Antes de mais, dois factos que são relevantes para a história deste clássico nortenho entre portistas e vimaranenses:

 O primeiro é que o FC Porto fez um notável esforço financeiro para reforçar-se, e conseguiu dar ao plantel que colocou à disposição de Francesco Farioli uma profundidade que torna o céu como limite das ambições; não obstante esta circunstância, e o inegável valor das novas unidades, os melhores jogadores na partida com o V. Guimarães foram três elementos que já estavam no Dragão, e que, qual Fénix, renasceram das cinzas com a dinâmica imposta pelo treinador italiano: Pepê, ao nível daquele que vestiu a camisola do ‘escrete’; Alan Varela, precioso na missão tática de equilibrador da equipa; e Samu que, graças à vitamina De Jong que lhe foi ministrada, encheu o campo, bisou, e revelou-se um ponta-de-lança que deve entrar nas contas de ‘La Roja’.

 O segundo passa pela agressividade dos dragões, e aqui nada como recorrer à estatística, que nos diz que a equipa azul-e-branca fez, na primeira parte, oito ‘faltinhas’, a meio-campo, para impedir a progressão do adversário, e no segundo tempo juntou-lhes outras dez, do mesmo calibre, que potenciaram, pela possibilidade de recolocação da equipa, condições para uma melhor defesa. Contas feitas, por cada falta que o Vitória cometeu, o FC Porto cometeu duas... 

Saber o que quer

Há um velho ditado que diz que «para quem navega sem rumo, nenhum vento é favorável.» Ora, já se percebeu que Francesco Farioli tem um rumo definido, baseado num 4x3x3 muito dinâmico, que facilmente passa a 5x4x1 com o recuo de Varela e dos alas, tão facilmente como se transmuta em 4x1x4x1. Esta plasticidade é importante, revela trabalho, apoia-se numa filosofia coletiva muito forte – por exemplo, ao contrário do que sucedeu com o Atlético de Madrid, Froholdt não teve evidência individual, mas foi instrumental para que a máquina funcionasse sem soluços - e é complementada com uma característica da escola italiana a que Farioli pertence, que não tem problemas em cortas as transições adversárias com faltas de baixo perfil, que não provocam muitos danos disciplinares mas reduzem as hipóteses da baliza de Diogo Costa ser visada.  

Vitória sem soluções

Para os vitorianos, seria mais preocupante se o problema que enfrentaram no Dragão tivesse a ver com as suas próprias insuficiências, que viessem a manifestar-se em jogos seguintes; mas não, apesar da vontade de Luís Pinto partir de 3x4x3 que passava facilmente a 4x5x1 ou mesmo a 4x4x2 estar bem estudada, as hipóteses de aplicação foram praticamente nulas, perante a quantidade e qualidade do futebol do FC Porto, a defender, como uma matilha, e a atacar, rapidamente, tão rapidamente que a partida acabou com mais posse de bola dos forasteiros. O Vitória é uma equipa a rever, noutro contexto, porque no Dragão foi escassa a luta que deu, em termos de disputa do resultado aos donos da casa. 

Vitamina De Jong

Esta equipa do FC Porto parece confortável no fato de corte italiano saído da ‘casa’ Farioli. E se, os já aludidos Pepê, Varela e Samu subiram exponencialmente de rendimento, jogadores como Bednerek, Freholhd ou Borja Sainz vieram dar maior personalidade e agressividade ao conjunto, o que, tudo junto, cria um resultado harmonioso, de futebol moderno, que joga e não deixa jogar, como postulava Guardiola nos idos do seu grande Barcelona. Foi assim que os dragões chegaram cedo à vantagem (12 minutos), estiveram perto de ampliar o ‘score’, aos 18, por Freholhdt, fizeram Charles brilhar aos 26, a remate de Samu, e voltaram a marcar, num golo de compêndio (32), quando foi difícil decidir qual foi melhor, se o cruzamento ‘à Figo’, de Alberto Costa, se a cabeçada ‘jardeliana’ de Samu. Aliás, no jovem internacional espanhol sentiu-se a influência de ver Luuk de Jong no banco: a forma como Samu respondeu ao repto, com dois golos e uma exibição muitíssimo conseguida, mostra caráter e capacidade de ir à luta. 

Sempre mais FC Porto

A segunda parte, num jogo sempre marcado pela homenagem a Jorge Costa que uns quantos energúmenos quiseram apoucar, sendo abafados pela esmagadora maioria dos adeptos presentes no Dragão, começou com os acordes trompetianos ‘das Antas’, do sr. Lourenço, e o mote não foi desperdiçado pelo FC Porto, forçado a mexer na equipa por problemas físicos de Martim (preocupantes) e Bednerek (musculares), mas sem deixar que os forasteiros se acercassem com perigo das redes de Diogo Costa. Com Prpic e Eustáquio o equilíbrio manteve-se, e se o 3-0 de Samu (79) deu mais verdade ao jogo jogado, o 4-0, por Eustáquio, depois de brilhante assistência de De Jong só não valeu, por off-side milimétrico do neerlandês. Referência final para o facto de Rodrigo Mora não ter saído do banco: até ao fecho do mercado é difícil perceber todas as variáveis desta equação...