Caro e barato são conceitos relativos, no futebol cada vez mais. Investimentos parcos são gotas de água, já pouco contam a partir de um certo nível, como este de Champions de que falamos. E inversões aparentemente malucas podem resultar ruinosas ou resultar em jackpot. Ficar quieto é que deixou, há muito, de ser opção.

O que renderá Franjo Ivanović ainda estará por saber. Mas, pelo andar da carruagem, já está pelo menos a amortizar o investimento do Benfica, que pode chegar até aos 28 milhões de euros. É dinheiro? Claro que é. Mas logo ao primeiro jogo, uma primeira titularidade. E um primeiro golo que abriu as portas à vitória por 2-0 dos encarnados em casa do Nice, deixando o playoff da Liga dos Campeões bem mais perto. E ultrapassada essa fase, os milhões que entrarão nas contas do Benfica farão, por certo, esquecer o cheque passado pelo croata.

Para isso, falta, naturalmente, ainda uns quantos passos. Frente ao 4.º classificado da Ligue 1 da última época, Bruno Lage apostou desde logo no reforço, que foi a única novidade no onze que venceu a Supertaça ao Sporting, deixando Leandro Barreiro no banco. A presença de Ivanović, diga-se, não atenuou um dos problemas dos encarnados: a falta de um médio criativo, capaz de ligar jogo. Com o balcânico e Pavlidis quase sempre bem adiantados na 1.ª parte, o Benfica teve cedo dificuldades para chegar ao último terço, com as duas melhores oportunidades nos primeiros 35 minutos a surgirem de remates de longe, de Richard Ríos (19’, num livre) e Pavlidis (33’).

Na defesa, o Nice não descurava o seu método: ataques curtos, poucos passes até chegar à área adversária. Se inicialmente o Benfica tapou bem as linhas e concedeu pouco aos franceses, Moffi foi crescendo. Já à entrada dos últimos cinco minutos do primeiro tempo, o Benfica encontrou finalmente espaço no corredor central, com Barrenechea a lançar Schjelderup. Ao cruzamento do norueguês, Pavlidis respondeu com um remate a meias com Dante, que Diouf defendeu astutamente com o pé. Logo de seguida, Moffi apareceu pelo lado esquerdo, fez uma maldade a Otamendi, mas o remate encontrou apenas a malha lateral da baliza de Trubin.

Com poucos motivos de interesse até então, a primeira parte terminava com finalmente alguma emoção na Côte d’Azur.

Uma emoção que o Nice quis estender até ao início da 2.ª parte. Jonathan Clauss, o ala que foi sempre um dos mais ativos nos gauleses, fletiu da direita para o meio ultrapassando meia defesa do Benfica pelo caminho. Saiu-lhe mal o remate, frouxo. E praticamente na resposta, chegou o golo dos encarnados. Depois de ter tentado, com pouco sucesso, alguns movimentos similares na 1.ª parte, Dedic agarrou-se à sua capacidade de calcorrear zonas interiores, para encontrar depois Aursnes colado à linha, com espaço. O cruzamento do norueguês foi bom, melhor ainda a movimentação de Ivanović, matador, finalizando com uma espécie de carrinho, que apanhou Diouf em contra-pé. E assim se começa a fazer render um investimento.

Seriam então minutos de grande atividade para o croata, que podia ter feito mais com a boa jogada de entendimento do Benfica pela esquerda - o remate em jeito foi demasiado otimista - e logo a seguir apareceu de novo na área para finalizar após recuperação alta da equipa. Diouf fez boa defesa.

O jogo entraria então numa toada confortável para o Benfica, face ao pobre jogo do adversário. Moffi, tão ativo na 1.ª parte, desapareceu, as linhas do Benfica baixaram, mas sempre a controlar o jogo. Bruno Lage tirou Ivanović e Pavlidis aos 77’, como satisfeito com a vantagem de um golo, para já perto dos 90’ Florentino Luís atirar uma pouco usual bomba postal com destino à baliza do Nice, deixando a eliminatória muito bem encaminhada para os portugueses.

Perante uma equipa com argumentos na transição e que mudou pouco desde a última época, o Benfica não foi brilhante, mas teve a capacidade de manter a solidez defensiva, acertar alguns espaços na 2.ª parte e fazer o lado direito funcionar. Ivanović teve estreia já a dar sinais entusiasmantes, ainda que continue a faltar criatividade a um ataque que vive dos movimentos pendulares de Pavlidis e de momentos pontuais de engenho. O mercado ainda não deve ter fechado na Luz. Bater à porta da Liga dos Campeões ajudará.