
O cenário considerado foi de um "aumento de 25 pontos percentuais das tarifas impostas pelos EUA, em particular, sobre os bens importados da União Europeia (UE), acompanhado por uma retaliação de igual magnitude por parte dos países afetados", segundo o Boletim Económico de março divulgado hoje.
Para a Zona Euro, este aumento das tarifas "poderá resultar numa contração acumulada do Peoduto Interno Bruto (PIB) da área do euro entre 0,5% e 0,7% ao fim de três anos, com um impacto mais significativo no primeiro ano".
Já para Portugal, o impacto global dos choques considerados neste cenário aponta para uma "redução cumulativa do PIB em torno de 1,1% no final de três anos, com os efeitos concentrados nos primeiros dois anos".
O governador do BdP, Mário Centeno, explicou na apresentação deste Boletim que o impacto em Portugal pode aproximar-se de um ponto percentual a menos no crescimento em 2025.
O impacto estimado na variação anual do PIB português é de -0,9 pontos percentuais (p.p.) em 2025, -0,4 p.p. em 2026 e 0,2 p.p. em 2027.
O BdP explica que os resultados são semelhantes, já que o peso dos EUA nas exportações portuguesas de bens (6,8%) é apenas ligeiramente inferior ao peso no comércio intra e extra da área do euro (8,2%).
O Banco Central Europeu (BCE) também alertou hoje que a imposição dos Estados Unidos de tarifas de 25% sobre importações europeias pode reduzir o crescimento da zona euro até 0,3 pontos percentuais no primeiro ano e aumentar a inflação.
Esta estimativa foi apresentada pela presidente do BCE, Christine Lagarde, perante a Comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu.
Se a União Europeia (UE) responder aumentando as tarifas sobre as importações dos Estados Unidos (EUA), este impacto aumentaria para cerca de meio ponto percentual, acrescentou a presidente do BCE, insistindo que estas estimativas estão sujeitas a uma "considerável incerteza".
Neste cenário, a perspetiva de inflação seria também "significativamente mais incerta", e o BCE estima que, no curto prazo, a retaliação da UE e uma taxa de câmbio do euro mais fraca --- resultante da menor procura de produtos europeus nos EUA --- "poderiam aumentar a inflação em aproximadamente meio ponto percentual".
Christine Lagarde explicou que o efeito seria atenuado a médio prazo, uma vez que a atividade económica mais fraca reduziria as pressões inflacionistas, sublinhando que o impacto das tarifas poderá não ser linear devido a uma reconfiguração das cadeias de abastecimento globais.
"É claro que o elevado nível de incerteza política exige que nos mantenhamos vigilantes e prontos para agir para proteger a estabilidade de preços", disse durante a sessão em que os eurodeputados lhe pediram para abordar o impacto da guerra comercial.
A presidente do BCE realçou que a mudança nas políticas de Washington conduziu a níveis "excecionalmente elevados" de incerteza sobre a direção da política comercial, sendo que a zona euro está "particularmente exposta" a alterações nestas políticas.
A responsável considerou, no entanto, que a resposta europeia deveria ser "mais, não menos, integração comercial" com parceiros tanto de fora como de dentro da própria UE, e sublinhou que a análise do BCE sugere que uma maior integração com o resto do mundo "poderá mais do que compensar as perdas sofridas pelas tarifas unilaterais, incluindo retaliações".
Em relação à política de taxas de juro do BCE, Lagarde insistiu que o banco central "está determinado a garantir que a inflação estabiliza de forma sustentável na sua meta de médio prazo de 2%", mas não pode comprometer-se antecipadamente com uma trajetória de taxas específica, especialmente nas atuais condições incertas.
MES (MPE) // MSF
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