A especialista em percussão e fundadora do Projecto Percussão Angola, Cassilva, vai participar na Residência Artística e Afirmação Cultural, a decorrer em Moçambique entre 20 de Agosto e 14 de Setembro deste ano.

Trata-se de um projecto que visa realizar investigações e recriações contemporâneas, conduzidas por jovens mulheres, de manifestações artísticas que ocorreram durante o processo de libertação colonial nos países africanos de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), bem como em Timor-Leste e nas lutas antifascistas ocorridas em Portugal.

Em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, a percussionista, artista, produtora e conceptora de projectos culturais sustentáveis disse que representar Angola nesta Residência é uma responsabilidade profundamente significativa.

“Significa levar connosco a voz da nossa ancestralidade, a força das nossas raízes e a vitalidade da nossa criação contemporânea. É ser ponte entre o passado e o futuro, entre o local e o universal, reafirmando que a cultura angolana é viva, pulsante e capaz de dialogar com o mundo”, salientou.

A artista disse que o seu contributo será, sobretudo, através da percussão e das sonoridades tradicionais de Angola, que carrega como herança e como pesquisa artística.

“Levo também a minha visão de cruzar tradição e contemporaneidade, trazendo a percussão não apenas como ritmo, mas como narrativa, como linguagem de memória e resistência. Além disso, levo a minha experiência em projectos culturais sustentáveis, acreditando que a arte deve ter impacto não apenas estético, mas também social e comunitário”, contou.

Cassinda espera que esta residência seja um espaço de verdadeira partilha, onde cada artista possa aprender, ensinar e transformar-se com a experiência colectiva, almejando regressar não só com novas criações, mas também com parcerias duradouras, redes de colaboração e uma visão mais ampla sobre como se pode  fortalecer a identidade cultural dos países lusófonos.

Questionada sobre a avaliação que faz sobre o estado actual da indústria artística, cultural e criativa nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, a artista acredita que estar perante uma indústria cheia de potencial e riqueza, mas ainda fragilizada por limitações estruturais, falta de investimento e ausência de políticas culturais consistentes.

“Apesar disso, a resiliência e a criatividade dos artistas dos PALOP têm sido extraordinárias, fazendo nascer projectos inovadores e uma afirmação cada vez mais visível no panorama internacional”, reforçou.

Defende ainda a criação de políticas públicas que reconheçam a cultura como sector estratégico, o investimento em formação e capacitação dos artistas, e a construção de redes sólidas entre os nossos países.

“Precisamos também de aproximar a cultura da economia, mostrando que as Indústrias Culturais e Criativas não são apenas expressão artística, mas também motores de desenvolvimento sustentável. E, acima de tudo, precisamos de acreditar que a nossa identidade cultural é uma das maiores riquezas que temos para oferecer ao mundo”, concluiu.

O projecto Resistência e Afirmação Cultural (RAC) é uma iniciativa PROCULTURA, financiada pela União Europeia e gerida pelo Instituto Camões. A coordenação do projecto em Angola caube ao Elinga Teatro.

Durante o programa, Cassilva irá colaborar com criadores de diferentes áreas artísticas, partilhando a sua experiência como intérprete, investigadora das sonoridades ancestrais angolanas, percussionista e outras.