Portugal apurou-se novamente para a final four da Liga das Nações, depois de ter vencido na noite de domingo a Dinamarca por 5-2, na segunda mão dos quartos de final da competição (5-3 no agregado). Algo que se pode afirmar em relação a este encontro, é que os lusos foram tremendamente superiores ao jogo da primeira mão, em Copenhaga. A missão tampouco era complicada, já que os comandados de Roberto Martínez pouco ou nada fizeram no jogo da quinta-feira passada, onde saíram derrotados por 1-0, quando poderiam ter perdido por uma diferença substancial de golos.

O selecionador realizou algumas mudanças no onze inicial. Bernardo Silva entrou para o meio campo, de modo a cumprir o jogo 100 por Portugal (a justificação apresentada para a sua titularidade não faz qualquer sentido) e Francisco Conceição foi o eleito para atuar a extremo direito. Com Alvalade a rebentar pelas costuras, a seleção entrou melhor, aproveitando o bloco mais baixo da Dinamarca e até conquistou uma grande penalidade logo aos 4’. Cristiano Ronaldo não aproveitou a oportunidade e Kasper Schmeichel facilmente adivinhou para onde a bola iria. Ainda assim, a seleção não desistiu e conseguiu chegar à vantagem ainda no primeiro tempo. Joachim Andersen ‘traiu’ a sua equipa e marcou um autogolo, aos 38’.

Se a primeira parte pode ser considerada como dominada por Portugal, a segunda parte foi muito mais aberta, com a Dinamarca a procurar novamente a vantagem na eliminatória, aproveitando a falta de físico do meio campo de Portugal (João Palhinha fez falta neste capítulo). Foram quatro golos em 45 minutos, mas o momento que podemos destacar do encontro surgiu aos 81’. Francisco Trincão, geralmente pouco utilizado por Roberto Martínez, entrou em campo, num estádio que bem conhece e veio revolucionar a partida. Quando se esperava uma passagem dos escandinavos, que sempre souberam ir atrás do resultado, fez o 3-2, aos 86’, dando uma confiança enorme ao resto da equipa.

O extremo do Sporting praticamente ‘matou’ a eliminatória logo no começo do prolongamento, aos 91’, dando a Portugal uma confortabilidade que jamais conseguira nestes quartos de final. Gonçalo Ramos (nove golos em 15 jogos pela seleção) tinha entrado no final do tempo regulamentar para o lugar de Cristiano Ronaldo e voltou a fazer das suas, selando as contas do jogo. O 5-2 possivelmente não traduz o que se passou em campo, mas a Dinamarca esteve longe do patamar apresentado em Copenhaga. Portugal não foi brilhante, mas soube aproveitar a maioria das oportunidades que teve.

Roberto Martínez passou a prova, quando era certo que seria despedido por Pedro Proença em caso de eliminação. Esta vitória foi fundamental para o espanhol, que não vive uma fase positiva pela seleção e já nem consegue convencer os adeptos (o seu estado de graça já acabou, mas aprecia-se o facto de ter aprendido português e se ter ambientado rapidamente à cultura, ainda que pouco diferente da espanhola e catalã). Ainda assim, terá que ser colocado no lote dos vencedores da noite. Ousou retirar do campo Cristiano Ronaldo (ainda que tarde e a más horas), algo que poucos na história tiveram a coragem e fazer. O avançado do Al Nassr marcou um golo, mas o resto da sua exibição foi pobre. Além da grande penalidade desperdiçada, a conexão com os restantes colegas não foi a melhor. Passou grande parte do tempo a pedir apoio às bancadas, quando deveria estar concentrado no jogo. Tal atitude pode ser justificada pelo penálti falhado, ficando necessitado de palavras bonitas por parte dos aficionados. Gonçalo Ramos fez a diferença depois de ter entrado, num prolongamento em que Portugal jogou muito mais como equipa do que nos 90 minutos antecedentes.

