
Nas ruas de Paris, os nomes Banque Populaire e Caisse d’Épargne são presença habitual nas fachadas de bairros antigos e novos, mas poucos fora de França conhecem o nome que os une: Groupe BPCE. Discreto, robusto e estrategicamente cooperativo, este é o segundo maior grupo bancário francês e um dos que mais cresceu na última década. Agora, deu um novo passo: entrar em força no mercado português através da compra do Novo Banco.
A história do BPCE começa em 2009, ano em que a crise financeira global ainda fazia estragos. Foi nesse contexto que a fusão entre duas redes históricas do mutualismo francês, a Banque Populaire e a Caisse d’Épargne, deu origem a um colosso financeiro com ADN cooperativo. A nova estrutura foi desenhada para ser resiliente, com um equilíbrio entre retalho, banca de investimento e seguros. Nascia assim um grupo com ativos hoje superiores a 1,5 biliões de euros, receitas que ultrapassaram os 25 mil milhões em 2022 e mais de 100 mil colaboradores espalhados pelo mundo.
Ao longo dos anos, o BPCE foi reforçando a sua presença em diferentes áreas de negócio. Detém, por exemplo, a Natixis, braço de banca de investimento e gestão de ativos, bem como marcas como a Banque Palatine e a Casden. Mas apesar da dimensão, manteve-se fora dos grandes títulos dos media internacionais. Até agora.
Em 2024, sob a liderança de Nicolas Namias, o grupo traçou um novo rumo: o plano “Vision 2030”. Com ele, vieram metas concretas: atrair dois milhões de novos clientes, alcançar lucros anuais de cinco mil milhões de euros e reduzir os custos operacionais. A aposta recai, entre outras áreas, na digitalização do serviço, no reforço da área de seguros e numa nova ambição internacional. E é aqui que Portugal entra.
Em meados de 2025, o nome BPCE começou a circular discretamente na imprensa portuguesa. A razão? O grupo francês surgia como o principal interessado na compra do Novo Banco, então detido pela Lone Star. Apesar da concorrência do espanhol CaixaBank, a proposta dos franceses rapidamente ganhou vantagem, não só pelos números, mas também pelo contexto político. O Governo português, pela voz do ministro das Finanças, mostrou reservas quanto a uma eventual “espanholização” do setor. E o BPCE, sem operação bancária direta em Portugal, surgiu como um parceiro neutro, sólido e sem histórico de conflitos regulatórios.
A operação, agora fechada, valoriza o Novo Banco em cerca de 6,4 mil milhões de euros, uma das maiores transações bancárias de sempre no mercado português. Se for confirmada, marcará a entrada do Groupe BPCE num país onde já tem presença indireta através da Natixis, que opera um centro tecnológico no Porto com 2000 empregados. Mas mais do que um movimento tático, esta compra é vista como um símbolo: o BPCE está pronto para jogar em arenas novas, mantendo o estilo que o tornou respeitado: estabilidade, discrição e crescimento sustentado.
Por detrás desta transformação está Nicolas Namias, CEO desde 2022. Com uma formação que inclui a ENA, Sciences Po, ESSEC e Stanford, Namias é um tecnocrata à moda antiga, mas com pensamento estratégico moderno. Em apenas três anos, liderou o grupo através de novas aquisições – como a compra da Société Générale Equipment Finance por 1,1 mil milhões de euros – e acordos estruturantes, como a joint-venture em gestão de ativos com a Generali, avaliada em 1,9 biliões. Em junho de 2024, apresentou publicamente o “Vision 2030” e assumiu a presidência do conselho da nova entidade pan-europeia. A reputação que ganhou foi de prudente, mas ambicioso, alguém que escolhe os seus movimentos com rigor, sem pressa, mas com clareza.
Num setor marcado por instabilidade e ciclos curtos de liderança, o Groupe BPCE destaca-se por resistir ao ruído. A sua força está na consistência, quer nos resultados (crescimentos consecutivos nas áreas de banca de investimento, seguros e financiamento especializado), quer na estrutura acionista, baseada no mutualismo. Não tem acionistas de curto prazo, nem se move por impulsos. Move-se por estratégia. E a entrada em Portugal, se se confirmar, é uma extensão lógica disso mesmo.