara, para enfermeiros e técnicos de fisioterapia irem a casa prestar cuidados continuados. Perguntei ao diretor do Garcia de Orta como estava essa questão. Respondeu-me: “Nós não temos carros para levar os técnicos a casa.” Isso é inaceitável.

A Câmara encarregar-se-á de fornecer viaturas, em parceria com a ULS, para que os técnicos tenham meios de transporte. Cada um fará a sua rota, servindo o maior número de doentes com o menor número de viaturas e no menor tempo possível. Não pode ser por falta de carros que os técnicos não vão a casa prestar cuidados

Idêntica situação aplica-se à segurança. Muitas vezes, as patrulhas da PSP ou da GNR não andam na rua por falta de viaturas, ou por falta de manutenção das existentes. A experiência que trago de Mafra é a de apoio direto do município: protocolávamos com as forças de segurança a cedência de viaturas. Em Almada, comigo, isso será uma realidade. Haverá sempre viaturas de reserva — caracterizadas com os logótipos da PSP e da GNR — para garantir a segurança no território.

Como vão combater a falta de literacia na saúde?

A literacia na saúde vai ter vários vetores. Um dos vetores é, exatamente, a escola. A melhor forma de divulgar e informar, pela experiência que nós temos, é através da escola. A literacia na saúde vai ser feita pelo município e pela ULS, mas através de uma entidade terceira, porque nem o município nem a ULS têm meios suficientes. Vamos formar formadores, para que possam ir às escolas e fazer a literacia dos miúdos.

Depois, a terceira idade: através das universidades séniores, dos lares e dos locais onde estão os séniores. E, por último, os de média idade. Os de média idade são os que menos recorrem — até porque, na média idade, é quando a saúde acontece com maior frequência — e, portanto, a malta em período normal de trabalho é a que vai menos, tanto ao hospital como aos centros de saúde. Quer os jovens, quer os idosos… e os jovens levam para os pais, são os tais de média idade. Portanto, nós conseguimos chegar aos pais através dos jovens. Vai ser desenvolvido um pacote específico para a literacia na saúde, no sentido de, como disse, informar toda a comunidade sobre onde pode ser mais rápida e melhor servida relativamente à questão da saúde.

A educação é o melhor e o maior elevador social. A educação será sempre uma prioridade — nem vale a pena referir isso — mas é para dizer o seguinte: em Almada, têm de deixar de existir alunos de primeira e alunos de segunda. Um aluno de primeira é aquele que está numa escola devidamente reabilitada, porque o PRR ou o programa com o Ministério da Educação permitiu reabilitar aquela escola. Mas, na outra escola, onde não houve dinheiro do Estado Central para recuperar, o município alheou-se de fazer a recuperação.

À semelhança do que fiz em Mafra — em Mafra nunca houve alunos de primeira e de segunda — porque, quando o Estado Central não chegou à frente, a Câmara contraiu um empréstimo na mesma hora, para recuperar as outras escolas todas onde o Estado Central não chegou. Porque qualquer ano que se perca na educação são gerações que vão sofrer, a posteriori, com essa falta de condições.

Segundo: todas as escolas têm de ter complemento. Têm de ter, para além de infraestruturas desportivas, infraestruturas de recreio, bibliotecas, parte informática, refeitórios — naturalmente — e devem ter uma componente de apoio à família, que ajude todos de igual forma. Portanto, quer o aluno que é oriundo de uma classe média-alta, quer o aluno de uma classe média-baixa, têm de ocupar a mesma escola, em iguais condições de igualdade. Eu tenho a experiência, por exemplo, em Mafra. As escolas… nós tínhamos escolas com contrato de associação e escolas privadas. E o Estado — o governo, na altura socialista — decidiu emprestar os livros à escola pública. E eu decidi que, como os alunos em Mafra eram todos alunos iguais — quer os que estavam na pública, quer na privada, quer na de contrato de associação, que o Estado também não dava — que era estúpido um Estado que tem um contrato de associação com uma escola, porque não tem condições para ter esses alunos numa escola pública, dar os livros aos alunos da escola pública, mas não dar os livros aos alunos do contrato de associação, que também paga aos professores para substituírem a escola pública, eu dava os livros também a todos eles, em pé de igualdade.

Portanto, o que eu quero na educação é nivelar por cima. Porque a educação, como disse, é a forma que eu tenho, principalmente, de ajudar os mais desfavorecidos, de lhes dar as mesmas oportunidades daqueles que têm recursos financeiros para poderem aceder a uma educação de qualidade. E, por isso, eu quero que toda a educação no concelho seja uma educação de qualidade, independentemente do estrato social do aluno.

Usam o lema “Faz Almada acontecer”. O que é que isto significa?

