
O selecionador Mário Gomes é da opinião que a mentalidade e a atitude competitiva criaram uma crença e uma química muito especial na seleção e conduziram, 14 anos depois, Portugal a nova fase final de um Europeu.
"Este grupo de jogadores tem uma química muito especial entre eles. A mentalidade e atitude competitiva coletiva é mais do que a soma das atitudes individuais. Transformar isso numa crença coletiva, digamos assim, conseguiu-se com este grupo mais do que com os grupos anteriores", explicou à Lusa o treinador português.
Ao comando da seleção portuguesa há mais de oito anos, desde 2017, Mário Gomes acredita que "o momento da carreira em que a maioria dos jogadores está" foi determinante.
"Enquanto nos primeiros grupos a maioria dos jogadores estava a caminhar para o fim da carreira, estes jogadores têm quase toda a carreira pela frente ainda, pelo menos um grande número deles", afirmou o técnico da formação das 'quinas'.
Muito importante também foi o facto de muitos jogadores "terem dado o passo de sair para o estrangeiro, ainda que não tenham ido para realidades do topo da Europa, nem realidades muito melhores que a portuguesa".
"O simples facto de arriscarem, de ficarem entregues a eles próprios, de terem que resolver os problemas deles, isso depois reflete-se na maneira como estão em campo também", pormenorizou, analisando um grupo em que a maioria atua no estrangeiro.
Tudo somado, Portugal só beneficiou: "Eu não tenho razão de queixa de nenhum jogador que tenha passado pela seleção nestes oito anos. Simplesmente, como grupo, este tem uma crença e uma ambição coletiva superior, fruto da química que há entre eles. E isso faz toda a diferença na competição".
Para chegar à fase final, repetindo 1951, 2007 e 2011, Portugal começou por ganhar o Grupo F da segunda ronda de pré-qualificação, superando, entre outras, a Bulgária, e, depois, foi terceiro no Grupo A da qualificação, atrás de Israel e Eslovénia, mas à frente da Ucrânia, sendo que se apuravam os três primeiros.
"A chave do apuramento foram, efetivamente, as vitórias. O primeiro momento importante foi a capacidade de reação da equipa depois da derrota com a Israel no primeiro jogo [70-72, em 22 de fevereiro de 2024, em Odivelas], em que perdemos por dois pontos num dia em que nunca tínhamos lançado tão mal ao cesto. Nos três pontos, fizemos nove por cento, marcámos dois lançamentos em 21", recordou o selecionador nacional.
Portugal pareceu, desde logo, complicar as contas, mas, apenas três dias depois, recolocou-se na rota certa: "A equipa reagiu no jogo seguinte e ganhámos à Ucrânia [em Riga], algo que depois, no final, se veio a revelar decisivo".
"E depois, claro, o jogo contra a Eslovénia em Almada [82-74, na terceira jornada], o facto de a equipa ter acreditado que podia ganhar à Eslovénia. Praticamente, acho que mais ninguém em Portugal acreditava que Portugal pudesse ganhar à Eslovénia. O facto de a equipa acreditar que podia ganhar à Eslovénia levou-nos a fazer talvez o nosso melhor jogo até agora", frisou.
Mário Gomes reforça que "esses foram os dois momentos chave" e diz estar "convencido" de que Portugal teria conseguido "ganhar um jogo na janela de fevereiro", que encerrou a qualificação, se tal fosse preciso para alcançar a fase final.
"Perder nunca é bom, mas houve circunstâncias muito particulares que nos levaram a não estar ao mesmo nível nessa janela, porque quando entrámos em campo sabíamos que já estávamos apurados. E, quer queiramos, quer não, na cabeça dos jogadores, especialmente para alguns deles, para quem isto era um objetivo de vida, isso fez toda a diferença", recordou.
Na fase de qualificação, Portugal, que não teve Neemias Queta -- só atuou nos dois primeiros jogos da pré-qualificação --, contou com a participação importante de três jogadores que agora não estarão na fase final, Ruben Prey, vetado pela sua universidade norte-americana, e André Cruz e Gonçalo Delgado, por lesão.
Mário Gomes disse ter pena de por não poder contar com eles, mesmo que isso tornasse ainda mais complicada a escolha dos 12 para a fase final do Eurobasket.
"O Ruben Prey deu-nos uma ajuda na primeira janela, mas ficou descartado cedo, porque a universidade onde ele está não o autoriza a vir, enquanto o André e o Gonçalo foram dois jogadores importantíssimos na qualificação, e, portanto, lamento muito não os ter, porque eles mereciam estar no Europeu, ou mesmo que viessem a não estar no Europeu, mereciam muito lutar por um lugar no Europeu".
Segundo o selecionador luso, uma das características da equipa lusa é que aparece sempre alguém a destacar-se: "A nossa equipa é muito assim, uns dias são uns, outros dias são outros, e, portanto, é sempre bom e muito importante termos todos, para além de que todos eles merecem muito estar no Europeu".
No Eurobasket2025, a formação das 'quinas' vai defrontar a Sérvia, a coanfitriã Letónia, a República Checa, a Turquia e a Estónia no Grupo A, em Riga, e estreia-se na quarta-feira (27 de agosto), frente aos checos.
Os comandados de Mário Gomes defrontam em seguida os sérvios (29 de agosto), os turcos (30 de agosto), os letões (01 de setembro) e os estónios (03 de setembro), precisando de ficar nos quatro primeiros para seguir para os 'oitavos'.
A fase final do Europeu de 2025, que será a 42.ª edição do evento, realiza-se na Letónia, Chipre, Finlândia e Polónia, entre 27 de agosto e 14 de setembro.