O Benfica é segundo lugar no campeonato. O número 2 arranca aí e marcou, de forma mais ou menos evidente, a vitória do Benfica diante do Moreirense (3-2). Para o bem e para mal.

Desde logo porque o Benfica cortou dois pontos ao Sporting. O campeonato vai longo e, numa temporada marcada pela instabilidade partilhada por todos os clubes em Portugal, e por séries de maus resultados a travar momentos positivos, pelo que qualquer previsão sobre o futuro não passará de futurologia. A jornada era importante, pelo Clássico, e o Benfica não só ganhou dois pontos ao Sporting, como também os ganhou ao FC Porto.

A nível individual, foram dois os golos marcados por Vangelis Pavlidis. O avançado grego está no melhor momento da temporada no que diz respeito à relação com a baliza. Se antes precisava de muitos lances para fazer um golo, agora basta uma pequena oportunidade para fazer a diferença.

Continua a ser importante na ligação, especialmente numa altura em que, em virtude da projeção dos laterais e do posicionamento mais interior dos extremos ganha apoios mais próximos com quem combinar e ligar. Entre a falta de sorte, a incapacidade de aparecer no sítio certo e o posicionamento mais afastado da baliza – além de uma ou outra imprecisão – se justificavam as várias oportunidades falhadas e os jogos a zero que estão a ir desaparecendo. Conciliar a vertente mais relacionista com os colegas com a veia goleadora permitirá ao Benfica crescer na temporada.

Dois foram também os reforços que se estrearam na Luz. O mercado do Benfica tem algumas questões – que serão abordadas mais à frente – mas é sempre importante diferenciar o que é assertividade na abordagem ao mercado, no que é a qualidade do jogador. Pensando no plantel do Benfica, a contratação de Bruma não era a mais necessária. Não significa, no entanto, que a qualidade do português deva ser minimizada.

Ao Benfica faltou saber gerir a bola de outra maneira para ganhar algum conforto e dosear os momentos de sair curto – e aí faz falta aproximar os setores e jogadores em campo – com a procura de uma saída mais direta. Aí, Bruma poderá ser um jogador interessante, gozando de um contexto semelhante ao que tinha em Braga para ferir os adversários, com campo aberto para correr e uma capacidade crescente para definir melhor.

Andrea Belotti também se estreou, no mesmo contexto do extremo português, e mostrou ter mais dificuldades neste contexto. O italiano tem um perfil mais impositivo perto da área que longe desta, um pouco à semelhança de Arthur Cabral (embora com características diferentes). Nunca será um jogador para segurar bolas no meio-campo, ou aguentar no corpo e esperar pelos colegas, e ainda ficará em espera um contexto de bloco baixo para perceber o real impacto que o jogador poderá ter no plantel do Benfica.

Numa nota triste mais triste – e possivelmente determinante na temporada das águias – foram dois os jogadores que, não só saíram lesionados, como o fizeram de maca, vislumbrando um joelho dorido e ferido, o que nunca é bom sinal. Manu Silva, principal reforço do mercado do Benfica (por ter um perfil mais seguro com bola, de médio construtor e pensador que faltava no plantel) e Alexander Bah, único lateral direito de raiz no plantel saíram lesionados. As consequências só serão conhecidas quando o tempo de paragem for também revelado, mas as primeiras indicações não são boas. E é aí que entram mais dois números dois.

O número 2, habitualmente associado ao lateral direito, foi uma posição negligenciada pelo Benfica no mercado de janeiro, mesmo só contando com Alexander Bah (de origem) para a posição. Tomás Araújo tem sido usado com frequência sobre esse lado e, o que não teria problema se houvesse um clone do defesa no plantel, permitindo-lhe atuar simultaneamente como central e lateral, causa mais transtorno quando obriga a ter em campo todos os centrais de raiz – e provas dadas na equipa A – e nenhum construtor puro. Leandro Santos poderá ganhar espaço, mas é no mínimo curioso – e questionável – não ter chegado um reforço para o lado direito no plantel.

