As emissões de gases com efeito de estufa (GEE) da cadeia de valor dos bancos, as denominadas emissões de âmbito três, podem representar cerca de 90% na pegada carbónica destas instituições, refere António Carmona, responsável da Direção de Financiamentos ESG do BPI. No processo de descarbonização dos bancos, “o grande desafio são as emissões ao longo da cadeia de valor, composta por fornecedores e clientes. Na banca, podem pesar mais de 90% na pegada carbónica. Isto significa que há uma íntima relação entre descarbonização das empresas e os objetivos do banco”, referiu o gestor na conferência “Descarbonizar a Economia: Competitividade Estratégica e Financeira”, promovida pelo GRACE – Empresas Responsáveis, que decorreu, nesta quinta-feira, no BPI All-in-One, em Lisboa. António Carmona referiu que, por isso, os bancos “são os principais interessados na descarbonização dos clientes”, pelo que devem “assessorar e acompanhar as empresas em todo o processo, principalmente as PME”. Defendeu que “os bancos podem ser parceiros fundamentais nesta jornada da sustentabilidade. Estamos todos no mesmo barco e só com soluções conjuntas e globais conseguiremos ultrapassar a situação”. Nesta linha, o gestor do BPI criticou ainda a saída recente de vários bancos norte-americanos da Net Zero Banking Alliance (NZBA), sublinhando que, tal como referiu António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, estes bancos “optaram por se situar do lado errado da história”.

No mesmo painel, Susana Antunes, diretora de ESG do Santander Portugal, salientou que “os riscos ambientais são cada vez mais uma necessidade a incluir na avaliação” das empresas. Por isso, os bancos “também têm de fazer o aconselhamento dos clientes e não só financiar”. Destacou, por isso, que, para além de existirem várias ferramentas que ajudam nesse processo, é preciso apostar na formação das pessoas. “Estes temas são complexos, técnicos e científicos e a maioria das pessoas não está preparada”, referiu. Por isso, acrescentou, “é preciso apostar na formação. Tem que haver um scale-up em termos de conhecimentos para abordarmos estes temas de forma correta”.

Neste âmbito, Ana Gouveia, ESG Lead da SIBS, destacou a utilidade da plataforma SIBS ESG, lançada em junho de 2024 para simplificar a gestão da informação de sustentabilidade das empresas. “Tudo isto foi montado para tornar mais fácil a compreensão destes temas paras as empresas. Acreditamos que consiga que Portugal tenha um crescendo de maturidade ESG”, referiu na conferência. Ana Gouveia sublinhou ainda que se trata de uma iniciativa única no universo europeu. “A forma como os bancos se juntaram para unificar como empresas fazem reporte ESG é singular”, referiu, concordando também que falta conhecimento sobre sustentabilidade. “Há uma falta de conhecimento generalizado em todo o mundo e nada está estabilizado na regulamentação”, referiu. Porém, defendeu que não se pode ficar parado e que “o ponto de partida é a formação. E depois a ativação de programa e ações na empresa para melhorar o status quo nestas áreas”.

Por fim, João Mestre, diretor da Divisão de Sustentabilidade da Fidelidade, salientou o entrelaçar de dependências entre bancos e seguradoras nestas matérias. “Nenhum banco empresta dinheiro a uma empresa se esta não tiver seguro de risco de incêndio. O seguro é uma proteção”, referiu. Chamou também a atenção para o facto de as tarifas de seguro terem muitos derivados na hora de fazer o ‘pricing’. E deu como exemplo o facto de se promover a adoção de carros elétricos, mas estes têm mais sinistralidade, aumentando o prejuízo. “Então, como calcular o preço do seguro? Há muitas variáveis a ter em conta na formulação do preço do seguro”, sublinhou.