É muito simples: existem alguns que têm ideias. Têm ideias, fazem uns bonecos, fazem uns powerpoints, fazem uns slides, fazem umas conferências de imprensa…Eu, quando tenho a ideia, passo ao projeto, arranjo o dinheiro e passo à obra. Ou seja: os projetos veem a luz do dia, têm concretização. Fazemos acontecer as ideias, passamos das palavras aos atos. E é isso que me tem distinguido sempre. Por exemplo, aqui no hub de inovação de Almada — o Almada Innovation District — é um projeto engraçado, mas é preciso fazer acontecer. E é esse o meu compromisso, que eu trago para os almadenses: aquilo que eu anunciar, eu não lanço primeiras pedras de obras que não acontecem. Eu lanço primeiras pedras — normalmente nem sou muito de lançar primeiras pedras — mas, quando anuncio, já estou em obra. E, normalmente, as minhas inaugurações são de obras concretizadas. Portanto, não gosto muito de falar antes de ter obra a acontecer. Por isso, “fazer acontecer” é ser um operacional, um homem da ação. E mais do que palavras, são atos. Nos meus 17 anos de autarca, deve-se contar pelos dedos de uma mão as promessas que eu fiz e que não concretizei.

Falam também sobre uma Almada inovadora, sustentável e ambiciosa. Porquê? Porquê não consideram que seja isto?

Olha, uma Almada inovadora… Lá está: o facto de nós termos duas universidades em Almada, o facto de termos um potencial natural — em termos de localização, de condições naturais, quer de costa, quer de rio —, termos gente boa em Almada… Mas aquilo que é, eu direi, o destino dos almadenses, tem sido ser um município de segunda a nível nacional. Um município suburbano, dos desgraçadinhos, dos que têm que passar o dia todo nos transportes.

E, de facto, é tipo fado. O fado é um bocadinho aquela coisa do “desgraçado, sempre”. E aquilo que eu quero dizer é o seguinte: com esta terra, com esta gente, com estas universidades, com este potencial humano e natural, nós podemos fazer diferente. Se tivermos líderes que façam diferente e que puxem Almada para cima. Lá está: não há Almada dos de segunda. Temos que ser todos Almada de primeira. Como disse, criando emprego em Almada, pondo as universidades ao serviço de Almada, dinamizando o comércio, atraindo desporto de nível internacional, fazendo acontecer na frente ribeirinha, ocupando finalmente — e desenvolvendo — as grandes áreas dos estaleiros da Lisnave, que é mais um fado hilariante que está ali montado há dezenas de anos e ninguém se mexe. Há sempre uma desculpa para não fazer.

Em Almada, há sempre uma desculpa, porque os outros é que são os culpados. E aquilo que eu vos trago é: nós é que somos a mola real de Almada. Nós não precisamos dos outros. Claro que precisamos sempre, mas nós é que somos os pivôs desta questão da inovação. A inovação depende de nós, não depende dos outros. E, por isso, esta questão da desculpa permanente com terceiros tem que acabar.

A Almada sustentável… Lá está. Nós podemos fazer isto tudo também caminhando para uma Almada cada vez mais verde. E o sustentável tem a ver com os lixos. A forma como os lixos, os resíduos, tudo isto é gerido em Almada, é uma coisa de terceiro mundo. É lixo por todo o lado. É espaço público degradado. É grafite por todo o lado. Como disse, nós temos de ter uma autoestima diferente e elevada em Almada. Os almadenses têm que ter orgulho no seu território. E, por isso, esta Almada inovadora, esta Almada sustentável e a Almada — que é a terceira — ambiciosa… é isto. É: eu sou capaz convosco, e vocês são capazes comigo, de transformar este território. Nós não precisamos destas desculpas. Dou o exemplo das barracas: “Ah, as barracas estão ali num terreno que é um terreno do IHRU e esse terreno não é nosso, portanto nós não controlamos isso.” Mas o que é isto? Esse terreno não é Almada?
O terreno é de Almada. O Presidente da Câmara — seja ela, seja ele, seja o Hilo — tem que se preocupar com aquele território, que é Almada. A definição de Presidente da Câmara é o seguinte — a minha, pelo menos: é aquele, ou aquela, que se tem que responsabilizar e responder por tudo o que acontece, ou que podia acontecer, ou que deixa de acontecer no seu território. Portanto, nós somos, de alguma forma, convocados para responder por tudo. Não há exclusões. O Presidente da Câmara é um responsável de banda larga, de tudo o que acontece. Não quer dizer que não tenha que fazer também com o Estado Central — deve ser trazido —, mas é do ponto de vista de complementaridade. Ambição.

Sente que há falta de investimento na cultura em Almada? E se pretendem dinamizar a oferta cultural?

Eu julgo que, se há coisas que eu considero que, em parte, Almada tem relativamente bem, é a parte do programa cultural. Mas é muito setorial. Eu também me empenhei brutalmente no meu programa cultural em Mafra, mas acho que o programa cultural tem que abrir mais. Está muito focado na questão do teatro, alguma música, enfim, as artes performativas — muito eventualmente até por afinidade com aquilo que era também a atividade profissional da Senhora Presidente.

O investimento na cultura é dos investimentos mais reprodutivos que eu conheço, e por isso eu irei dar sequência às coisas boas que estão em marcha atualmente, levadas a cabo pela atual presidência, mas irei ampliar — e muito — em novas áreas no programa cultural de Almada.