
Houve um aroma a manhã de 24 de dezembro na 12.ª tirada da Vuelta 2025. A corrida teve um toque a expectativa, àquelas horas em que se aguarda pela festa. Houve quem se divertisse, que o Natal dá para tudo, mas a maioria do pelotão pensava nos principais momentos da quadra.
A próxima etapa levará a prova até ao alto do Angliru. É uma montanha malvada, de uma dureza que leva a que todas as formas de a descrever sejam quase eufemismo. São 12,4 quilómetros de extensão com uma pendente média de 9,8%. Há quilómetros com inclinações de 13%, de 14,7%, de 16%. Não se surpreenderem se virem ciclistas aos S's ou, até, desmontando da máquina para superarem as rampas a pé.
Na véspera deste Natal, os homens que lutam pela geral guardaram forças. Os 144,9 quilómetros entre Laredo e Los Corrales de Buelna eram exigentes, havia uma subida de primeira categoria perto da meta. Só que, com a mente no Anlgiru, Jonas Vingegaard, João Almeida, Thomas Pidcock e restantes primeiros classificados optarem por não atacar, por se centrarem nos presentes ou nas desilusões que abrir-se-ão dentro de 24 horas.
Paralelamente à disputa pela geral, o embate pela etapa foi uma festividade em si. A excecionalidade da tirada esteve na dimensão da fuga. Chegaram a ser 53 os escapados, um pelotão à frente do pelotão, composto por figuras tão diferentes como o caçador Pedersen, o trepador Landa ou o rolador Campenaerts. E dois homens da Emirates, claro, com Juan Ayuso e Marc Soler sempre cheios de vontade de partir para a ofensiva. A equipa multipolar olha sempre em todas as direções.
Na Cantábria, nas estradas do norte perto do mar, a Vuelta acordou às voltas com os protestos em favor da Palestina e o debate sobre o que fazer com a Israel-Premier Tech. Já fora do País Basco, voltaram a ver-se bandeiras em apoio à causa palestiniana, mas o clima foi um pouco menos tenso.
O pelotão da fuga agitou-se perto do fim. A Movistar tinha cinco ciclistas no grupo, uma aposta fortíssima para a única equipa espanhola do World Tour, um conjunto histórico em crise que precisa desesperadamente de alegrias. O êxito não esteve longe, já que Javier Romo apanhou a roda certa, mas bateu no poste.
O espanhol seguiu com um seu compatriota para a meta, conseguindo a dupla desfazer-se dos outros escapados. Quem era o outro? Juan Ayuso, claro, sempre agitando a prova. No sprint a dois, o talento que voa nas fugas e desaparece nas contas da geral foi o mais forte. São já três vitórias em etapas para Ayuso. Na véspera de Natal, tinha de ser um dos mais jovens do pelotão (22 anos) a celebrar. Veremos que pernas terá no Angliru, para onde João Almeida irá em segundo, a 50 segundos de Vingegaard.