Dezembro é mês de tolerância. Pelo menos é o que defendem aqueles que acham que nos restantes meses do ano não vale a pena ser muito condescendente. Mas mesmo com o aproximar do dia de Natal, há prendas que não se entendem.

E não falamos do enésimo par de meias que aquela tia-avó teima em oferecer na noite da consoada. Isso é tradição. Até dá para sorrir. Por muito que custe à criança que, mais uns do que outros, se esforçam por cultivar.

Ora, infantilidades são aceitáveis na noite de consoada. Uma ou outra birra, não pode ser condenável. Agora num jogo de futebol? De seniores? Jogadores profissionais? Já custa mais a perceber. Principalmente quando isso tem custos elevados para uma equipa inteira.

Lucas Soares, porém, não pensou nisso ao minuto 22 da receção do Santa Clara ao SC Braga, um jogo no qual o vencedor assegurava que ia passar a noite de Natal confortavelmente instalado no 4.º lugar da Liga.

Arriscamos até dizer que o ala brasileiro não pensou em nada. E numa atitude irrefletida após uma falta inofensiva junto à linha lateral na zona de meio-campo, deitou tudo a perder para a sua equipa. O jogador reclamou com o árbitro, que lhe mostrou cartão amarelo. E não contente com isso, continuou a reclamar, obrigando Tiago Martins a expulsá-lo com dois cartões amarelos no espaço de 10 segundos. Dez segundos. Aos 22 minutos de jogo!

A partir daí, o Santa Clara que estava claramente por cima no jogo, teve de se reorganizar em campo e desceu linhas. Os arsenalistas ganharam ascendente e, com Matheus a conferir segurança na baliza depois de uma semana conturbada em que o guarda-redes dos arsenalistas esteve em foco por motivos extra-campo, a vitória começou a desenhar-se no início da 2.ª parte.

Onde já vimos este filme?

À semelhança do que foi o filme do jogo, o primeiro golo do SC Braga nasce de um lance aparentemente inofensivo. Uma bola alta disputada entre Serginho e Ricardo Horta a meio do meio-campo ofensivo do Santa Clara resultou tocou na cabeça do médio dos açorianos e… isolou Bruma. Depois, claro, há muito mérito na forma como o internacional português bateu os centrais adversários em velocidade e levou a melhor na cara de Gabriel Baptista.

Mesmo em desvantagem numérica e no marcador, a equipa de Vasco Matos não se escondeu e não desistiu do jogo. Ganhou muitos duelos e foi uma ameaça constante à baliza do SC Braga, até que outro lance aparentemente fortuito valeu um penálti aos arsenalistas. Moutinho rematou torto à entrada da área, Bruma esticou a perna para trás quase em reflexo, Sidney Lima tentou afastar a bola e acertou no pé do adversário quando a bola se perdia pela linha de fundo.

O VAR alertou o árbitro da partida, que ao rever as imagens apontou para a marca de penálti. Gabriel Baptista ainda defendeu a primeira tentativa de Bruma, mas o VAR voltou a intervir devido ao adiantar do guarda-redes dos açorianos, e à segunda o bracarense não perdoou e deu o conforto que a equipa precisava para os 15 minutos finais.

O SC Braga assegurou o triunfo e a subida ao 4.º lugar, por troca com um Santa Clara que deixou óbvias as razões pelas quais está a realizar uma época tão positiva, mantendo-se na disputa do resultado até ao fim, mesmo após a traição de Lucas Soares.

Haja tolerância natalícia!