Em Espanha, o jornal Marca imprimiu doze vezes a palavra “ganhar” na capa do dia seguinte ao Barcelona-Atlético Madrid. A repetição refere-se ao famoso ganar, ganar y volver a ganar de Luis Aragonés de onde urge a essência que Diego Simeone tão lealmente incorpora: não importa o meio, importa o fim.

O lance com que os rojiblancos venceram os catalães (1-2) surgiu quando Álex Baldé já só conseguia correr para trás graças ao embalo do zéfiro no topo do Montjuïc, visto que a energia para defender fora usada nas incumbências dos 95 minutos anteriores. Nahuel Molina, com reservas praticamente no máximo, locomoveu-se sobre os carris do flanco direito e encontrou a imensa presença de Alexander Sørloth no clip a inserir na pasta dos momentos decisivos.

Foi um jogo daqueles em que “é preciso ser do Atlético para perceber”, descreveu o médio colchonero Rodrigo De Paul, proprietário de uma das exibições mais hercúleas de uma noite em que a equipa da capital espanhola viveu largos períodos de abstinência à posse de bola. “Temos que sofrer para depois desfrutar muito mais”.

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A eficácia e a fechadura que Jan Oblak colocou na baliza do Atlético Madrid compensaram o sacrifício de artistas como Antoine Griezmann, a estrela que faz o que poucas estrelas fazem nos dias de minguante inspiração. Afinal, este garçon colocou-se ao serviço, atirando o seu penacho loiro ao chão para fazer desarmes ao nível da relva. É de se lhe gabar a adaptabilidade, mas depois Simeone quis mais. El Cholo colocou então Alexander Sørloth e o norueguês marcou pela quarta vez nas últimas cinco jornadas, onde, em todas elas, saltou do banco.

O ingrediente secreto nórdico deu a Simeone a primeira vitória de sempre do técnico argentino na casa do Barcelona. Assim, o Atlético subiu à liderança da Liga Espanhola, com um jogo a menos em relação aos culés. São os frutos da boa fase. Depois de serem goleados no Estádio da Luz (4-0), numa exibição que deixou o público português pouco impressionado, os rojiblancos encadearam 12 vitórias para todas as competições e estão a um triunfo de igualarem o mais longo ciclo ganhador de Simeone desde que, em 2011, se tornou treinador do clube.

David Ramos

Só nos principais reforços de verão – Julián Álvarez, Alexander Sørloth, Conor Gallagher e Robin Le Normand – o Atlético Madrid gastou mais de €110 milhões. Com o plantel bem apetrechado, a exigência aumentou. Embora o efeito das aquisições tenha demorado a sentir-se, há no número de triunfos consecutivos um sinal de evolução.

Ainda assim, nos inexplicáveis fatores que desenham tantos desfechos, há uma tendência óbvia para golos tardios. Ao todo, são já 13 as ocasiões em que, esta época, o Atlético Madrid marcou aos 90 minutos ou depois. Diego Simeone chamou-lhe a “nobreza para sofrer”. Deverá saber do que fala.