Gonçalo Ramos e Francisco Trincão poderão ser considerados ‘renegados’ para Roberto Martínez, dada a pouca utilizados dos dois elementos, mas a verdade é que salvaram o selecionador de estar na lista de desemprego. É possível que a equipa técnica comece a olhar para outros nomes, diferentes dos habituais que pouco ou nada têm contribuído (Rafael Leão e Cristiano Ronaldo à cabeça), de maneira a conseguir regressar aos bons resultados de uma forma convincente e com um bom futebol, já que Portugal tem apresentado pouco perfume.

Uma última nota para Geovany Quenda. Nova convocatória, novamente zero minutos. O jovem tem apenas 17 anos e está a ser um dos melhores jogadores da Primeira Liga, mas voltou a não merecer uma oportunidade por parte de Roberto Martínez, que na conferência de imprensa pós-jogo se mostrou feliz por ver o extremo celebrar com os colegas. Não teria sido melhor para a sua evolução ter ficado a treinar em Alcochete? Se estava feliz por Portugal ter vencido o encontro, como se sentiria caso se estreasse pela seleção? Uma situação a refletir e que com esta equipa técnica vai certamente voltar a repetir-se.

A seleção nacional vai enfrentar em junho a Alemanha e não parte como favorita para a eliminatória. Apresentou demasiadas dificuldades contra uma Dinamarca que, apesar de ter qualidade, era um adversário acessível. Além disto, parte para o duelo com os germânicos sem o seu melhor central, já que Rúben Dias está suspenso por amarelo. O jogador do Manchester City tem estado longe de convencer, mas vai levar a que Roberto Martínez coloque António Silva ou Renato Veiga em campo, que ainda dão menos segurança.

O técnico está seguro até junho, no mínimo, e apenas uma hecatombe o retiraria da seleção antes da realização do Mundial 2026. Possivelmente esta vitória foi mais fundamental para o futuro de Roberto Martínez do que para o de Portugal, que poderia iniciar um novo ciclo nesta segunda-feira, liderado por Pedro Proença, que teria tempo para escolher um novo selecionador. Caso o futebol praticado continue semelhante ao desta eliminatória (os cinco golos marcados podem enganar muita gente), a Alemanha terá um lugar seguro na final four da Liga das Nações.

Portugal conta com um grande talento individual, mas continua co os problemas do passado, não conseguindo ser uma boa equipa. Os selecionadores, no seu geral, criticam a falta de tempo para trabalhar ideias, para estarem com os jogadores, mas orientar um país é totalmente distinto do que treinar um clube, onde existe um contacto diário. Ainda assim, há seleções que jogam bom futebol. Os lusos não são uma delas e são várias as vezes que parece que estão a jogar somente com 10. Roberto Martínez tem menos de três meses para tentar mudar alguma coisa. Qual a diferença para este estágio? O seu lugar não estará tremido.

Bola na Rede na Conferência de Imprensa

BnR: Apostou num meio campo com Vitinha, Bruno Fernandes e Bernardo Silva. Gostaria de saber qual era o objetivo da mudança face ao encontro da primeira mão…

Roberto Martínez: Acho que a ideia dentro do estágio era utilizar o Bernardo Silva no onze inicial em casa, utilizar a sua experiência, a sua inteligência. A ideia era que o Bruno jogasse perto do Vitinha, com o Bernardo a controlar o jogo, para poder penetrar nas zonas centrais e sem bola poder parar a parte forte da Dinamarca, que passa pela zona central do jogo. O João Neves também fez um bom trabalho, mas a estrutura e condição da equipa foram diferentes do jogo de Copenhaga, em comparação com esta partida em Alvalade. A diferença não foi a troca de jogadores. Foi mais um ajustar, ter um jogador mais acima do campo para pressionar melhor. Não é a escolha dos jogadores, mas a diferença. O Bernardo Silva tem experiência, são 100 jogos, num jogo importante, numa segunda mão que precisas de gerir o resultado isso faz a diferença.