É também a segunda vez consecutiva que o Benfica vence por 3-2, em jogos com roteiros semelhantes, em que as águias acabaram por ser incapazes de gerir uma vantagem de dois golos. Neste cenário, Manu Silva poderia ter um papel fundamental. Não é um gestor de ritmos e de timings puro, mas um jogador capaz de acrescentar segurança, conforto e critério no passe, características que, em simultâneo, não abundavam no plantel do Benfica. Sem o português – confirmando-se naturalmente o pior cenário – as águias poderão regressar ao passado apenas com um vislumbre de futuro. Cabe a Bruno Lage encontrar outra maneira – mais coletiva que individual – de trazer essa segurança ao Benfica, para evitar o 8 ou 80 que tem marcado a época dos encarnados.

BnR na Conferência de Imprensa

Bruno Lage: Falta ali uma pergunta de futebol. Vamos ali, que aquele amigo tem uma pergunta. Eu estava à sua procura na antevisão. Você não faz antevisões, já vi. Andei à sua procura para falarmos um pouco de futebol na antevisão.

Bola na Rede: Vamos então falar de futebol.

Bruno Lage: Apareça. Será sempre bem vindo.

Bola na Rede: Combinado, boa noite! Este é o terceiro jogo consecutivo na Primeira Liga em que o Benfica sofre golos a partir de saídas de trás.

Bruno Lage: Malandro. Você vai falar-me dos golos. Diga lá.

Bola na Rede: Também faz parte.

Bola na Rede: Também faz parte. Embora todos os golos com características diferentes, pergunto-lhe que justificações encontra para este facto e taticamente onde é que o Benfica pode crescer na 1ª fase da construção.

Bruno Lage: Primeiro é continuar a trabalhar. Segundo, acho que é importante você tocar nesse ponto. Nós temos de entender o momento do jogo, o problema está em entender o momento do jogo e perceber como o adversário está. Foi o que acabei de responder à pergunta de futebol da CMTV. Sentir que se o adversário dá passos em frente e está a condicionar-nos, nós temos de ser imprevisíveis na nossa construção. Naquele momento, a nossa intenção era tentar provocar uma bola em profundidade ou uma bola na frente para segurar, jogar de apoio e procurar o corredor contrário. Com o resultado seguro, de 3-1 podíamos ter feito isso dessa maneira. Mas uma equipa grande, com a qualidade dos nossos jogadores, tem de continuar a sair por trás, a jogar bem. Isso dá-nos segurança no nosso jogo. É perceber o momento do jogo, em função do resultado, do tempo que falta e da forma como o adversário pode vir para nos pressionar e deixar situações de posicionamentos na linha defensiva de 1X1.

Bola na Rede: O Moreirense procurou muitas vezes pressionar mais alto o Benfica, acabando por inevitavelmente deixar algum espaço para aproveitar, principalmente à largura, com os laterais do Benfica a chegar muitas vezes sozinho. Que balanço faz da estratégia escolhida para este jogo?

César Peixoto: Eu acho que a estratégia foi bem escolhida. Nós sabíamos que íamos ter dificuldades nalguns momentos. O Benfica em muitos momentos fica com os dois centrais e os dois médios e depois projeta os laterais ao mesmo tempo, com os extremos por dentro. Sabíamos que tínhamos de bascular rápido e corríamos esse risco, principalmente nos momentos em que o Benfica nos empurrava mais abaixo. Tentámos sempre crescer cada vez que a bola vinha para trás, subir e obrigar o Benfica a jogar para trás e não ficar muito tempo ali na zona baixa a defender. Caso contrário, com o Benfica a ir a um lado e a outro, a equipa ia cansar-se mais e acabar por abrir um buraco. Acabou por não acontecer muito, o Benfica não criou muito. É normal o Benfica ter tido mais bola, mesmo assim a percentagem de posse de bola é muito equilibrada. A equipa soube estar baixa e organizada quando esteve que estar, média também, agressiva e a obrigar a jogar para trás, e soube pressionar alto quando teve que o fazer. Recuperou muitas bolas, obrigou o Benfica a jogar direto ou por fora. A estratégia foi bem delineada e eles cumpriram à risca. Falhámos lances claríssimos dentro da área na primeira parte, também na segunda. Fizemos um grande jogo que não nos adianta de nada em termos pontuais, mas é a prova de que a equipa tem capacidade para lutar de igual para igual seja com quem for, em que campo for. A equipa acreditou muito na estratégia que acabou por surtir efeito. Infelizmente, o resultado não foi o que nós queríamos.